Um

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Hotéis grandes e caros, pessoas ricas, dinheiro, luxo e tudo do bom e do melhor. O sonho da maioria das pessoas era estar entre aquelas pessoas da Elite que passavam na televisão, contudo a sorte não estava do lado da população e a grande parte vivia na Classe Média, a maioria beta. Eram felizes a seu modo, tinham o básico para sobreviver e viviam com um salário que dava pra pagar as contas e ainda guardar um dinheiro para compras no mercado ou roupas de vez em quando.

A grande maioria, a maioria beta, que tinha o direito de estudar, de trabalhar, de ir e vir sem dar satisfação a ninguém. Os betas que podiam reclamar de sua vida sem ninguém lhes lançando olhares de completo nojo ou descaso.

Infelizmente Harry fazia parte da minoria ômega e vivia em condições extremas: morava em uma rua sem saída, atrás de uma fábrica falida e abandonada, de frente para um rio onde havia o despejamento de esgoto e por isso sempre exalava um cheiro desagradável. Sua casa era a última da rua, a mais pobre, de dois andares, feita inteiramente de madeira que já estava apodrecendo e o dinheiro era apertado. Mesmo que ele morasse com seu padrinho, Severus, e os dois trabalhassem arduamente, ambos eram ômegas e viviam em condições precárias, o dinheiro que recebiam só dava para as compras do mercado e pagar a conta de luz e a de água. Eles não reclamavam, no entanto, afinal, poderia ser pior.

Harry era um bom menino, de coração puro e gentil, de aparência frágil quando estava devidamente limpo, mas como trabalhava em uma oficina quase sempre estava sujo de graxa. Os olhos eram muito verdes, brilhantes como dois faróis de luzes néon, e o cabelo era tão preto que parecia uma mancha de óleo. Se fosse mais afortunado, como seu chefe de maneira tão grosseira vivia lhe dizendo, poderia emagrecer fazendo uma dieta e tomar um banho pela primeira vez na vida. Seus colegas riam dele, todos betas, debochando do único ômega que trabalhava ali.

Era assim todos os dias. Harry acordava de madrugada para pegar cinco metrôs lotados de gente somente para estar no trabalho na hora certa. Ele aguentava toda a humilhação, xingamentos e todo resto durante todo o dia e chegava em casa por volta das nove da noite, morto de cansado. Mas tudo era compensado porque seu padrinho, Severus, lhe esperava com o jantar pronto e muito carinho, sempre cuidando dele e se importando.

Não lembrava de como foi acabar morando com Severus, mas ele lhe contou que o achara em uma cena de acidente de carro. Haviam dois corpos já queimados pelo incêndio que o carro causou ao explodir, mas milagrosamente Harry estava vivo, com a perna esquerda um pouco queimada. Infelizmente era algo que ficaria para sempre, mas, como acontecia desse pequeno, ele não reclamava. Passou a chamar Severus de padrinho desde então e começou a trabalhar aos dez anos, fazendo pequenos bicos para ajudar na situação financeira.

Morava na Rua da Fiação desde que se entendia por gente e sonhava em deixar o lugar um dia, em ganhar dinheiro o suficiente para se mudar junto com seu padrinho para uma casa mais segura, que não ameaçasse cair em suas cabeças a qualquer instante. Mas era um sonho impossível e ambos sabiam daquilo. Não iriam conseguir nada com Severus sendo professor e Harry trabalhando naquele inferno, só, talvez, dinheiro o suficiente para não passarem fome.

— Severus? — Harry se surpreendeu ao ver o padrinho sentado à mesa tomando um café forte, como ele gostava, lendo o jornal com o cenho franzido em concentração e os lábios apertados em aparente irritação. Ele deveria estar dormindo ainda, afinal, era sexta e ele não dava aulas até o período da tarde.

— Uhñ? Ah, Harry... Bom dia. — murmurou se levantando da cadeira e beijando sua testa carinhosamente. — Dormiu bem? Está com fome?

— Você não deveria estar acordado... — disse carinhosamente, abraçando o ômega mais alto. — Hoje é sexta, sabe? — Severus pareceu desconfortável, fazendo Harry morder o lábio em apreensão. Não gostava daquela expressão preocupada, cansada e abatida no rosto do homem que o criou e amou como um pai, era errado que ele se preocupasse tanto, o faria mal, principalmente com essa doença que ele tinha.

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