A madrugada fatal (10/09/95)

406 10 1
                                    

Jamais ninguém podia imaginar, que naquele sábado seria virada a última página escrita no diário da minha vida. Na folha seguinte a palavra "FIM".

Recordo-me ainda agora dolorosamente o momento em que entrei no quarto dos meus pais, com todo cuidado para não incomodá-los. Passava pouco da meia noite. Silenciosamente, apanhei o documento da camionete e surrupiei um dinheirinho da carteira de minha mãe.

A minha intenção seria fazer um lanche, comer uma pizza.

Gustavo, meu amigo de infância havia aproveitado o feriadi da Semana pátria para passar uns dias em nossa casa. Em sua companhia, trouxe a inseparável moto que nos exibia com orgulho.

Eu nunca tive prática de pilotar motos, era inexperiente, porém ousado. A idéia de sairmos de moto partiu de mim.

Na ida foi tudo bem. Na volta para a casa, aconteceu o que eu não imaginava acontecer.

Segundos antes do acidente, não tive o controle da moto quando passei por um quebra-molas. Deveria estar numa velocidade de 110 km/h quando fui surpreendido por um cachorro que cruzava a pista. Não me recordo do impacto, que deve ter sido violento.

Misturei-me no meio de curiosos que começavam a chegar. Ouço alguém dizendo "ele está morto!" E no meio da aglomeração, vejo meu corpo estatelado ao meio fio. Fui tomado por uma forte emoção, levei as mãos ao rosto e tive vontade de chorar. Pensei no pai, na minha mãe e em meus irmãos. Em nenhum momento senti dor.

Vi Gustavo em desespero. Não fui percebido nem escutado. Sentia-me numa aflição intensa, sem saber o que fazer. 

Percebi a presença de uma senhora alta, trajando uma túnica marrom. Ela olhava fixo em meus olhos com tamanha serenidade. Que alívio! Naquele instante, comecei a sentir-me como se estivesse anestesiado. Um sentimento de calma e sonolência tomou conta de mim.

Adormeci.

Mãe, eu estou vivo!Onde histórias criam vida. Descubra agora