A sombra do medo
O alívio foi grande quando não viu mudança alguma na cor de seu sinalizador. Difícil foi saber da alegria de Zyon, seu irmão, quando esse lhe contou que seria um dos que iria para Cadet.
Simplesmente teve que sair do dormitório ao relento, andando em meio aos flocos de neve que começavam a surgir, até chegar ao "seu" lugar, onde podia ao menos revisar seus sentimentos.
Antes de sair seu pai lhe lançou um olhar triste, mas não impediu sua saída. Ele já sabia, dizia alguma coisa dentro de Pandora.
As cores que se faziam presentes no crepúsculo, pareciam gerar um grande peso aos olhos de quem as via. Variava de um vermelho que a lembrava da primeira dor que sentira ao cortar um dedo - mas essa dor ela havia superado quase de imediato - se misturando aos poucos com um azul tão profundo que sumia entre as nuvens, trazendo um sentimento de perda já estabelecido.
Ao menos podia observar a vegetação que surgia aos poucos naquele planeta, sempre produzidas para se adaptarem ao clima, a atmosfera e a gravidade do lugar... Tal como todos ali... Ela fazia parte da criação daquele lugar, e seria assim, sempre.
-_ Se um dia eu chegar ao fim do mundo, ao fim do infinito, o que vou encontrar? - Essa era a pergunta que Pandora sempre fazia em sonho aquele homem desconhecido, quando esse a ajudava a contar as estrelas.
-_ Você verá a si mesma e será parte da verdade do mundo.
A impressão era de que não era apenas um sonho.
-_ Pandora, você já foi avisada. - O devaneio acabou mais depressa do que imaginava.
-_ Deixe para outro dia Bot. Não estou bem.
-_ Posso chamar a equipe...
-_ Apenas... me deixe aqui... já vou voltar ao dormitório...
-_ Ainda assim vou ter que relatar.
-_ Sim, eu sei. Quero um dia ver minha lista de reclamações.
-_ Com certeza verá, mas talvez já esteja privada de algo. Melhor eu ver como andam as crianças de Halt.
Ela não odiava Tespen, o seu planeta. Queria apenas respostas a suas perguntas.
As Estrelas pareciam mais tristes na noite que se erguia, ainda mais entre as nuvens. Havia algo estranho. Apenas sentia. Como sentia os fótons solares durante o dia, sentia algo emanar também daquele tanto de estrelas. Mas algo mais que incomum. Lhe transmitiam sentimentos que ninguém mais conseguiam sentir, sensações que nunca ouviu ou leu alguém relatar, por esse motivo não conseguia dar nome a eles. Apenas vinham, e Pandora imaginava o mundo em Ossö, como ele era, ou mais além, como poderia ter sido. Na mais pura realidade, talvez nunca ninguém a entenderia. Seu irmão não estaria mais consigo...
Por que deveria ser dessa forma? Seu irmão fora um dos escolhidos e ela... não podia fazer absolutamente nada.
-_ Pan, por que há coagulação de água ao redor de seus olhos?
Levou um susto a princípio, mas viu que era Mac7. Seu Android Robô favorito.
-_ Bem, são lágrimas, acho que todas as pessoas têm capacidade de deixá-las sair de seus olhos.
-_ Pessoas do seu tipo são realmente estranhas, mas se quiser, tenho uma ótima programação para piadas espontâneas. – Pandora riu da ideia. O robô em questão era pequeno demais, não chegando a seus joelhos. Sua cor amarela transmitia algo bom.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Pandora 717 - As Estrelas Chamam Meu Nome -- (Kauane C. B.)
Science FictionPandora vive em um planeta considerado perfeito. Isso a irrita, pois para ela a perfeição só existe se houver submissão, e isso é algo em que ela não quer ter. Seus pais parecem ignorar qualquer dúvida que parta dela, e os Maquins sempre então obser...