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Sabina Pov

Minha respiração era pesada, meus dedos já estavam bancos por causa do cinto de segurança que eu tanto apertava. Minha boca já não tinha mais saliva pra engolir, nem sei se eu tinha ar ainda, eu não sentia nada além de pânico.

— Calma docinho, eles não vão pegar a gente, eu sou muito mais esperto que eles — Alegou Pepe — Vamos voltar pra casa em breve.

A fronteira do México e Estados Unidos era a mais perigosa. Na verdade era um lado ilegal, onde grupos que faziam parcerias com mafiosos e policiais corruptos ficavam. Pepe era inimigo deles, e meu grande medo era sermos pegos, se isso acontecesse... não gosto nem de imaginar.

Assim que chegamos a um lugar deserto de frente para uma cerca enorme o carro parou, olhei automaticamente para Pepe, ele olhou pra mim e sorriu, se curvando deixando um beijo em meus lábios.

— Vai ficar tudo bem mi amor — Ele se afastou e abriu a porta do carro.

— Espera! — Finalmente falei — Você vai me deixar sozinha aqui?

— Mi amor, vai demorar segundos, volto já — Ele sorriu novamente e saiu.

Fiquei boquiaberta quando vi Pepe se afastando aos poucos pra um ponto mais escuro, eu estava tentando regular minha respiração, mas sem sucesso. Pra mim podia ser importante ficar em silêncio, mas era sem necessidade, Pepe disse que era seguro.

Eu estava contando o tempo em minha mente, assim que um minuto se passou, a porta abriu. Respirei aliviada, mas ao olhar para o lado, meus olhos arregalaram ao olhar a pessoa desconhecida ao meu lado.

— Shhh — Ele sorriu, era um sorriso cruel — Se você ficar quieta, eu não vou machucar você.

Fiquei paralisada, assim como eu ficava toda vez que ia em um lugar diferente com Pepe.

Papai me avisou, ele disse que Pepe era furada, eu via o sofrimento no olhar dele ao ver que ele não podia me proteger, um homem em uma cama com câncer não pode proteger a filha de um marginal, um marginal que eu amo.

— Olha só mocinha — Ele estendeu a mão e ligou o som — Mexicanos só tem estilo assim, agitado? Quando atravessarmos a fronteira, você vai escutar novas músicas, muito melhores.

— Não — Sussurrei — Não, não, não.

— Não o que?

— Eu não vou — Digo um pouco mais alto começando a ficar desesperada — Eu preciso sair, eu não quero ir embora.

— Ei calma — Ele se aproximou e tocou no meu braço, mas foi ai que fiquei mais desesperada e comecei a me espenear — Eu falei pra ficar calma.

— Socorro, por favor eu quero sair — Tentei abrir a porta mas meus braços foram amordaçados.

— Porra, se não vai ficar quieta por bem, vai ficar por mal.

Ele me puxou pra trás e colocou algo no meu rosto, um pano com um cheiro bem forte, um cheiro que fez ficar tudo preto em um passe de mágica.

(...)

Abri os olhos aos poucos enquanto sentia algo macio em baixo de mim. Tudo era tão cheiroso, parecia que eu estava acordando de um pesadelo e tudo estava bem de novo, dessa vez eu ia escutar meu pai e não ia a mais nenhum lugar com Pepe, por mais doloroso que fosse.

A porta se abriu e um loiro magro entrou por ela, ele tinha algumas aparências com o homem da noite passada, mas ele não tinha o mesmo senso de humor, ele era mais sério.

Não foi tudo um pesadelo.

O garoto se aproximou e sentou na beira da cama, seus olhos eram azuis e sua barba era recém feita, ele era bonito, mas não tanto quando o da noite passada. Ele era cruel, mas também não superava o da noite passada.

Mexican BorderOnde histórias criam vida. Descubra agora