APRESENTAÇÃO

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As histórias sobre o Oeste são muitas, e muitas já foram contadas. Algumas, é claro, sobre a vida de quem lida com terras e gado, sobre o negócio da simples conquista daqui para ali, sobre os soldados sobreviventes voltando da guerra de secessão, e, claro, sobre os índios. Os vagões de trem, a marcha dos colonos, a construção das estradas de ferro, todas as adaptações humanas – mentais e físicas – para se viver naquele mundo diferente, sob um diferente estilo de vida. Mas, acima de tudo, as histórias sobre o Oeste são emocionantes porque nelas cruzamos com pessoas seletas, e seletas pelas circunstâncias.

Não era todo mundo que vinha para o Oeste, assim como nem todo mundo o queria fazer. Aqueles que vieram foram aventureiros, homens e mulheres de almas duronas, dispostos a arriscar tudo pela possibilidade de uma nova vida. Nenhum deles, porém, era completamente inocente para essa vida na qual ingressavam. Como sempre, os homens viam o Oeste sempre pelas lentes do otimismo e da esperança, enxergando apenas a animação, as chances inúmeras de riquezas, a vida nova. Poucos se davam conta das reais dificuldades que enfrentariam.

Mas a fronteira cuidou de todos pessoalmente. Alguns desses recém-chegados logo enfiavam o rabo entre as pernas e corriam de volta para o abrigo de casa, no Leste. Outros morriam de privações e doenças, fosse por acidentes ou disputas de um tipo ou de outro. Se você não fosse forte o bastante, ou você prosperava ou você morria – e era simples assim. Talvez por isso as histórias de fronteira sejam tão emocionantes: é porque são sobre pessoas dinâmicas, as únicas que haviam passado pelo moinho dos adventos e saído ilesas. O homem e a mulher que no Oeste chegava já era sobrevivente, eles tinham que ser. E tinham, antes de tudo, que continuar sendo.

Nada disso era fácil, e aqueles que sobreviveram o fizeram muito porque foram capazes de superar a solidão. Quando você tinha um bando de individualistas tropeçando um no outro, havia sempre a possibilidade de problemas surgirem, pois essas eram pessoas orgulhosas, seguras em si mesmas, embora aptas para ofender-se com quaisquer violações aos seus direitos ou o que eles entendiam sê-lo.

A grande maioria dos homens era honesta. Os que não eram, eram logo identificados e a sua fama corria solta pelas trilhas do gado, pelas estações de trem. Um homem com a reputação de fazer negócios obscuros ou desonestos, fosse de qualquer natureza, era logo relegado a manter transações apenas com os seus iguais. Era simplesmente uma população pequena demais, apesar do tamanho todo do país. Os homens e mulheres do Oeste não tinham segredos para esconder, exceto aqueles que já haviam trago consigo de outro lugar. Uma vez cá chegados, suas vidas se expunham como um livro aberto. Boa parte das cidades era de apenas umas poucas centenas de pessoas, e mesmo aquelas um pouco maiores eram habitadas por uma gente sempre conhecida uma da outra, na maioria dos casos.

Uma vez chegados ao Oeste, o homem ou a mulher viria logo ser conhecido pelas suas ações. Ninguém precisava perguntar nada. Ninguém apurava o que fulano já tinha feito no passado, ou quem foram os pais de beltrano. Importava apenas o que esses eram no momento, no presente. Importava se eram honestos, se tinham coragem, e se tinham feito bem o seu trabalho.

Quando um forasteiro chegava na cidade, as pessoas tendiam a ser reservadas até descobrirem quem e o que ele fora antes dali. Decerto então que esse forasteiro encontraria alguma cortesia, embora nenhuma aceitação total até ter mostrado a sua verdadeira índole e intenção. Isto porque os homens e mulheres do Oeste eram exatamente como eram. Estórias cresciam de suas ações e reações. Apesar disso, assim como as pessoas que criaram as suas histórias, o Oeste foi uma terra dura sim, mas também foi uma terra de beleza e encanto que devem sempre ser considerados em qualquer outro plano e tempo.

Nas próximas páginas estão algumas histórias contadas a partir dos movimentos de marcha para ao Oeste. As distâncias eram enormes, a comunicação era dificultosa ou tardia e muita coisa poderia acontecer enquanto um homem saía para lutar na guerra ou mesmo quando partia, junto de uns poucos caubóis, conduzindo manadas gigantescas para vender nos mercados de outras cidades.

Muitas armas foram sacadas e usadas, embora com algum cuidado, e, exatamente como os homens de hoje, também houve aqueles que não entendiam mais nada.

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Louis L'Amour

Los Angeles, Califórnia

Fevereiro de 1986

A Planície do AlemãoOnde histórias criam vida. Descubra agora