Eu te encontrei

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1 hora antes...

"Rachel?"

"Sim, Tony?"

"Sinceramente eu não sei como você a suporta, Philipe. Ela não respeita nem ao menos seu nome de batismo." Jesse St. James ironizou, se servindo de uma taça de champagne.

"Ele é budista. Não há batismo no budismo, St James." Disparou Rachel. "Mas se você está realmente interessado, antes de vir para a América Tony se chamava Ravi Ambudkar, um nome adorável. Porém, por razões que desconheço, Tony se encantou com a ideia de ter o mesmo nome do príncipe da Bela Adormecida e mudou de nome antes de desembarcar em New York."

Ela torceu o nariz e rodou os olhos com uma careta. Ao lado dela, Tony suspirou resignado.

"Eu achei o upgrade necessário, principalmente porque na época o inglês dele era péssimo e ele ficava errando a pronuncia com Philips." Rachel suspirou dramaticamente concluiu. "Como eu não iria suportar chamar por uma marca de eletrônicos toda hora, passei a chama-lo de Tony, que é um nome lindo e eu amo a entonação da minha voz quando o pronuncio. Meu Tony..."Disse ela, indicando o jovem moreno de feições indianas ao seu lado "... compreende isso tudo, por isso, ele não se importa. Especialmente, porque ele sabe que quando você não está presente, costumo me referir a sua pessoa como "Aquele que não tem alma" o que, nesse caso, denota o quanto não tenho nenhum respeito por vo-cê."

Jesse fechou a cara para a amiga, murmurando de mal humor.

Um garçom ofereceu uma taça de champagne a Rachel, que recusou polidamente, se servindo de uma das taças com suco e tomando um gole com um sorriso de satisfação. Irritar Jesse era uma de suas atividades favoritas. Parece que ter aberto uma exceção "as regras" e vir ao GLAAD desse ano, iria pelo menos entretê-la um pouco.

"Não consigo compreender como, um dia, eu achei você a garota mais doce do mundo. Arrr...até cogitei a ideia de me apaixonar por você..." Jesse voltou a resmungar.

"Amor e paixão são conceitos incompreendidos por pessoas sem coração, Jesse." Ela tomou mais um gole de seu suco com o sorriso presunçoso ainda estampado no rosto.

Jesse revirou os olhos. Ela estava se divertindo, aparentemente. E pelo jeito, esse seria o passatempo dela durante a noite. Resolvendo deixar de lado as excentricidades de sua amiga, ele apenas se resignou a pagar pelo preço de tê-la arrastado ao evento de hoje.

Tony (ou ex-Philipe) limpou a garganta para chamar a atenção deles.

"Desculpe, Tony." Disse a morena, dando bastante ênfase ao Tony. "O que lhe aflige meu fiel pajem."

Ele sorriu e estendeu um envelope dourado para sua chefe, que o tomou em mãos imediatamente.

Rachel fora a melhor coisa que acontecera na vida do rapaz. Antes de ser contratado para trabalhar como seu assistente pessoal, Phil... quer dizer, Tony trabalhava... ou melhor, era explorado por uma sub empresa de taxi de NYC. Imigrante ilegal, vivendo num muquifo no Queens, ganhando tão pouco que comer bem era um luxo.

Por falta de uma expressão melhor, Rachel era seu anjo. Mesmo sendo budista ele a via assim...

Naquela madrugada, ele entrou numa loja de conveniência desfalecendo de fome implorando por ajuda. Ele já não tinha mais dinheiro, e as bolachas que tinham servido de comida durante semanas, haviam acabado. Completamente esgotado, Tony foi acometido por uma forte tontura e tombou em cima de uma gôndola de produtos, acordando alguns minutos depois no chão da loja, com a cabeça apoiada no colo de uma pequena morena de olhos castanhos, lhe oferecendo mais de um liquido adocicado de um copo de plástico. Ela o ajudou a levantar, pagou-lhe um jantar, ouviu sua história, deu-lhe um emprego digno, legalizou sua estadia no país e lhe deu um lugar para morar. Deste dia em diante, ele tornou-se seu fiel escudeiro, seu pajem, como ela carinhosamente dizia. O seu Tony. E nada lhe dava mais orgulho.

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