a primeira vez que te vi

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a primeira vez que o vi.
ele estava sentado na areia,
com um violão posicionado
em sua perna direita
enquanto sua mão esquerda
servia de apoio para seus dedos,
que vinham a tocar delicadamente
cada corda do instrumento,
transmitindo um som tão calmo
quanto os movimentos
lentos e repetitivos das ondas.
tudo parecia encaixar perfeitamente bem.
ele estava tão concentrado.
seus olhos estavam fechados
e sua respiração lenta,
enquanto seus pés balançavam
numa tentativa de acompanhar a melodia,
estava tão entregue a música
que era possível sentir
cada nota tocada por ele,
sua voz soou baixinho cantarolando
e mesmo sem conhecê-lo
eu me apaixonei ainda mais.
a energia emanada por ele
não podia ser explicada
nem por seres superiores.

- Ah, desculpa. - Ele sorriu, finalmente notando a minha presença. Pela primeira vez, pude notar a cor dos seus olhos e o brilho refletido por eles. Surreal. Minha cor favorita costumava ser vermelho, mas agora, tenho certeza que passará a ser azul.

- Eu estava gostando. - Sorri e ele abaixou a cabeça. - É sério, não pare por minha causa. - Pedi e sentei ao seu lado. Não me importava de parecer inconveniente ou chato, só me preocupava em saciar essa vontade incontrolável por ouvi-lo cantar. É lindo vê-lo tão entregue a música e eu, particularmente, sou fascinado por todo tipo de arte.

Ele concordou com a cabeça, voltando a repetir cada gesto descrito por mim anteriormente, e eu, obviamente, fiquei fascinado como na primeira vez.

- Seja sincero. O que você achou? - Ele perguntou assim que parou de cantar e parecia preocupado com a minha resposta... meu Deus, eu não seria nem louco de dizer um defeito sequer sobre ele. Porra, tudo estava perfeito.

- Qual o nome da música?

- Pequenas coisas. - Sorriu olhando para o violão. Apesar de inseguro, parecia realmente orgulhoso com o seu trabalho. Eu também estava, mesmo sem conhecê-lo.

- Eu achei incrível. Você é muito bom nisso. - Fui completamente sincero... Bom, na verdade, nem tanto... queria ter dito algo mais como: "Meu Deus! Você que escreveu isso? Que talentoso! Eu tô perdidamente apaixonado por você!", mas nem ao menos sei o seu nome. Ele me acharia louco.

- Obrigado. - Respondeu sorrindo e eu cheguei a conclusão de que ele precisa realmente parar de fazer isso, afinal, estava ficando cada vez mais difícil controlar a paixão precoce que surgia em mim. - E posso saber seu nome? - Perguntou e eu ri. Me perdi tanto no mundo dele que até esqueci de me perguntar como ele se chamava.

- Harry. E o seu?

- Louis. - Seus olhos se encontraram os meus novamente.

como posso descrever a sensação
desse momento?
pense em algo como...
sabe quando você mergulha no mar
e sente cada parte do seu corpo
se imergir lentamente na água?
a calmaria
a leveza
é como se sua alma pudesse se restaurar diante daquele momento,
é como se você finalmente
se sentisse completamente livre
e mesmo tendo consciência
de que esse sentimento
é extremamente precoce
é exatamente isso que eu sinto
quando sua atenção está totalmente
e completamente focada em mim.

- Você acha que terei a chance de te ouvir cantando outra vez, Louis? - O medo de levar um fora era grande, mas não tão grande quanto a minha vontade e a mínima possibilidade de receber um "sim".

Eu estava completamente atraído por ele, e nem digo isso de forma sexual, fui realmente atraído pela paixão que ele exala através da música. É estranho, mas qualquer um que tivesse o privilégio de olhar para esses olhos azuis entenderia do que eu estou falando.

- Na verdade, amanhã meus amigos e eu faremos um lual aqui na praia. Você consegue vir?

- Claro! - Nem tentei disfarçar o entusiasmo que senti pelo seu convite.

- Tudo bem. - Ele riu. - Anota seu número aí e mais tarde te mando uma mensagem falando que horas vai ser. - Ele me entregou o celular. Estava tão nervoso que por alguns segundos, esqueci qual era o meu número.

- Não esquece de me avisar. - Levantei da areia e ele sorriu concordando com a cabeça. - Tchau, Louis. - Acenei e ele acenou de volta.

Decidi sair antes que as coisas começassem a ficar estranhas. Não queria lhe causar a impressão errada, já fui inconveniente o bastante indo até lá e sentando ao seu lado como se nos conhecêssemos há anos...o lado bom disso é que pelo menos ele não parece ter se incomodado.

Fui para casa, mas meus pensamentos
ainda se encontravam na praia. Não me recordo uma única vez em que eu tenha me sentido assim. Tudo bem que não costumo ser uma pessoa difícil de se impressionar, mas tem algo nele que se conecta em mim de uma maneira jamais vista antes.

Algumas horas se passaram
esperei pela sua mensagem
e esperei
e esperei
e esperei
até perceber que, talvez,
ela não fosse chegar
me culpei por alguns minutos
repassei cada gesto feito por mim
me perguntando se exagerei
ou se o assustei de alguma maneira.

É difícil ser intenso demais. Isso assusta as pessoas. Porra, Harry, custava ir com mais calma dessa vez?

O barulho do telefone afastou meus pensamentos. Era ele.

"Oii! Sou eu, Louis."
"Amanhã na praia 19h, okay?"
"No mesmo lugar de hoje."
"Espero que você vá."

Foram quatro mensagens e as quatro vezes que o celular apitou, meu coração pareceu errar as batidas de formas diferentes. Preciso parar de ser tão ansioso e paranóico, já estava há mil pensamentos de tudo que podia ter feito de errado e na verdade, não era nada disso.

Sorri olhando pro celular durante dez minutos, até me lembrar de que ainda não havia respondido.

"Eu não perderia por nada. Estarei lá! :)"

E foi assim... que a nossa história começou.

Azul da cor do marOnde histórias criam vida. Descubra agora