Capítulo I

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O Começo - Ano de 1782 - Reino de Omã


— Layla! — A pequena princesa ouviu seu nome ser chamado pela mãe. — Venha, querida, é hora de dormir. Me deixe pentear seus cabelos, querida. — A mãe estendeu os braços, pronta para pegar a menina no colo.— Vai me contar uma história, mama? — Perguntou Layla, com os olhinhos brilhando. — Por favorzinho...— Está bem. — A mãe sorriu, enquanto o quarto se iluminava com a luz suave das velas e o aroma de incenso preenchia o ar. — Apenas uma história e depois você fechará esses lindos olhos e sonhará com os balões coloridos que voam pelas montanhas Otomanas. — Disse, vendo a menina já sonhar acordada.Layla tinha pouco mais de dez anos naquela época e era a alegria do castelo de Omã. A princesinha de cabelos dourados passava os dias cantarolando e dançando pelos corredores adornados com tapeçarias luxuosas e mosaicos coloridos, conversando com os criados e encantando quem visitasse o lugar.Ser filha da segunda esposa do sultão lhe trouxera certos privilégios, que a irmã mais velha jamais poderia ter. No entanto, embora Safira vivesse rodeada de tantas regras, Layla sempre encontrava um jeito de divertir a irmã.— Mama, comece a contar. — Pediu ansiosa. — Conte a história da rainha Aisha, por favorzinho.A mãe riu; a inocência de uma menina daquela idade chegava a ser encantadora. Layla não via maldade em nada e costumava acreditar em tudo o que lhe contassem. Aisha, sua mãe, não era rainha, mas a história dela fascinava a princesa, que sequer imaginava que se tratava da própria mãe.— Era uma vez... — Começou a mãe, enquanto a brisa suave entrava pela janela e as sombras das palmeiras balançavam nas paredes do quarto.


1770 - 12 anos antes - Reino do Marrocos


O dia recém começava e a jovem camponesa já trabalhava no campo, recolhendo feixes de trigo sob o sol abrasador. O campo vasto e dourado se estendia à sua frente, com a terra seca e rachada. O aroma do trigo misturava-se ao cheiro terroso do solo, enquanto o calor começava a se intensificar.Naquela semana, suas tarefas haviam dobrado. A notícia de que um sultão passaria pela cidade chegou aos ouvidos de seu pai e dos comerciantes locais. Sendo a mais velha dentre cinco irmãs e dois irmãos, ela acabava fazendo o serviço mais pesado da casa.O pai sempre fora um homem rígido e devoto da religião, mas a família não possuía riquezas suficientes para que as mulheres não precisassem trabalhar. A jovem moça gostava de recolher os trigos, mesmo quando suas mãos enchiam de calos e bolhas. Ali, onde passava a maioria das manhãs, ela se permitia sonhar com uma vida muito melhor do que a que conhecia.— Aisha! — A mãe chamou com voz agitada. — Rápido, venha aqui! Deixe os trigos, temos boas notícias! Venha!A moça logo viu o sorriso de alegria da mãe e entendeu que as notícias eram realmente boas. A família tinha, além da plantação, uma pequena casa de chás que servia a maior parte do reino. Apesar das mulheres não poderem frequentar o local, Aisha e suas irmãs ficavam na cozinha, preparando os alimentos e, em raras ocasiões, ajudavam seu pai e irmãos a servir os clientes.— Mama, estou aqui. — Disse adentrando a casa após limpar os sapatos sujos de terra e feixes de trigo. — O que aconteceu?— Allah nos abençoou, habib! — A mulher exclamou, com o rosto radiante sob a luz suave da cozinha e o aroma de especiarias que preenchia o ambiente. — O tal sultão chegou à cidade e ao anoitecer virá aqui com seus soldados.— Mashalá! — Aisha exclamou, contagiada pela alegria da mãe. — Que coisa boa! Vou pedir às meninas que me ajudem a preparar as comidas mais gostosas da casa. — Disse, correndo para avisar as irmãs e pegar seu avental de cozinha.— Não! Não... Não... — A mãe negou rapidamente, o vapor da cozinha e o cheiro do jantar se misturando no ar.— Mas mamã... — Aisha parou, olhando confusa para a mulher. — Não acha que ele vai gostar da minha comida?— Aisha, escute sua mãe e vá se arrumar. — O pai interrompeu, com um olhar fixo na moça. Ela soube que não deveria mais questionar.A jovem subiu as escadas que levavam ao seu pequeno quarto, onde dividia o espaço com sua irmã Rúpia, a segunda mais velha. As paredes do quarto eram simples, mas o espaço estava arrumado e acolhedor, com uma pequena janela que dava para o jardim.— Que cara é essa? — Rúpia perguntou assim que ela entrou no quarto. — Aconteceu alguma coisa? Está se sentindo mal?— Lá! — Ela negou. — Mama quer que eu me arrume para receber o sultão... Tenho medo do que isso possa significar. — Revelou, receosa.— Não deve ser nada, minha irmã. É um sultão... Deve possuir muitas riquezas. Mamã só quer que passe uma boa impressão; devemos ser agradáveis para que ele goste de nossa casa. — A irmã deu sua opinião e Aisha respirou aliviada.— Tem razão, estou me preocupando à toa. — Disse, já em busca de sua abaya mais arrumada guardada nos baús. — Allah sabe de todas as coisas, não preciso me preocupar. — Sorriu para Rúpia, que concordou com a cabeça.O que a jovem moça de pele pálida, longos cabelos castanhos e olhos igualmente escuros não sabia era que, após aquela noite, sua vida inteira mudaria.
Ano de 1782 - Reino de Omã

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⏰ Última atualização: Aug 11, 2024 ⏰

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