Tive a impressão que meu julgamento seria um total desastre, hoje decidiriam qual iria ser minha missão.
Cada agente que vive em Caelum tem a função de fazer a vida humana ser melhor. O reino tem um setor próprio para monitoramento da vida humana e quando aparece alguém que não se encaixa na sociedade, somos enviados para ajudá-los. Muitos que sabem a nossa verdadeira identidade, acham que somos anjos, seria até uma honra se fossemos, mas somos apenas agentes criados para não deixar os humanos sucumbir aos impulsos dos sentimentos que levam à morte: tristeza, solidão, raiva, desprezo, decepção, pessimismo, apatia, arrogância, ódio e assim por diante.
Uma característica nossa é que podemos sentir qualquer sentimento humano, mas o que nos faz diferente é que um único sentimento reina, o mesmo revelado apenas quando emitidos para as missões, sendo esse a fonte do nosso poder.Quando me dei conta, os mestres celestiais já estavam dando o veredito. De repente uma voz rouca, inundou a sala.
- Rebeca, 17 anos, vive em uma cidade ao sul, chamada Gramado.
Tentei conter a emoção.
-Uma adolescente? Gramado? Terei parceiros? – perguntei entusiasmada
- Hayley, controle-se, lembre-se do voto. – disse a coordenadora celestial, que cuidava para que os agentes não saissem da linha.
-Desculpe, só estou curiosa. A propósito irei para o ensino médio?
- Chega – gritou a voz rouca sem face – Irá para o ensino médio com o objetivo de ajudar Rebeca a ser sociável, sua missão é individual e será no fim de semana, quando chegar o dia revelaremos seu sentimento. Atenção, aumentamos o nível de dificuldade das missões para sabermos a capacidade de nossos agentes.
Saindo da corte celestial, vi o quão estava distraída pensando em como era esse nível de dificuldade, que acabei trombando com Bob.
- Cuidado, moça. – disse ele.
- Desculpa minha falta de atenção, meu caro senhor.
- Ora, a moça é um brotinho de beleza.
- Obrigada, sou maravilhosa.
Nos entreolhamos e caímos na gargalhada.
Bob sempre foi meu melhor amigo, desde quando me lembro por agente. Ficávamos juntos quase o tempo todo e já fomos emitidos para a terra como parceiro de missão, não preciso nem dizer que suspenderam nossa parceria. Ele era alto, tinha cabelos pretos com um topete muito charmoso, olhos negros, braços fortes e corpo definido como o de um lutador.
- Qual foi seu veredito? - Perguntou.
- Vou para o sul, ajudar uma adolescente. – Afirmei toda empolgada – e o seu?
- Parece muito legal, por outro lado, você não deveria ficar tão empolgada – disse com o tom de preocupação – Irei para o norte, cuidar de um menino revoltado.
- Gostaria que pelo menos fôssemos enviados para o mesmo lugar. Mas me conta, o que acha desse novo nível de dificuldade? – perguntei, sabendo que a resposta seria algo encorajador, já que Bob demonstrava ser invencível e destemido.
- Acho incrível, não existe nenhum obstáculo que não possa vencer. Não fique com medo Hayley, você é mais forte do que pensa. – disse ele, fazendo cócegas em mim e arrancando várias gargalhadas. – Você é muito importante para mim.
-Ah, vai chorar não, né?
- Tarde demais – disse encenando um choro.A semana já tinha demorado muito e quando chegou sexta – feira, as pessoas pareciam desesperadas para arrumar as últimas coisas da cerimonia de envio. Eu por outro lado só queria aproveitar a companhia de Bob.
Sai a procura por todo o reino e não o encontrava em lugar nenhum. Não que nosso lar seja enorme como o dos anjos, mas travessar o setor de monitoramento que vigiava 24h por dia a vida humana, dificultava um pouco encontrar as pessoas. Ao entrar consegui ver algumas telas que travam escrito algumas frases que os humanos costumavam falar com frequência e poderia ser um sinal de que precisaríamos intervir. "quero morrer" ; "não aguento minha vida" ; "odeio todo mundo". Parei atrás de uma agente e a cena de uma menina olhando para o espelho, chorando e apertando a barriga para ver se ficava magra. Uma criança que já tinha perdido a chance de aproveitar a infância por estar sofrendo e ninguém para ajudá-la, era certo que iriamos intervir, pois essa menina poderá despertar ódio pelas outras pessoas. Finalmente saindo do setor, vi Bob sentado em um banco grande e branco com uma rosa em suas mãos.
- Rosa, querida rosa, bem me quer ou mal me quer – disse aproximando-me dele.
- Não me quer? – indagou Bob
- Me daria essa honra? – perguntei – O que faz aqui sozinho? Perdeu a Duna correndo desesperada por terem tirado o tapete azul da cerimônia.
- Imagino o desastre que está do outro lado do setor, mas queria ver minha rosa antes de partir.
A rosa era muito importante, Bob tinha ganhado de uma criança em sua última missão. Havia vários meninos em uma rua qualquer vendendo rosas no trânsito, um se aproximou e lhe entregou a rosa sorrindo e disse "- Sorria, seja grato por sua vida". Desde então ele a guarda em sete chaves, já que a coordenadora celestial não nos deixa ficar com nada da terra.
- Por que está tão triste? - perguntei.
- Hayley, já pensou que poderíamos ser humanos? Ter uma alma, se apaixonar...
- Claro, milhares de vezes. Mas eu gosto do que fazemos, ajudar as pessoas é maravilhoso. Não acha?
Bob apenas concordou com a cabeça e se levantou estendendo a mão. - Me concede uma dança?
- Como assim? -respondi, colocando a mão sobre a boca para disfarçar a risada.
- Quando tava em uma missão, assisti um filme que o cara perguntava isso antes de uma despedida. E aí, vai me conceder ou não ?
- Sim, claro. - disse, esticando a mão para ele.
Bob segurou minha cintura e me conduziu de um lado para o outro com seus olhos fechados, parecia imaginar.
- Descreva o que vê. - disse admirando sua expressão tranquila e bela.
- Estamos em um salão, flores decoração a parede creme em sentido ao teto que suporta um belo Lustre Matteo. A música distante começa a tomar conta do ambiente e nos envolver de um modo inexplicável.
De repente Bob começou a esboçar um sorriso em seu rosto - e agora o que está vendo ? - perguntei curiosa.
- Uau, você está deslumbrante! Está usando um vestido bordô até o pé, um vestido frente única com detalhes bordado, seus cabelos pretos caiam ondulado nas costas, sua afeição branca como neve realçava seus olhos castanhos escuros e seus lábios bem desenhados cor de cereja.
E eu apenas com um terno cinza, um sapato preto e meu lindo topete intacto, sem nenhum fio fora do lugar.*******************************************
O dia tão almejado chegou e como esperado lá estavam todos os agentes, um do lado do outro em uma fila a espera de seus sentimentos. Os mestres celestiais deram o sinal para começarmos a cerimonia.
Em um coro todos os agentes se levantaram e começaram a dizer:
– Prometemos só sentir aquilo que fomos designados para sentir, não deixaremos nada atrapalhar a missão. Eu acredito no sentimento. – Era o voto que fazíamos antes das missões.
Comecei a ouvir alguns nomes e em seguida uma luz branca piscava em torno dos agentes. Bob seria o próximo a partir, então olhou para trás em minha direção e disse com movimentos suaves sem sair o som de sua voz: "vai dar tudo certo!" e sumiu.
Todos os agentes encaminhados, só faltava uma, eu, tranquilamente me dirigi aos mestres e ajoelhei.
- Hayley, sua missão é complicada, está lutando contra um ódio muito poderoso. Tenha cuidado! – os mestres falaram em uníssono. – Mas você é forte e te concedemos a honra de sentir AMOR.
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Caelum: Uma aventura que ninguém nunca imaginou
FantasyRebeca é uma menina que não mede esforços para odiar tudo e a todos. Mas isso tudo muda a partir do momento em que Hayley, uma agente de Caelum, é enviada para mudar essa situação. E fica ainda mais emocionante quando Bob, o melhor amigo de Hayley...