Minha desolação me desconforta.
Me dói, destrói, atormenta.
Faz-me arrepender por cada palavra morta.
Desfia a corda da esperança e arrebenta.
As lembranças me prendem.
Incontroláveis, vorazes, de nada dependem.
Porém, minha pouca alegria elas defendem.
Entristece-me cada momento mal vivido.
Cada gaiola fechada que não abri.
Vivendo nessa realidade agora distorcida.
Arrependo-me de cada ideia que desisti.
Outrora quisera eu viver em paz.
O egoísmo era meu trunfo - meu às.
E o mal surge quando isso se faz.
Ainda olho todas as cartas com delicadeza.
Saboreio cada palavra com gosto e desejo.
E me impressiono com tamanha beleza.
Porém, tudo isto agora é o que almejo.
Minha "vitória" foi temporária e minha derrota foi eterna.
Nada que morre pode voltar - arruma-se, reza-se e depois enterra.
E a sede de querer voltar a viver de novo nunca se encerra.
A luz nunca me pegou.
Mas, os que eu amava a viram.
Nenhum momento mais me magoou.
Do que quando acompanhei todos que partiram.
Solitário e com memórias apagadas.
Assombrado por temeridades encarnadas.
E afogado em lamentações inacabadas.
Vago por entre vales, doente e manco.
As trevas me cercam mas não me machucam.
Elas sabem que meu destino eu profano.
E observam minha ruína enquanto dela desfrutam.
Sobrevivo no limiar de uma maldição.
Enquanto tropeço no meio da escuridão.
Cada passo mostra o resultado da minha perdição.
Em meio à morte eu proclamo:
Nenhum réquiem para mim.
Já basta o sofrimento em meu âmago.
E irei descansar enfim.
Mesmo amargurado e perturbado, sim:
Vou me despedir desta terra assim
E os vermes poderão devorar meu fim.