welcome, Gemma!

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O vazio do quarto me assusta
não pela solidão que me remete
mas pela dor
que a sua ausência me reflete
essas quatro paredes
apesar de distantes umas das outras
parecem próximas o bastante
para me sufocar
o tique-taque do relógio
não me incomoda
cada vez que o barulho surge
é menos um segundo
que preciso aguentar longe de você
percebo que torço
para que as horas passem correndo
só pra estar em seus braços novamente
e somente quando estamos juntos
essa ânsia pra hora correr
desaparece
é que quando estou em seus braços
desejo que o relógio pare
o tempo congele
e todas as pessoas nos esqueçam
para que a gente possa ficar
apenas
vivendo
um
no outro.
*

Acordei com os barulhos insuportáveis que a minha mãe fazia na cozinha. O que há de errado com ela? Quem acorda 7h da manhã para fazer faxina?

— Mãe! — Gritei alto o bastante para que ela pudesse ouvir. — Eu quero dormir! — Completei.

Seus passos se aproximando da porta fizeram com que eu me arrependesse de ter revelado que estou acordado, agora ela vai querer bater papo enquanto eu apenas queria voltar a dormir em paz.

— Que bom que você acordou. — E teria como não acordar? Os barulhos eram tão altos que devem ter acordado até quem já morreu. — Preciso da sua ajuda. — Completou, abrindo as cortinas, fazendo com que os raios solares quase me deixassem cego.

— Pode precisar da minha ajuda daqui há duas horas e meia? — Perguntei, me cobrindo até a cabeça e fechando os olhos.

— Não, Harry. — Puxou o edredom e olhou para mim. — Sua irmã está vindo nos visitar. Temos que preparar algo. — Revirei os olhos. Eu realmente queria vê-la, mas o fato da minha mãe sempre querer preparar uma "surpresa" pra ela, me irrita um pouco. Não é como se Gemma morasse em outro país, ela apenas mora em outra cidade.

— Sozinha? — Ergui uma sobrancelha, lembrando que da última vez ela trouxe um namorado que não fez nada além de comer toda a nossa comida e tirar minha paciência.

— Não. — Respirou fundo. — Desmond também virá. — Completou, me fazendo arregalar os olhos. Não acredito que ele vai ter a audácia de aparecer aqui.

— Por que esse velho vai vir aqui? — Cruzei os braços e sentei na cama. Eu nunca vou esquecer o que ele me disse antes de partir.

— Respeito, Harry, ele é seu pai. — O argumento dela pra tentar defende-lo é completamente inválido e eu vou explicar o porquê.

— "Quando você virar homem, eu volto a ser seu pai" "Isso é só uma fase, você gostava só de meninas quando era criança" — Imitei sua voz tosca e minha mãe apenas abaixou a cabeça. Ela não costuma passar pano pra ele, não entendo porque, de repente, decidiu lhe dar uma nova chance.

— Ele se arrependeu, Harry. Quer recuperar o tempo perdido. — Eu sei que ela quer se convencer disso porque nada no mundo, faria Anne mais feliz do que ver sua família reunida, mas eu não confio nele.

— Onde ele esteve quando o pai de Theodore veio aqui? — Sem reparar, subi um pouco o tom de voz. Eu não consigo falar sobre ele sem me exaltar. — Era pro meu pai me defender, porra! Eu só tinha quinze anos. — Algumas lágrimas começaram a escorrer e ela tentou secar, mas eu virei o rosto.

— Querido... — Me abraçou e passou a mão pelos meus cabelos bagunçados. — Só pense a respeito, tudo bem? Eles só chegarão mais tarde, se você não quiser vê-lo, não o deixarei entrar. — Completou e eu assenti com a cabeça. Eu não quero ver Desmond.

Azul da cor do marOnde histórias criam vida. Descubra agora