Capítulo 2 - Aplicando a Fé

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Já havia alguns dias que chegamos a Belém, mas conseguir comida para por a mesa era difícil. Apesar de terem grande respeito por Elimeleque, duas viúvas não conseguem muito.

- Rute! Bom dia! – Tamires, amiga de Noemi, me cumprimenta enquanto ando pelo mercado – Como anda Mara?

Noemi ao chegar em sua cidade natal pediu que todos os conhecidos a chamassem de Mara, atualmente só eu a chamava por Noemi. Todos entendem o tamanho de seu sofrimento e decidiram seguir seu pedido. Pelo que pude compreender é um costume entre o povo hebreu mudar de nome caso aconteça em suas vidas e os nomes para eles sempre possuem um significado profundo.

- Olá Tamires, bom dia! Ela tem estado bem... É difícil estar de volta, este lugar tem muitas memórias, mas com certeza é melhor do que estarmos em Moabe como viúvas. – ela acena compreendendo.

Vejo-a procurar algo em sua cesta, põe um pequenino saco de grão para fora, me oferecendo-o. Nego, pois Noemi, apesar de muito grata por toda a bondade que seus amigos demonstram, pediu para que não aceitasse doações.

Tamires, no entanto, sorri e coloca o pequeno saco em minha cesta.

- Vá para casa prepare uma boa comida, não diga quem lhe deu isso. – ela sorri e se vira para ir embora.

Quando estou começando ir, escuto-a chamar meu nome. Me volto para ela com questionamento em meus olhos.

- Você percebeu que estamos em tempos de colheita? – aceno que sim – Acho que você deveria ir a um dos campos, alguns deixam que viúvas e órfãos colham as sobras. Pode ser uma ajuda para vocês. Converse com Mara sobre isso e veja o que ela lhe orienta. – agradeço a informação e volto para casa com as esperanças renovadas.

Não iremos passar fome! Convencerei Noemi a me deixar ir até os campos.

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Depois da parca comida preparada, sirvo-a a Noemi. Minha sogra faz diversos serviços em casa enquanto saio em busca de algo para comermos, mas faço questão de cuidar dela como Malom me pediu, por isso sempre preparo as refeições.

Enquanto comemos me preparo para lhe pedir para ir aos campos de colheita. Sei, entretanto, que é uma decisão perigosa, se os homens de Belém forem tão perversos quanto os de minha cidade natal é um grande risco ir em busca de alimento e voltar como uma mulher violada, mas creio que a informação passada por Tamires é uma orientação do Deus de Noemi, a esperança que senti foi forte demais para ser ignorada.

- Noemi – chamo e ela ergue seus olhos a mim – Deixe-me ir ao campo ver se alguém, em sua bondade, me permite recolher as espigas de cereal que sobrarem.

Noemi me escuta e fica silenciosa por algum tempo, analisando o pedido, talvez considerando os riscos que essa ação pode significar para mim.

- Você sabe os perigos que pode encontrar, correto? Não sei se seria inteligente de minha parte, deixar com que você se arrisque ainda mais por mim.

- Sogra, creio que o teu Deus não deixará que algo me aconteça. Acredito que essa será nossa salvação. Nunca nos faltou nada, mas é tudo tão contado... Vivemos da bondade dos outros e sou jovem, gostaria de trabalhar para ajudar a colocar o alimento em nossa mesa.

Noemi pondera um pouco mais meu pedido.

- Está bem, minha filha, pode ir.

Rute e Boaz - A fanficOnde histórias criam vida. Descubra agora