9- Soyun

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  — Sente alguma coisa, Soyun? — doutor Kim bateu de leve no meu joelho. Outra vez.

  — Nada. — digo desanimada. Outra vez.

  — Muito bem. Como vocês dois estão se saindo? — perguntou Seokjin, tirando as luvas das mãos.

  Namjoon já ia se pronunciar, mas eu me adiantei. Não preciso mentir muito para Seokjin.

  — Péssimos. — respondo direta, e neutra como sempre. Namjoon estreita os olhos na minha direção.

  — Isso você sabe reconhecer. — ele olhou para mim. O olhar sarcástico, mas não tanto quanto eu.

  — Não sou idiota! Pelo menos sei quando um iogurte está estragado ou não. — contra ataco fria.

  — Que ótimo que estejam se conhecendo! — Doutor Kim começa, quando vê que os insultos podem piorar. Se dirige com um sorriso para mim e para Namjoon.

  Reviro os olhos.

  — Também é ótimo que já esteja na hora de eu ir embora. — conduzo a cadeira de rodas até a saída do consultório. — Até a próxima, doutor Kim.

  Namjoon me segue, segurando no pegador da cadeira de rodas.

  — Me solta. — ordeno. Minhas orelhas começam a esquentar, mas ele nem se move enquanto seguia até a saída. — Eu mandei me soltar.

  — Soyun, você não gosta de mim, isso está claro. — ele comenta. Seguro o ímpeto de revirar os olhos. Ele já ia completar, mas eu me adianto:

  — Ah, não diga! Você descobriu isso sozinho? Parabéns! — digo irônica, enquanto mexo a cadeira para ele me soltar. Mas algo acontece, fora doa meus planos.

  A cadeira se solta de sua mão. Mas em direção ao declínio, que dá em direção às escadas. Tento pará-la, mas não consigo. Arranho as minhas mãos, ao invés disso. Droga.

  Fecho os olhos com força tentando forçar minha respiração, me preparando para o que estava por vir. Eu vou sofrer uma queda feia.

  Segundos. Não, milésimos, a cadeira de rodas para, à poucos milímetros da escada. Eu que estava com os olhos apertados, os abri, vendo Namjoon segurar a cadeira de rodas, e controlando-a de volta.

  — Preferia ter caído. — resmungo com uma careta, quando ele me olha incrédulo.

  — Não cansa desse orgulho, não? — ele perguntou, mas não respondo.

  Apenas observo minhas mãos doloridas, que sangravam das tentativas falhas de tentar controlar a cadeira de rodas.

  —Não vai me agradecer?

  — Você é o meu cuidador. Não fez mais que sua obrigação._ solta as palavras frias, cheias de orgulho. Levanto os olhos, vendo Hoseok nos receber com um sorriso. Ele não tem a mínima ideia do que aconteceu.

  — Oi Hoseok. — cumprimentou Namjoon.

  — Oi. — respondeu ele, abrindo a porta para mim. Eu já ia sair da cadeira de rodas, quando sinto as mãos de Namjoon na minha cintura.

  — Não ouse tocar em mim. — respondo entredentes. Namjoon me solta.

  Mesmo com as minhas mãos ardendo, me forço para entrar no carro.

  Namjoon se senta ao lado de Hoseok, que estão na frente, enquanto eu fico atrás, encarando minhas mãos.

  E começa a mesma coisa de sempre.

  Automaticamente, as lágrimas descem, sem que eu possa perceber. Eu as seco, evitando com que algúem veja, mas já é tarde. Levanto os olhos, vendo que Namjoon me encarava, profundo, vendo meu nariz vermelho e meus olhos marejados. Abaixo a cabeça, constrangida. Meu rosto se esquenta, querendo derramar mais lágrimas por ter me permitido ser vista fraca.
 
  Saio do carro, apressadamente, quando Hoseok estaciona em minha garagem. Apoio em seu braço, para poder sair do carro e me assentar na cadeira de rodas. Entro em casa e me tranco no quarto.

  Fico lá, tentando não ter pensamentos suicidas, enquanto tento escrever algo. Porém, minhas mãos não permitem, elas ardem quando tento escrever.

  Namjoon não bate na porta dessa vez.

  18:00 chegou, e eu, depois de ter tomado um banho, destranco a porta do quarto, encontrando o corredor vazio. Encosto a porta e deito minha cabeça em meus braços na escrivaninha. Fico assim, por um tempo.

  O silêncio da casa me lembra o silêncio do hospital. Assustador e mortífero. Não sei quanto tempo eu ainda posso continuar nessa totura.

  Ouço um som de batida na porta. Me viro, vendo Namjoon segurando uma sacola e uma pomada na outra mão.

  _ O que você quer? — pergunto, sem muita simpatia. Como sempre. Minha antipatia se torna agonizante, até para mim.

  Namjoon suspira.

  — Suas mãos estão doendo? — ele pergunta, me fazendo encarar os cortes profundos nas mesmas.

  Não respondo.

  Ele entra no quarto e se senta na cama.

  — Não pode ficar aqui. — digo fria, vendo sua expressão compreensiva.

  — Eu sou seu cuidador, não estou fazendo mais que a minha obrigação. — ele me olhou. — Agora estenda suas mãos. — ele pede, mas eu hesito. — Venha.

  Depois de algum grunhidos, conduzi minha cadeira de rodas até ele, que estava sentado na minha cama.

  — Eu te daria um chute, se pudesse. — eu digo, séria, enquanto ele tira a gase da sacola.

  — Tenho até dó da minha bunda. — ele sorri, mas eu olho séria.

  Contenho dentro de mim várias dúvidas sobre Namjoon. Ele parece diferente de tudo o que já pisou nessa casa. Com um sorriso fechado sobre seu rosto, mesmo tendo uma patroa tão horrível quanto eu.

  Ele deve ser um alienígena. O glsta do salário que ganha. Algo me diz que não é nenhum dos dois.

  — Não cansa de ser insistente? — pergunto, enquanto ele segura minha mão, abrindo a pomada.

  — E você não cansa de ser infantil? Poxa, Soyun, você já tem 24 anos! — ele diz, mas eu não respondo, apenas observo seus movimentos. Ele corta um pedaço da gase.

  — Não acha que por gase em alguns arranhões não é exagero? — pergunto, enquanto observo.

  — A gase evita que piore as feridas, além de ajudá-las à se curarem mais rápido. — ele explica, me fazendo olhar sua expressão concentrada.

  — Você é médico? — pergunto vendo-o sorrir.

  — Não, só tive uma mãe superprotetora. — ele sorri, mostrando suas covinhas. — Fiz faculdade de engenharia mecânica.

  — Queria saber o que é isso. — dou uma breve risada nasalada para mim mesma. Volto a seriedade logo depois.

  — O que? A engenharia? — perguntou, enquanto passava pomada na outra mão.

  — Não... esquece... — falo, desistindo. Não é um assunto que ele deveria saber.

  — Ok. — terminou ele, pregando a gase. — Eu também vim para pegar as suas roupas pra lavar.

  — Por enquanto, eu só tenho meias sujas. Como, não me pergunte, porque eu também não sei. — respondo, pegando um par de meias, já que eu ponho minhas roupas para lavar toda semana.

  — Então, tá. — ele pega o par de meias e sai em direção a saída. — Se precisar de alguma coisa, me avise.

  — Não vou precisar. Não se preocupe. — respondo, dando de ombros e volto para a escrivaninha.

  Ele sai do quarto.

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