Um "quase" na cozinha

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Adora acordou, subitamente sentindo falta do calor ao seu lado na cama. Sentou-se e abriu os olhos preguiçosamente, Felina não estava lá, de novo. Era provavelmente a terceira vez na semana que acordava sozinha no meio da noite.
Apesar de terem quarto separados, desde que voltaram a Lua Clara a gata insistia em dormir no mesmo quarto que a loira, ideia essa que a agradava e muito. Amava estar sempre pertinho da Felina, principalmente depois de tantos anos longe.
Adora pensou em voltar a dormir como todas as vezes, afinal, provavelmente a namorada havia apenas saído para tomar um copo d'água, quando Melog pulou na cama com uma feição levemente desesperada.

— Melog? O que foi? — o animal apenas grunhiu, correndo para as portas do quarto fazendo sinal para que a loira o seguisse.

Sentindo uma pontada de preocupação a invadir, ela o fez.
Correram pelos grandes corredores do castelo até chegarem a cozinha. Adora rapidamente acendeu as luzes do local, sentindo que seu coração estava prestes a sair pela boca.

— Adora! Finalmente, me ajuda!

A loira permaneceu estática, encarando a gata que estava paralisada próximo a geladeira e segurando um pãozinho em uma das mãos.

— O... quê...?
— Não tá vendo? — Felina bufou — Eu to presa! Nem o Melog conseguiu me tirar daqui. — a criatura assentiu fracamente.

Adora encarou o chão sob os pés da namorada. Um círculo de magia, provavelmente uma armadilha. Voltou os olhos para a morena e conteve o riso.

— Não consegue mesmo se mexer? — indagou risonha, tirando o pãozinho da mão da garota e dando uma mordida no mesmo.
— Só do pescoço pra cima — a felina mostrou, mexendo a cabeça e as orelhas. — Argh, nunca vou me acostumar com esse lugar.

A maior a encarou de cima a baixo, terminando de comer o pãozinho que roubara da garota paralisada a sua frente, e então deu de ombros.

— Não sei mexer com esse tipo de magia — explicou — Cintilante ou Micah podem ajudar quando acordarem. Aliás, por que acordou tão cedo? — "assim como nos últimos três dias" quis completar.
— Eu tive um... ... — suas orelhas abaixaram — um pesadelo... Então resolvi levantar pra comer alguma coisa — tentou parecer indiferente. — Mas isso não importa, vai chamar a Purpurina ou alguém pra me tirar daqui logo.
— E quais são as palavrinhas mágicas?
Pela honra de Grayskull? — zombou.

Adora arqueou a sobrancelha e sorriu de canto, se divertindo com a situação, quando uma súbita ideia passou por sua mente. Aproximou-se perigosamente da namorada, entrelaçando os braços na cintura alheia e juntando seu corpo ao dela.
Felina corou, soltando um suspiro ao notar quão próximos os lábios da loira estavam dos seus. Esquecendo-se momentaneamente da situação em que estava, ela se inclinou para frente no intuito de quebrar a mínima distância entre as bocas, mas Adora afastou-se bruscamente, fazendo-a grunhir em frustração.

— Sério, Adora?

A loira apenas riu antes de se aproximar novamente, dessa vez posicionando seus braços ao redor do pescoço na menor e finalmente beijando-a serenamente. O toque fora calmo e gentil por alguns segundos, quando a felina resolveu mordiscar o lábio inferior alheio, arrancando suspiros leves da namorada. A esse ponto, Melog provavelmente já se encontrava escondido em algum lugar.
Era uma tortura para a morena não poder abraçar e tocar na loira a sua frente, mas sentir as mãos fortes passearem livremente por suas costas e cintura por cima da blusa fina do pijama era suficiente para deixá-la em êxtase.
Em um ato ousado, Adora deslizou uma das mãos por dentro da blusa da menor, arranhando levemente a barriga da namorada, fazendo-a arfar.

Adora... Não é justo... — protestou em um sussurro, fazendo bico. Adora encostou sua testa na dela.

Não iria mentir, estava amando provocá-la daquela maneira, mas sabia o que iria acontecer se continuasse e a cozinha realmente não era um bom lugar para uma primeira vez, ainda mais em uma situação dessa.
Adora fez menção de se afastar, mas seu corpo não a obedeceu, fazendo-a engolir seco.

— Felina...
— O quê?
— Acho que também to presa...

Felina respirou fundo, fechando os olhos e tentando manter a calma, antes de responder.

Eu não acredito que não passou pela sua cabeça o fato de que se você entrasse no círculo a magia iria afetar você também.
— Você também não pensou nisso. — provocou, fazendo a menor corar e fechar a cara.
— Não importa, nós duas estamos presas agora.

Silêncio pairou sobre ambas. O sol já começava a surgir do lado de fora e lentamente os raios iluminavam o cômodo. Adora pensou em tentar transformar-se em She-Ra, mas estava próxima demais a felina e temeu machucá-la sem querer, então apenas deitou a cabeça no ombro da namorada.
Ficaram ali, em uma posição um tanto... comprometedora durante alguns minutos, então a loira se lembrou.

— Quer falar sobre seu pesadelo? — indagou, depositando um beijo casto no pescoço macio da morena.
— Nem um pouco.
MAS O QUÊ-

O grito agudo fez com que as duas virassem a cabeça bruscamente em direção ao som. Eram Arqueiro e Cintilante.
O garoto cobria o rosto com as mãos enquanto a rainha encarava o casal, incrédula.

— O que vocês estão fazendo aí? — a de cabelos rosa indagou.
— A gente tá presa — Adora sorriu torto.
— Tá todo mundo vestido? Eu não vi direito. — Arqueuro gaguejou.
— É óbvio que sim. — Felina revirou os olhos. — Será que alguém pode tirar a gente daqui agora?

Cintilante assentiu, como se finalmente percebesse a situação. Rapidamente desfez a magia, fazendo o casal suspirar em alívio por finalmente poder voltar a se mexer. A gata cruzou os braços.

— Por que esse negócio tava aqui? — referiu-se a "armadilha".
— Ah, foi ideia do meu pai. — A rainha explicou — Os cozinheiros disseram que os pãezinhos estavam sumindo, achamos que fosse algum animal que entrava na cozinha, então coloquei a armadilha aí.
— Pelo menos o mistério dos pãezinhos foi resolvido — Adora sorriu travessa abraçando de lado a Felina, fazendo-a ficar tão vermelha quanto um tomate.

Os amigos se encararam e riram, antes de começarem a se preparar para os afazeres do dia.

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