Vejo as costas de minha cunhada, ou melhor, ex cunhada Orfa, se movendo com seu choro pela despedida. Eu e Noemi acompanhamos sua figura desaparecer no horizonte ao retornar para sua família.
Antes que Noemi comece seu discurso para tentar me convencer a voltar para minha família, já tenho minha decisão e nada que ela fale me fará mudar de ideia. Seu filho mais velho, Malom, foi o grande amor de minha vida e jamais abandonarei sua mãe.
Confesso que nunca imaginei amar tão profundamente o homem hebreu que conheci no mercado...
Em um dia ensolarado no mercado da cidade enquanto eu organizava algumas mercadorias na barraca de meu pai, um homem barbudo, sério e com feições típicas dos hebreus se empenhou em ser atendido por mim, mesmo com minhas irmãs livres, não descansou enquanto não conseguiu minha atenção. Não que fosse difícil para ele conquistar minha atenção, já que eu o notei desde que encostou na barraca.
Depois daquele dia toda semana o homem, que mais tarde descobri se chamar Malom, voltava. Ele não confessava e chegava a comprar produtos que claramente não precisava para disfarçar, mas eu sabia que ele voltava só para me ver.
Lembro do dia que ele finalmente, após meses de cortejo, decidiu falar com meu pai para oficializarmos seja lá o que tínhamos. Pouco tempo depois fui dada em casamento ao hebreu, apesar da resistência de meus pais, devido sua origem e por todos seus costumes diferentes dos nossos, além disso nossos povos já haviam passado por tantos problemas que era incomum um hebreu desejar se casar com uma moabita.
Não era segredo para ninguém que nós nos gostávamos muito, mas após casados nos apaixonamos verdadeiramente um pelo outro e eu aprendi muito sobre o Deus dos hebreus, suas tradições e costumes. Meu marido fazia questão de junto ao meu sogro e ao meu cunhado, irmão mais novo dele, proverem tudo para nós não só fisicamente, mas eles cuidavam de nosso aprendizado sobre a história e religião do povo hebreu.
Malom e Quiliom eram exemplos de maridos, diametralmente opostos dos maridos de minhas irmãs e amigas. Recordo-me de conversar sobre isso com Orfa, pois o cuidado que eles tinham por nós era muito além do que algum dia poderíamos desejar, no meio de nosso povo um homem que demostra carinho para com a esposa é algo raríssimo.
Um tempo depois de nos casarmos, infelizmente, meu sogro Elimeleque faleceu e vi como aquilo machucou meu marido, mesmo que ele não demonstrasse. Vi ele se transformar no homem da família, cuidando de mim e de sua mãe com tamanha destreza que só consigo admira-lo mais a cada dia.
Em todos os anos que compartilhei com essa família aprendi muito sobre o Deus dos hebreus e suas promessas ao seu povo, mas percebi principalmente o quão contrastante toda sua cultura é em comparação com a minha. Ao contrário do que acontecia no meio do meu povo, nós mulheres podíamos ouvir as histórias, participar de alguns rituais sagrados, tínhamos nosso lugar de importância dentro da família, o povo hebreu não fazia oferendas sexuais ou matanças ao seu Deus, como meu povo fazia para seus deuses e ao observar a vida de outras moabitas em casamentos convencionais, ficava obvia a benção que era poder amar e ser amada por Malom.
Mesmo com toda a felicidade em nosso lar, um dia uma grande peste assolou Moabe, levando vários de nossos homens e mulheres, inclusive meu amado Malom e seu irmão Quiliom. Eles se foram antes que eu ou Orfa tivéssemos engravidado para lhes dar descendência e garantir nossos futuros. Como viveríamos sendo 3 viúvas?
Lembro dos olhos delicados e cansados de meu amado marido me fazendo um pedido em seus últimos momentos de vida:
- Rute, meu amor – escuto ele me chamar.
- Sim, meu marido – respondi colocando o pano com água fria em sua testa, afim de aplacar seu estado febril.
Malom tocou minhas mãos, levando-as até seus lábios e beijou-as.
- Quero pedir-lhe para não abandonar minha mãe – ele olhava em meus olhos – Não estou otimista quanto ao meu estado, menos ainda quanto ao estado de Quiliom, acredito que não – interrompi-o colocando meus dedos delicadamente sobre seus lábios
- Malom, por favor, você precisa descansar, pare de pensar essas coisas! Vocês dois irão se recuperar e nós ainda teremos nossos filhos como sonhamos ... – sou interrompida pelo seu toque em meu rosto.
Vejo em seus olhos a certeza de que a vida que desenhamos e sonhamos tantas vezes não irá existir. Ele está certo de que este é o seu fim.
- Não chore, minha Rute – só então percebo as lágrimas descendo em meu rosto, ele as seca com suas mãos ásperas – Esse era o nosso sonho, minha esposa, mas infelizmente, nós dois sabemos que não será possível – ele beija minhas mãos novamente – Me ouça: Fique ao lado de minha mãe, sei que ela não vai querer prender você ou Orfa a ela, mas ela precisa de alguém que cuide dela. Quando for oportuno procure voltar para a terra do meu povo, sei que serão bem tratadas lá. Meu pai era um homem respeitado e temos parentes que poderão cuidar de vocês, nós temos um costume do pa- – ele começa a tossir.
- Depois você me explica melhor sobre isso, meu marido, descanse um pouco. – ele ainda tenta falar, mas o impeço – Fique tranquilo, ficarei com sua mãe. Noemi me trata melhor que minha própria mãe! Jamais a deixaria sozinha!
Vejo um sorriso fraco em seus lábios e sei que o tranquilizei.
Malom nunca me explicou que costume seu povo tem, mas quando ambos os filhos de Noemi faleceram e ela avisou que seu povo estava prosperando, soube imediatamente que deveria acompanha-la, cumprindo minha última promessa a Malom.
- Rute, olhe! Sua cunhada voltou para o povo e para os deuses dela. Você deveria fazer o mesmo, minha filha!
- Noemi, eu já lhe disse uma vez, mas repetirei: Aonde você for, irei; onde você viver, lá viverei. Seu povo será o meu povo e seu Deus, o meu Deus. Onde você morrer, ali morrerei e serei sepultada, que o SENHOR me castigue severamente se eu permitir que qualquer coisa, a não ser a morte, nos separe!
Minha sogra sorri e não discute comigo novamente enquanto caminhamos em direção a um futuro desconhecido, mas certa de que fiz a escolha certa. O Deus dos hebreus tem se mostrado fiel a mim, mesmo após a perda de meu querido marido, ter Noemi é um presente maior do que eu poderia imaginar.
Sei que a vida em uma cidade nova como viúvas não será fácil, mas creio que o Deus de Noemi, ou melhor, Meu Deus será fiel a nós.
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Eu escrevo romances cristãos porque gosto muito do gênero, mas é cada vez mais difícil encontrar um livro romântico sem cenas de sexo explícito ou algo que nossos dogmas cristãos desaprovam. Por isso, quero te pedir se você assim como eu é um louca por livros românticos aprofunde-se na história de uma mulher incrível que contra tudo que a lógica dizia confiou em Deus e agiu em fé.
Vamos aprender com Rute e nos derreter em um romance que minha cabeça criou! Então, já manda para as amigos/os amigos e vamos ficar de coração quentinho com a história de Rute e Boaz!
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Rute e Boaz - A fanfic
RomanceEla mudou de cidade acompanhando a sogra. Em sua busca por um emprego que coloque comida na mesa, ela decide ir até uma fazenda que viu em suas caminhadas. Lá ela conhece o dono das terras: ela captura sua atenção e ele conquista sua confiança. Essa...