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  O dia amanheceu já faz três horas, e eu ainda não tive coragem fazer o convite para Soyun sem que pareça que eu esteja com segundas intenções.

  Já voltei para o quarto as duas vezes em que a encontrei. Por quê? Eu não sei. Só sei que ela não  está me achando anormal.

  Agora, por exemplo, ela e Hoseok me encaram na mesa do café da manhã. Ela com seu chá pela metade e Hoseok comendo um pãozinho açucarado. O silêncio dos dois me faz arrepiar os pêlos do braço de nervosismo.

  — Você matou alguém, Namjoon? — Soyun se pronuncia primeiro. Hoseok ri da pergunta.

  Engulo em seco.

  — Minha sanidade mental... — murmuro, talvez alto demais, já que ambos me encaram. Hoseok para de rir.

  — O que houve de tão grave? — ele pergunta, mas encaro Soyun. Ela não faz muito esforço para me decifrar, mas deixa sua dúvida clara.

  Respiro antes, me preparando para uma reação inesperada. Eu posso sair ou vivo, ou morto desta conversa.

  — Eu... comprei ingresso para a peça do Lago dos Cisnes, para sexta à noite.— fecho os olhos por um momento, antes de encarar as feições das pessoas à minha frente.

  Hoseok abre sua boca num sorriso radiante, enquanto Soyun não consegue reagir ainda. Seus olhos se arregalam tanto que posso ver um brilho neles. Agora quem não tem a idéia de como reagir sou eu.

  — Vamos à uma peça?! — Hoseok quebra o silêncio.

  — Lago dos Cisnes?! — Soyun murmura desacreditada. — Por quê?

  — E-eu apenas tive vontade de ver uma peça. — minto, pelo visto muito mal. — Eu só não quero ir sozinho.

  — Mas... justo o Lago dos Cisnes? — Soyun questiona, largando o resto do chá.

  Desvio meu olhar, ainda com medo de acabar entregando tudo.

  — Vai ser só uma peça, Soyun... — Hoseok a acalma, tocando de leve em seu braço. Soyun amolece um pouco.

  — Você sabe o quão...

  — Divertido vai ser! — Hobi completa sorrindo, enquanto Soyun se vira para encarar os olhos brilhantes dele. Percebo que fica por mais de dez segundos o encarando, como se estivessem se comunicando por telepatia.

   O silêncio dos dois é uma tortura para mim. Cada vez que pisco, é uma eternidade.

  Quando Soyun finalmente vira o rosto, Hoseok conclui:

  — Você deve, Soyun. — ele estende seu braço, até alcançar o ombro dela.

  Me pego sorrindo de lado quando percebo um sorriso no rosto de Soyun.

  — Sexta, à noite. — ela olha para o chá, e volta seu olhar para mim. — Espero que compre um terno, Namjoon. Eu não vou para um teatro sem tomar banho. Nem você.

  Hoseok se junta à mim em um sorriso sincero. Soyun suspira e vira seu chá, terminando-o em três goles.

  — Já que estamos combinados, vou subir. — ela olha para Hoseok, e logo pousa seu olhar por mais tempo sobre mim. Seus olhos se apertam, tentando decifrar meu rosto, que tenho absoluta certeza de que é de medo. — Necessito de um tempo sozinha.

  Ela suspira e joga seu cabelo para trás. Eu e Hoseok observamos ela sair, devagar enquanto a cadeira elevador se demora na escada. Quando ela está fora de vista, penso que Hoseok vai quebrar seu pescoço com a velocidade em que se vira para mim.

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