Um "quase" , mas...

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Catra acordou com um grito, seu pelo arrepiado e com a respiração ofegante. Havia tido um pesadelo, mais um. Estavam cada vez mais constantes, mais intensos.

Esfregou os olhos com um suspiro alto e encarou o vazio na cama com lençóis rosa demais para o seu gosto. Dormir sem Adora era algo que ela jamais iria se acostumar, mesmo depois de três longos anos, precisava dela. Mas não podia, não agora, não quando acordava todas as noites gritando por causa de um sonho ruim que insistia em se repetir de novo, de novo e de novo. Preocupar a loira era a última coisa que ela queria, estava cansada de ser o motivo da dor e do sofrimento da pessoa que mais amava no mundo.

A gata estremeceu. Adora merecia alguém melhor.

Seus olhos marejaram com o pensamento e ela se encolheu mais contra a cama. Estava tentando melhorar, de verdade, nos últimos dois meses sua vida mudara completamente - vale acrescentar: para melhor - e eram tantas coisas para assimilar, mas a mais importante era sua relação com Adora. Parecia que sempre que tudo estava correndo bem, alguma coisa voltava e a fazia se lembrar do seu passado, de tudo de ruim que fez para Etheria, para Adora, e então ela se sentia culpada, inútil e suja. Talvez devesse ter ficado para sempre perdida no espaço, talvez se Cintilante tivesse acabado com ela de uma vez quando teve a chance tudo estivesse melhor agora, talvez...

Batidas na porta fizeram-na voltar a realidade e rapidamente enxugar as lágrimas que ainda insistiam em cair.

Melog, que até então permanecia encolhido debaixo da cama, prontamente se posicionou ao lado da porta, pronto para atacar, graças ao pensamento involuntário de auto defesa de sua dona.

— Quem é?
— Sou eu, Felina — a voz de Adora ecoou abafada. A morena não sabia que horas eram, mas sabia que era tarde, o que ela estava fazendo ali a essa hora? — Posso entrar?

A Felina apenas murmurou um "pode", enquanto se ajeitava na cama para parecer o mais relaxada possível.

Adora adentrou o quarto, fazendo carinho em Melog quando a criatura se aproximara para recebê-la. Os fios loiros completamente livres do habitual rabo de cavalo caiam sobre os ombros e ela vestia apenas um delicado penhoar branco para cobrir as roupas íntimas. "Uma verdadeira princesa", a menor pensou ao encarar a namorada, que agora estava de pé aos pés da cama. Os olhos azuis pareciam mais escuros e brilhavam com a luz da lua que entrava pelas enormes janelas do cômodo.

Felina sorriu de canto.

— Gostei da roupa, princesa.
Quatro dias — Adora disse séria — quatro dias que você parece estar tentando me afastar, por que?

Sua expressão automaticamente suavizou ao notar as orelhas baixas da felina. Não estava ali para falar sobre isso, não. Estava ali porque queria ficar com sua namorada, aproveitar os últimos dias em Lua Clara antes de saírem em sua missão de restaurar a magia no universo. Poderia ter feito isso durante o dia, mas queria privacidade, queria que fosse apenas ela e Felina.

— De qualquer forma, não foi por isso que eu vim — explicou, sentando-se na cama. A morena a encarou com curiosidade.
— Então o que te fez levantar da cama plena madrugada só pra me acordar? — a gata provocou.

Adora revirou os olhos, engatinhando pela cama até parar bem próxima da menor. A felina mantinha o olhar fixo nos lábios agora tão perto dos seus, por que ela tinha que ser tão irritantemente perfeita?

— Você já estava acordada, gatinha, eu conheço você. — sussurrou por fim.

Sem aguentar mais a distância, a gata puxou-a pra um beijo necessitado, fazendo com que ambas deitassem no colchão, com Adora por cima de si. "Tão estupidamente perfeita".

A loira suspirou ao sentir as mãos alheias desamarrarem o laço de seu penhoar, e então desceu os beijos pelo pescoço e clavícula da namorada enquanto suas mãos se enroscavam na barra da camisa da morena.

A felina gemeu baixinho ao sentir as mãos de Adora  adentrarem por sua roupa e explorarem cada cantinho de seu corpo, então sentou-se na cama, empurrando levemente a maior para que também o fizesse, mas sem afastá-la. Tocou rapidamente os lábios alheios antes de tirar suas próprias roupas, ficando apenas com os shorts simples do pijama.

Adora perdeu o fôlego e piscou algumas vezes, admirando a garota a sua frente, ambas de joelhos sobre o colchão. Sentiu seu rosto esquentar e encarou-a nos olhos, ela também estava corada. Timidamente tocou o rosto alheio, antes de descer lentamente suas mãos até próximo aos seios expostos da namorada, receosa no que fazer a seguir. A Felina então voltou a beijá-la, soltando um gemido quando sentiu Adora acariciar um de seus seios, apertando levemente em seguida. Uma adrenalina repentina percorreu seu corpo e ela desceu os beijos pelo pescoço branco da namorada, enquanto suas mãos adentravam o penhoar já aberto da loira.

Adora sentia seu interior queimar em excitação, e a morena não estava diferente. As arfadas e gemidos manhosos ecoavam pelo cômodo, cada vez mais altos a medida que suas mãos e lábios exploravam timidamente o corpo uma da outra. A felina então deslisou as mãos pelas costas da princesa a procura do fecho para retirar a peça íntima que ainda cobria o corpo da namorada. Mas o que encontrou foram cicatrizes, cicatrizes essas que ela conhecia muito bem, pois era a culpada de estarem ali.

Toda excitação e adrenalina que sentia se esvaíram como fumaça e a gata sentiu vontade de chorar. Continuou a tatear as costas alheias, percebendo o tamanho das marcas que havia um dia deixado ali.

Adora cessou os beijos que distribuía pelos ombros da morena ao senti-la ficar tensa em seus braços. Afastou-se lentamente, pensando ter feito algo errado, e a encarou.

— Felina... — sussurrou, tocando o rosto alheio e acariciando com o polegar. Talvez tivessem ido rápido demais, não queria fazer nada que a namorada também não quisesse — Você... você tem certeza de que quer fazer isso? — perguntou terna.

A gata a encarou, enrolando sua cauda na cintura delineada da loira, e hesitou. Suas mãos continuavam posicionadas nas costas alheias, ainda sentindo o peso do seu passado.

Conseguia ver o quanto Adora estava excitada, assim como ela estava alguns segundos atrás, mas agora sentia que simplesmente não conseguiria continuar. Queria que a primeira vez da loira fosse única, ela merecia isso, não queria que fosse de qualquer jeito - e talvez uma parte de si não se achava digna de ter uma garota tão incrível depois de tudo o que fizera.

Felina fechou os olhos com força, encostando sua testa com a da maior, e suspirou.

— Eu queria, muito... mas... — Adora notou a voz trêmula da namorada e imediatamente sentou-as na cama, enrolando o corpo semi-nu da morena em um dos lençóis.
— Tudo bem... — sussurrou, beijando a testa da felina.
— Me desculpa, Adora... — abaixou o rosto, sem ter coragem de encará-la, já haviam ido tão longe...
— Ei — delicadamente a maior levantou o rosto da namorada e sorriu — Podemos tentar outro dia, não se preocupe.

A gata assentiu e então abraçou a loira, que imediatamente retribuiu ao toque.

— Vou voltar para o meu quarto — Adora beijou-lhe levemente os lábios quando se afastaram — tenta dormir um pouco, ainda dá tempo antes de amanhecer — Felina assentiu.

A loira então se levantou da cama, ajeitando novamente seu penhoar. Antes de sair do quarto ouviu a menor lhe chamar.

— Ei, Adora, eu te amo... não esquece, tá? — disse tímida, se enrolando nos lençóis para não ter que encará-la.

Adora sorriu.

— Eu também te amo.

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