Following The Beat of my Heart- Matheus Thuler

Temos um Problema

No dia do velório de Geovana, nós ainda não tínhamos digerido tudo o que aconteceu. Os pais dela não apareceram, na verdade eles disseram que seria difícil demais continuar por aqui sem a filha deles, então decidiram viajar por um tempo.

Minha amiga foi cremada, e eu me responsabilizei totalmente por tudo, principalmente pelas cinzas dela. Quando me entregaram a urna eu só sabia chorar

Estava muito difícil para todos nós, mas estava ainda mais difícil para Gabriel, ele disse que não conseguiria ficar sozinho com Lucas na casa deles, então sugeri que ele ficasse comigo, obviamente ele aceitou e agora o quarto de Raianny é o quarto de Gabriel e Lucas.

-Estela, me ajuda — Gabriel entra em meu quarto com Lucas que chorava em seu colo

Confesso que uma das coisas mais difíceis que eu já passei na vida, foi ouvir meu afilhado chorar pela mãe e não saber o que dizer pra ele. Os dias se passaram, e ele começou a acostumar, mas as vezes durante a madrugada ele ainda chama por ela e meu coração se quebra toda vez que o ouço dizer seu nome

-Vem com a dindinha, meu amor — falo pegando Lucas dos braços do pai e ele me olha com os olhinhos vermelhos — Pode ir... eu fico com ele — falo para Gabriel, que após agradecer sai do quarto

Caminho até a cama colocando Lucas deitado ali e me deito ao lado dele, o cubro e coloco a chupeta em sua boca, ele nega algumas vezes, mas após muita insistência resolve ceder

-Você não vai dormir? — pergunto o olhando e ele me encara com o olhar triste — Eu também sinto falta da sua mamãe, sabia? Ela sempre me ajudava quando eu precisava, e quando ela estava aqui com a gente eu sempre tinha um lugar pra ir depois do trabalho... agora é mais chato, é sempre casa, trabalho, casa, trabalho... sem ela as coisas são bem mais chatas mesmo, eu também choraria bastante se fosse você — falo tudo isso enquanto faço carinho em seu cabelo e quando me dou conta ele já dormia, sorrio beijando sua testa e me ajeito na cama me preparando para dormir também

(...)

No dia seguinte eu não acordo com o despertador e sim com a mão de Lucas voando em meu rosto, acordo com o susto e o observo dormindo todo esticado, sorrio com a cena, desabilito meu despertador e levanto indo para o banheiro. Após estar pronta, saio do quarto e vejo Júlia sentada no sofá

-Bom dia, chegou cedo — digo erguendo o pulso para olhar o relógio que ali estava

-Bom dia — sorri — Gabriel disse que ia precisar sair mais cedo hoje e mandou eu vir — ela fala me observando

-Ele já saiu? — pergunto a olhando

-Deve fazer uns 5 minutinhos — diz olhando seu relógio

-Disse pra onde ia? Não, né?! — pergunto novamente

-Disse que ia passar na casa dele pra pegar umas coisas e depois ia para o treino — responde

Respiro fundo com sua resposta e em seguida olho meu relógio novamente

-Já tomou café? — coloco minha bolsa na cadeira e sigo para a cozinha

-Já sim... Lucas tá dormindo? — pergunta

-Sim senhora, se quiser ir lá deitar com ele pode ir, a casa é sua — digo com um sorriso amigável

-Você é a melhor — ela sorri e se levanta indo para o quarto

Faço meu Toddy como sempre e em seguida coloco no copo, pego minha bolsa sobre a cadeira e assim saio de casa, indo para meu trabalho em seguida.

(...)

Quando chego em casa vejo os sapatos de noga na porta, o que indicava que ele já estava em casa, porém a Ju também estava lá, achei estranho, mas o chefe dela não sou eu, então segui para meu quarto e fui tomar banho. Depois de colocar um de meus pijamas -pois não pretendia sair de casa mais- caminho para a sala enquanto digito uma mensagem em meu celular. Ao chegar na sala Ju fica me olhando enquanto eu me sento no sofá

-O que foi? — a olho com dúvida

-Eu acho que o Gabriel não tá bem... — ela diz com receio, porém diz

-Como assim? O que aconteceu? — pergunto preocupada

-Ele não interage mais com Lucas como era antes, nem faz questão de olhar pra ele... hoje quando chegou Lucas correu até ele e ele nem parou pra falar... — ela diz com o tom de voz baixo com medo de ser ouvida por ele — A gente sabe que tá sendo muito difícil pra ele, mas o Lucas ainda é um bebê, ele não merece perder o pai também

-Obrigada por me avisar — falo realmente agradecida — Ele pediu pra você ficar até que horas?

-Só até você chegar — ela diz se levantando e pega a bolsa que havia deixando no sofá — Até amanhã, Teca — ela sorri, se despede de Lucas e sai da casa

Me levanto indo até a porta do quarto de Gabriel e bato lá algumas vezes, ele não atende, então bato novamente

-Gabriel, preciso falar com você — falo alto pra ser ouvida

-Tá aberta — ele grita, sua voz não é nem um pouco firme

Observo Lucas pra ter certeza de que ele não vai se machucar se eu sair por uns minutos e ele estava deitado no cercadinho enquanto observava o desenho que passava na televisão, então obviamente entro no quarto, Gabriel estava deitado de costas para a porta, ele senta na cama e me observa, seu rosto estava vermelho e seus olhos inchados, caminho até ele e sento ao seu lado

-Eu sei que tá muito difícil, mas a gente precisa de você — falo o olhando

-Eu to tentando, eu juro que to... mas não dá, a culpa me consome todos os dias, quando eu vejo meu filho eu sinto que foi eu que tirei o direito dele de crescer com a mãe do lado — ele fala fungando em seguida — Só consigo ficar em paz quando to treinando, o mister gritando no meu ouvido não me dá tempo de pensar em nada — ele fala e solta um riso fraco em seguida

-A culpa não é sua... as coisas acontecem e a gente não pode mudar isso, mas você não pode deixar seu filho crescer sem pai também... pensa nele, eu te levo em um psicólogo se você aceitar

-Eu faço qualquer coisa que me ajude a melhorar — ele diz — Não aguento mais ficar preso dentro desse poço, Teca

-Eu to contigo cara, somos amigos ou não? — o abraço e ele me aperta — Amanhã a gente resolve isso então, tá bom pra você?

-Tá sim... obrigada por estar comigo, não sei o que faria sem vocês — ele sorri — Vamos assistir um filme? O Lucas ama Wall-E

-Vamos com certeza — falo partindo o abraço e me levanto — Você faz a pipoca

-A minha é a melhor, né? — ele diz e se levanta também — Só vou tomar um banho

-Tá bom, se demorar vou te buscar lá — falo rindo e saio do quarto fechando a porta logo atrás de mim