O Paraíso Recôndito

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CAPÍTULO 1 – O PARAÍSO RECÔNDITO

Uma mulher baixinha e gorducha postava-se impaciente em frente de uma casinha simples de paredes azul bebê, batendo o pé contra o chão e murmurando algumas palavras quase inaudíveis. Achava inadmissível que sua filha estivesse atrasada para compromisso tão importante: a prova do vestido de noiva!

- Helena? – a voz da senhorinha de cabelos muito brancos aparecendo na porta da casa interrompeu as reclamações silenciosas da mulher – Porque está parada aí, querida, por que não entra? – a senhora voltou a dizer calmamente.

- Ah, madrinha! – Helena respondeu parecendo assustada – Eu não a chamei pois ainda estou à espera de Luiza. A menina não tem jeito, anda sempre atrasada, não respeita a própria mãe. – disse Helena num fôlego só.

- Lhe garanto que ela estará aqui num minutinho, não se preocupe – a senhora a tranquilizou enquanto a guiava até a porta de entrada da cozinha – Estou preparando um chá, você chegou bem a tempo. – voltou a dizer docemente.

Helena sorriu de volta, mas não pareceu deixar a preocupação de lado, se mexia impaciente na cadeira, tamborilando os dedos sobre a mesa de madeira. Estava prestes a abrir a boca para falar novamente sobre a angústia que Luiza estava lhe causando quando ouviu o som da trinca do portão de ferro se abrindo. Uma jovem de vestido preto estampado com folhinhas brancas, carregando uma bolsa de couro transpassada apareceu ofegante na porta.

- Boas tardes, vó Maria! Olá mamãe! – Luiza disse ajeitando uma mecha rebelde do longo cabelo para trás da orelha.

- Onde estava metida, menina? – Helena disparou. Agora estava de pé, a testa franzida.

- Mamãe, desculpe, eu me distraí no caminho. A senhora sabe como eu sou, vi uma borboleta linda perto de nossa casa, ela era azul e... – Antes que a menina pudesse terminar, a mãe interrompeu.

- Sem tolices, Luiza Isabel! Isso é importante. O casamento é daqui algumas semanas filha, e você ainda não provou o vestido!

- O casamento. – Luiza disse num tom contrariado. – Tem certeza que isso é uma boa ideia, mamãe? – Ela arriscou

- Mas que disparate! É claro que é uma boa ideia, minha filha. Manoel é um homem bom, de excelente família. – Helena disse orgulhosa.

- Não acho que ele não seja bom mãe, apenas não sei se o amo. – Disse Luiza encarando o chão.

- Mocinha, escute! – A mãe guinchava com ela quando dona Maria a sobrepôs.

- Não seja tão dura, Helena. – Repreendeu a senhora enquanto punha três xícaras de chá sobre a mesinha quadrada – Me lembro como se fosse ontem do dia em que sua mãe - Ah! Que saudades de sua mãe - lhe disse que um rapaz iria pedir sua mão e você quase fugiu de casa! – Ela lançou um olhar de cumplicidade para Luiza, que sorriu de volta como quem agradece.

Dona Maria era como uma avó para Luiza, e sempre defendia a menina, principalmente quando os ânimos nas conversas com a mãe ficavam exaltados.

- Madrinha, eu era muito moça, além disso, a senhora sabe que logo coloquei minhas ideias no lugar e parei de bobagens. – Helena respondeu mais calma e parecendo um pouco envergonhada.

- O que eu quero dizer... – Helena se voltou para a filha novamente. – É que será bom para você Lulu, assim como foi para mim. – Falou carinhosamente.

Luiza se limitou a dar um suspiro contido. Não estava nem por um minuto contente em se casar. Sabia que ainda tinha muitas coisas para viver antes do matrimônio, coisas maiores! Sonhava em viver aventuras, conhecer novos lugares, novas pessoas. Nunca saíra de Quatro Passos. Nunca tivera amigos de verdade, estava sempre ocupada demais em casa aprendendo a cozinhar com a mãe ou tendo aulas de etiqueta. Nunca conhecera o amor de verdade.

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