Mistério dos Olhos do Oceano

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 PRÓLOGO

Segundo algumas crenças, o girassol é a flor que presenteou a humanidade com a lembrança de que a vida é mais prazerosa quando se dá importância ao seu lado bom. Contudo, eu não era do tipo que acreditava em frases prontas que passeavam de boca em boca. Para mim, simbologias como essa deveriam ser bem interpretadas antes que se pudesse falar delas com tanta propriedade. Afinal, como é possível extrair de algo que lhe foi prejudicial o mais valioso dos aprendizados ou o mais belo dos sentimentos? Esse tipo de resiliência poderia existir? Tamanha dúvida permeava meus pensamentos até que um certo acontecimento deixou essa neblina mental menos densa. Porém não obtive uma resposta pronta, nada na vida é fácil e nem deveria ser. Tudo é mérito. Precisei refletir bastante até entender que quando se quer voltar as pétalas para os raios solares não há barreiras que bloqueiem a luz. Esse meu modo de pensar surgiu após conhecer uma pessoa que me fez amadurecer e evoluir em um tempo curto. Caso queira entender como tudo aconteceu, e de quebra chegar as suas próprias conclusões, convido-o a se aproximar. Pegue uma xícara da sua bebida favorita e sente-se em uma posição confortável pois voltaremos no tempo, para o primeiro dia da viagem onde conheci Fabrício de Santos e seus misteriosos olhos de oceano.

I – PRIMEIRAS IMPRESSÕES

O toque estridente do despertador me tirou do sono sem piedade alguma. Abri os olhos com preguiça, mas o quarto permanecia em penumbra. Me levantei da cama, peguei o celular e desliguei alarme. O número 5:00 praticamente pulava da tela brilhante do aparelho. Lamentei ter que acordar uma hora antes do que costumava fazer para ir à faculdade, mas naquele dia em particular era algo necessário. Olhei pela janela entreaberta e um vento frio acariciou meu rosto. O horizonte estava tingido de rosa alaranjado, ciano um pouco acima e azul marinho no topo. Um belo degradê natural.

— Arthur, já acordou? —- Ouço a voz da minha mãe me chamando e me apresso.

Meu pai viajaria para a cidade vizinha, num evento de empreendedores. Um costume anual e necessário visto seu gerenciamento em uma associação de empresas. Minha mãe e eu estávamos de férias do trabalho e faculdade, respectivamente. Era uma boa oportunidade de passar um tempo em família, algo que não fazíamos há séculos. Vasculhei meu guarda roupa procurando alguma peça de roupa confortável para usar. Em seguida, já no banheiro, a água fria me despertou por completo embora não pudesse demorar muito. Após, preparei um café da manhã rápido e arrumei o restante da minha bagagem numa mochila simples pois a viagem não duraria mais que quatro dias. Não era necessário nada extravagante. Saí de casa e tranquei a porta checando duas vezes se a mesma estava fechada – um comportamento metódico que desenvolvi. Atravessei a varanda a passos largos e assim que cheguei ao portão o carro já estava fora da garagem ao lado dos meus pais que conversavam descontraídos com um homem que eu nunca vira antes.

— Desculpem a demora. — disse me aproximando. Os três interromperam a conversa e olharam para mim.

— Sem problemas Arthur — falou meu pai ao mesmo tempo que pousava uma das mãos no ombro daquele homem de identidade misteriosa até então — Quero que você conheça um grande amigo e colega de trabalho.

O homem andou em minha direção estendendo uma das mãos.

— Ora se não é o famoso Arthur! Seu pai costuma falar muito de você! — falou ele, sorrindo — Me chamo Fabrício, é um prazer te conhecer!

— É um prazer conhece-lo também! — Reaproveitei suas palavras pois nunca fui uma pessoa muito comunicativa. Falar com alguém que eu havia acabado de conhecer me fazia ter menos vontade de conversar, por isso escolhi ser breve.

Demos um aperto de mão firme e pude observar melhor o novo conhecido. Seu cabelo castanho escuro estava perfeitamente cortado, aparado dos lados e arrumados em um topete em cima. Sua barba não era muito cheia mas precisava ser feita. Ele trajava um casaco preto bem básico com uma calça jeans azul escura e tênis também pretos. Óculos escuros estavam pendurados na gola da camisa que usava por baixo do casaco. No ombro direito levava uma mochila e perto de si havia uma mala pequena. Fui abaixando o braço e ele fez o mesmo, terminando o aperto de mão. Seu sorriso agora era uma fina linha entre os lábios. Todavia seus olhos azuis ainda estavam espremidos formando pequenas rugas que se estendiam nos cantos. E que belos olhos ele tinha.

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