Primeira porta

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Ele bocejou preguiçosamente, ainda que aparentasse decepção, seu nome ainda estava preso na ponta da língua do garoto de fios azulados.

— Por favor, consegue me explicar onde estamos? — seus olhos seguiram o ‘’antes-felino’’ seguir em uma direção a uma porta, abrindo e entrando na mesma sem dizer nada. Sumindo e voltando ao corredor ao abrir outra porta totalmente diferente, era como se estivessem dentro de um labirinto.

— Você deve saber onde estamos não? — concluiu arredio, passando a língua entre os dentes. ‘’ — Eu sei?’’ cerrou os olhos em confusão. — Foi exatamente o que eu disse. — fixou o olhar em Hoseok, como se contasse cada uma das sardas pintadas em seu rosto.

— Então eu só preciso abrir qualquer uma dessas portas?

— Precisamente.

— Tudo bem... Uni, duni, tê’... — começou a contar. — Essa!

A porta se abriu e quando viu estava mais uma vez dentro de seu apartamento, buscando exatamente qual era a diferença e se tudo aquilo foi apenas um sonho, mas sentir a mão de Jungkook em seu ombro o fez perceber que não, não era. O antes-felino, ou melhor, o rapaz apontou para cima mostrando que as bonecas costuradas não estavam mais penduradas no mobile – agora vazio.

Havia um grande pedaço de jornal em sua cama enrolado em algo, antes de perguntar a si mesmo do que se tratava ele simplesmente o desembrulhou, se deparando com mais uma daquelas chaves estranhas e também uma adorável bonequinha de casaco amarelo com cabelos azulados curtinhos. Era a boneca de Coraline, sua avó.

— Ela sabe que estamos aqui. — Jungkook comentou, abrindo as cortinas e a persiana. No térreo havia uma bela mulher parada no gramado. Quando o Jung olhou de relance para o local ele sentiu seu coração disparar rapidamente assim que seus olhos se encontraram com a vasta penumbra dentro daqueles botões, os lábios dela se curvaram em um largo sorriso – macabro.

Hoseok estava assustado e Jungkook continuava indiferente afinal, ele havia avisado desde o início.

— O que faremos Jungkook? — apertou a boneca contra o seu peito, escorregando na parede e sentando no chão encolhido. ‘’ — Se livre da boneca. ‘’ ele disse, enquanto o Jung encarava a pequena bonequinha de pano e os seus botões, ‘’rápido, não deixe que ela o analise. ‘’ a pegou das mãos do garoto, abriu a janela e a arremessou o mais longe possível. — E agora... ?

Abriram a porta do quarto e tudo pareceu mudar, o corredor do casarão estava diferente e as cores pareciam mais mortas do que em tons verdadeiramente pastéis, os tons de verde musgo tomaram conta do apartamento de Hoseok – como se eles estivessem na casa de outra pessoa – até mesmo o tapete era completamente diferente, havia até um quadro estranho de uma criança com um sorvete.

— Coraline? — ambos ouviram uma voz feminina chamar, Jungkook colocou o indicador contra os lábios do menor o mandando ficar em silêncio. — É você?

A voz vinha da cozinha, eles sabiam.

— Quem é você? — perguntou uma voz estranhamente familiar, um timbre infantil e feminino. Assim que interligou os fatos Hoseok concluiu de que era sua avó, quando ainda era criança.

— Vamos sair daqui. — era como se tivessem voltado ao passado, mas sabia que não era exatamente assim. Logo quando passaram apressados pela porta ele se sentiu aliviado, e um pouco curioso.

Ao acaso, se realmente recordava bem da ordem daquela história – contada repetidas vezes – nesse momento sua avó estaria brincando com os ratinhos falantes, os cantores. A casa não era a mesma do lado de fora, o casarão azul parecia ter sido substituído pela cor rosa, e no apartamento de baixo – onde lembrava ser o de Jimin – se encontrava uma porta envolta de luzes azuis e vermelhas, como em um espetáculo teatral.

— Spink e Forcible... ! — ele sussurrou. — Podemos entrar?

— Não sei você quem é o especialista. — deu de ombros, recebendo uma revirada de olhos do Jung como resposta. — Eu sou apenas o gato preto do andar de baixo, lembra?

— De onde venho os gatos não falam... — resmungou de braços cruzados. — ou ao menos não costumam fazer isso.

— Não?

— Com certeza não. — sorriu mais uma vez de maneira cordiforme, irritando Jungkook de alguma forma. — Podemos entrar ou não?

— Contanto que não faça barulho... — sentiu sua mão ser agarrada pelo Jung antes que entrassem pela porta tão chamativa. Hoseok apertou os dedos do maior quando roçou em algo macio. — Se vai ficar tão assustado com tudo é melhor sairmos.

— Sem chance! — ele esticou a mão e puxou o tecido, abrindo a cortina. Ele sabia muito bem o que acontecia naquela parte, o grande cão escocês trazia uma lanterna no canto de sua boca, iluminando os dois. — Olá. — acenou.

Ele colocou a lanterna no chão e olhou para os dois, um pouco confuso. Os cheirou como se quisesse se familiarizar e em seguida liberou para que passassem, ainda sem soltar sua mão Hoseok o carregou até o que parecia ser um teatro. Fileiras e mais fileiras cheias de poltronas vermelho sangue.

Logo perceberam que os outros ali presentes também eram cachorros, e logo se relembrou que cães e gatos não costumam se dar muito bem. Jungkook parecia incomodado, na verdade ele parecia estar assim o tempo inteiro. Mal conseguiu prestar atenção no espetáculo, já que olhava para todos os lados a todo o momento, Hoseok logo começou a se perguntar se havia feito uma boa escolha.

Mesmo que estivesse divertido ver a senhorita Spink e a senhorita Forcible se apresentarem daquela maneira, quando Coraline subiu no palco, como voluntária ele passou a se preocupar com o que aconteceriam se sua avó o visse ali no meio dos cães.

— Jungkook, vamos sair daqui. — sussurrou ouvindo um suspiro de alivio vindo do rapaz.

— Posso pedir uma salva de palmas para a jovem voluntária? — os cachorros latiram alto, abanando o rabo enquanto a garota permanecia de pé no palco ainda com as duas moças. Jungkook queria sair dali o mais rápido possível.

Estavam mais uma vez pisando sobre o gramado, apesar de ainda ser o mesmo chão o qual estava ficando acostumado em caminhar quase todos os dias ele ainda se sentia completamente estranho, como se não pertencesse àquele lugar.

— Como faremos para voltar? — perguntou desconfortável, mesmo sabendo que cedo ou tarde seria obrigado a voltar para aquele lugar, seja por vontade própria ou não. ‘’ — Dormir é uma maneira. ‘’ respondeu, mas onde ele dormiria?

— Humanos precisam de um lugar confortável para dormir não é? — se sentou sobre algumas pedras ao redor do canteiro de flores. ‘’ — Bom... Sim... ‘’ coçou a nuca. — Você pode deitar no meu colo.

— Sério?! — sorriu largo, se aproximando rápido de Jungkook antes que ele mudasse de ideia. Deitou sua cabeça no colo, observando o rosto bonito do rapaz por outra perspectiva, vendo-o lançar lhe um olhar esquisito. Seu coração apertou por alguns segundos até sentir o maior soprando de leve contra o seu rosto, o refrescando cuidadosamente até que ele pegasse no sono.

Hoseok se encontrou no vazio ouvindo as vozes descritas como estranhas uma vez pela sua avó, como se estivesse vivendo o passado no lugar dela, mesmo já sabendo como aquilo terminaria. Fechou os olhos dentro da própria escuridão.

O ronronar contra o seu peito o despertou rapidamente, as orbes felinas e azuladas brilharam em seu olhar fosco.

Estava em casa mais uma vez.

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⏰ Última atualização: May 31, 2020 ⏰

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