Reino Snowy

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REINO SNOWY

A PRINCESA DA NEVE

A figura encapuzada era vista até mesmo pelos guardas na mais alta das torres, afinal, era um grande contraste da capa de inverno vermelha, com toda a neve branca ao redor.

Sophia, princesa de Snowy e segunda na sucessão ao trono, até o irmão se casar e ter seus próprios filhos. A garota suspira, andando pela neve em direção a pequena floresta que tinha na área do castelo. Apesar de serem cercados por uma densa e selvagem floresta, a que tinha na área do castelo era controlada e até mesmo acolhedora.

Sorriu, ao se embrenhar em meio as arvores altas e sem folhas. Nunca tinham folhas, afinal, ali era sempre inverno. Se aproximou lentamente do grande mausoléu que se encontrava ali. Era feito de uma rara pedra preta, encontrada apenas nas minas de Snowy e que não eram comercializadas.

O mausoléu da família real, onde seus antepassados estavam enterrados, onde seus pais foram enterrados há alguns anos. Apesar de ser apenas uma criança na época, se lembrava bem de como foi viver no castelo naquela época. Ícaro, seu irmão mais velho e rei, tinha apenas dezessete anos quando assumiu o trono.

Respirou fundo, abrindo lentamente a grande porta de madeira escura que guardava o interior do mausoléu e estendeu a mão, pegando a lamparina que sempre era deixada ali quando sabiam que iria visitar os pais. Desceu lentamente as escadas, o caminho sendo iluminado de maneira escassa.

Ao chegar no solo, ando para sua direita, onde estavam os pais e também, ainda havia muitas tumbas vazias. Sabia que um dia, o irmão seria enterrado ali, assim como sua futura esposa e seus filhos. Nunca poderia ser enterrada ali, ao lado dos seus antepassados, já que se casaria com algum príncipe ou lorde de outro reino e iria embora de Snowy para sempre.

— Ícaro. — A voz da jovem soou surpresa, ao ver o irmão parado em frente ao lugar onde o pai repousava.

— Sophia. — O irmão mais velho a cumprimentou, sem olhá-la. Sabia que ela estaria lá, afinal, completava oito anos desde que os pais morreram. — Tinha que vir vê-lo. — Se sentiu na necessidade de explicar.

Em silêncio, a princesa se aproximou do mais velho, se colocando ao lado dele e logo a luz bruxuleante da lamparina iluminou a tumba onde o falecido rei descansava e também, os rostos dos dois irmãos. Tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais.

— É sobre seu casamento com a princesa Amapola? — Questionou após alguns minutos em silêncio.

Sabia que Ícaro adiou o momento por anos, e era sempre pressionado pelos conselheiros reais e também, pela família real de Flowers para aceitar o matrimônio, afinal, seria extremamente vantajoso para eles. Mas apenas Sophia sabia o real motivo pelo qual o irmão adiou o noivado e também, qual o motivo que o levara a aceitar.

— Você sabe que sim. — O homem suspirou, sem tirar os olhos do nome do pai, que estava escrito em um cobre brilhante. — Sempre me pergunto o porque de precisar casar por negócios, quando nosso pai se casou por amor. — Murmurou, sem olhar a irmã.

Sophia ponderou por alguns momentos. O irmão sempre a pedia conselhos nos momentos mais difíceis, ela o convencera a aparecer na coroação há oito anos atrás e ela o convencera a aceitar o casamento.

— Sabe que após o casamento de nossos pais, o comercio de Snowy com os outros reinos diminuiu. E apesar de saber que fomos criados para nos casarmos por amor, nosso povo vem em primeiro lugar. — Começou, virando a cabeça para olhá-lo. — Lady Despina estava certa, Ícaro. Não conseguiremos alimentar nosso povo no próximo inverno, nossos estoques estão escassos, não tivemos colheitas o suficiente e o que nossos homens conseguem nas minas e na floresta não suprirá as necessidades de todo o povo. Não podemos ser egoístas e nos colocarmos acima deles. — Suspirou, virando novamente a cabeça, olhando para o mesmo lugar que o irmão.

— As vezes acho que devíamos ter deixado lorde Garland assumir o trono. — Ícaro comentou, ouvindo o esgar de desprezo da irmã e riu. — Tem razão, nosso primo não seria o melhor rei.

A touca da princesa desliza de sua cabeça, revelando os longos fios dourados pálidos, um rosto branco como a neve e lindos olhos verdes, emoldurados por longos cílios claros.

— Não pense assim, irmão. Você poderá amar vossa esposa com o tempo. — Sorriu, voltando a olhá-lo. — Soube que ela é muito bonita e gentil também. Se o povo dela a ama, você também será capaz de fazê-lo.

— E se eu não for? — Questionou angustiado.

— Então deverá ser capaz de respeitá-la acima de tudo. Não seja como nosso primo e nem como nosso tio. Seja como nosso pai, que amou e respeitou nossa mãe até seu ultimo suspiro. — Pediu, o olhando nos olhos. — É tudo o que te peço, Ícaro. Não quero que sofra e nem que a faça sofrer.

O rei suspirou, concordando. Beijou a testa da irmã longamente, em uma despedida muda e se foi, na escuridão das criptas reais, em direção ao ar livre, com certeza de volta para o castelo.

— Eu sei que ele tomará as decisões certas. — Disse em voz alta, levando a mão até o nome a direita.

RAINHA ELEONORA DE MIDDAY

UMA BOA RAINHA E MÃE

DESCANSE EM PAZ

— Sinto saudades mamãe. — Sussurrou, com lágrimas nos olhos.

Se permitiu ficar alguns momentos com os pais, sabia que eles estavam com ela e os amava muito. Respirou fundo, se recompondo e colocou novamente um sorriso nos lábios. Tinha que ser forte, não apenas por si, mas pelo irmão e seu povo, que já passava fome pela escassez de alimento.

— Sophia. — Ouviu uma voz suave e doce, virando-se rapidamente.

Sentiu os olhos se arregalarem, caindo sobre os joelhos imediatamente, em uma longa reverência. A sua frente estava sua senhora e patrona de Snowy, Despina, a deusa das geadas.

— Minha senhora. — O respeito transbordava nas palavras de Sophia, que continuava ajoelhada.

— Levante-se, minha querida seguidora. — A bela mulher de longos cabelos brancos saiu das sombras, se aproximando da garota. — Tenho um recado para você.

Sophia ergueu-se, olhando para a deusa que lhe deu a vida. O brilho curioso iluminava seus olhos verdes, fazendo a temida deusa abrir um sorriso frio. Apenas após a ordem dela, que Ícaro havia aceitado casar-se com Amapola. Fora a primeira vez em anos que a deusa o visitara e ele nunca teria poder o suficiente para desobedecer uma ordem de sua senhora.

— Pois então me fale, minha senhora. — Pediu, ainda mantendo o tom respeitoso.

— Garanta que vosso irmão, Ícaro, case-se com a descendente de minha irmã, Perséfone. — O desgosto estava claro na voz da deusa, quando citou a meia irmã. — Lembre-o que vosso povo depende desse casamento para sobreviver. — Disse em voz baixa.

— Não o deixarei esquecer, minha senhora. — Garantiu, a segurança sendo emanada da pequena garota.

— Ótimo. Virei abençoar o casamento de vosso irmão pessoalmente, até lá, o mantenha na direção certa. — Ordenou, antes de sumir.

Sophia respirou fundo, sabendo que continha certa ameaça nas palavras da deusa. Apesar de Despina ser gentil com o povo de Snowy, também era rígida. Tudo que tinham no reino, haviam conquistado com muito suor, esforço e também, muitas perdas.

Pegou a lamparina, dando uma ultima olhada no nome dos pais e voltou para a entrada das criptas, apagando a lamparina em um sopro. Devia cumprir com a missão que lhe foi dada por sua senhora e assim, garantir a sobrevivência de seu povo no próximo inverno.

Escolhas da RealezaWhere stories live. Discover now