2- Despedidas

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Acordo com uma barulho irritante e repetitivo, abro os olhos e pisco algumas vezes até me acostumar com a claridade

- Mia? – assim que minha mãe me chama percebo que o barulho é ela batendo na porta

-  Pode entrar, mãe – falo pra ela enquanto tento encontrar meu celular para olhar as horas – que horas são?

- quase 8 da manhã, precisamos sair e resolver as últimas coisas da viagem

Deito de novo e fecho os olhos, viagem, essa única palavrinha faz minha barriga gelar, todo o mundo que não conheço e quero conhecer, todo o desconhecido que quero tornar conhecido, medo, ansiedade e alegria se misturam, mas me convenço de que tudo vai dar certo e que não tenho do que ter medo

Levanto e vou em direção ao banheiro, tomo banho e me arrumo para sair, quando chego no quarto Thomas está sentado na cama

- não pense que eu não percebi sua cara de choro ontem quando chegou no quintal – ele diz olhando para mim de modo sério

- não pense que eu ligo – digo e ele revira os olhos – só tava conversando com a nonna – explico

- eu sei que no início fui contra, mas o medo que você tá sentindo é absurdo – ele diz e se aproxima mais – estamos com você, uma ligação e estamos lá

- eu sou dramática, mas você se supera – brinco, mas ele continua me olhando sério – é só ansiedade, Thomas, porque convenhamos, eu vivo numa redoma, me deixe sofrer um pouco para aprender algo, me deixe errar sem ter ninguém para concertar pra mim

- que boba, sofrimento não é pré-requisito pra se aprender algo

- você entendeu

- eu entendi, encrenca, você quer deixar todo mundo de cabelo em pé – ele diz e os olhos sorriem - e agora resolveu que quer ser independente

- é o mínimo né, meu filho

- que mínimo, garota – ele brinca e volta a ficar sério – Mia, quero que você viva tudo que tiver que viver sem se preocupar, uma ligação e eu estarei lá, pode ser independente, seja o que quiser ser, mas é nossa menininha e vamos te proteger, não pode mudar isso

- não quero mudar isso

- ótimo, por que senão seria aquela coisa né, mudar o que pode ser mudado, aceitar o que não pode

- como você é ridículo – digo com desdém - tenho que ir, você já me atrasou muito

- falei pra mamãe que queria falar com você, esse negócio de chorar não tá certo, enfrenta as coisas que você inventa, dona encrenca

- eu odeio essa rima – digo fazendo careta

- eu amo – ele diz e se levanta, quando já está fechando a porta eu o chamo

- Thomas? – ele se vira – amo você

- quem não ama? – pergunta dando um daqueles sorrisos cínicos e sai fechando a porta

Desço e saio com minha mãe, a semana passa correndo e todos os dias são parecidos, acordar cedo, resolver e comprar um milhão de coisas, minha mãe me ajuda e me dá dicas todo o tempo

A academia tem aulas teóricas e práticas e tem alojamentos para os estudantes ficarem, vou ficar em um desses, pelo menos por enquanto, eles disponibilizam uma lista de coisas para serem compradas e dou graças a Deus por ela, não pensaria em tantas coisas

Na quinta feira já tenho todos os meus materiais e enxoval comprados, minhas malas estão quase todas fechadas e eu tô cada vez mais ansiosa

Assim que anoitece recebo uma ligação da Bia dizendo que vai passar aqui em casa. Bianca é minha melhor amiga desde sempre, nos conhecemos no centro de arte Galaretto, aos 5 anos, e não nos desgrudamos mais.

Mia GalarettoOnde histórias criam vida. Descubra agora