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Ela não era ruim em relação ao amor, nunca o negou de imediato quando batia em sua porta ou o arrastou a força para fora de seu coração, ela somente não tinha tido uma ajuda bem vinda do destino, resultando em términos estressantes e por vezes traumáticos. Poderia dizer sem dúvida nenhuma que estava aposentada para o amor, cansou do que ele lhe trouxe e faria de tudo para realmente o enxotar de sua frente caso ele tentasse outra vez. Aos seus vinte e sete anos, tudo o que Charlotte queria era não ter mais seu coração balançando pelo homem que rodopiava ao redor do salão com sua agora esposa nos braços. Se falarem que isso não é um término traumático ela pode desconsiderar a existência dessa pessoa da face da terra.

Sabia que era totalmente ilusório afirmar que aquela situação era um término, até porque ele não tinha consciência de seus sentimentos, mas a Page queria acreditar que sim, afinal ela o havia acabado de escutar derramar inúmeras promessas de amor e fidelidade em cima do altar que, detalhe, ela também ocupava. Como não era um término se todas as suas esperanças foram dizimadas quando ele disse sim? Aceitar ser dama de honra da noiva dele talvez tenha sido idiotice, mas ele era seu melhor amigo apesar de tudo e Charlotte não conseguiria dizer não para aquele idiota com um dos sorrisos mais lindos que ela já viu.

Ainda observava os noivos dançarem uma valsa tecnicamente incorreta, em sua mesa estava uma garrafa de champanhe e sua taça balançava entre seus dedos, ignorava a todo custo o outro padrinho que a contava uma história infinita sobre seu mochilão à Europa. Levou o líquido borbulhante à boca e saboreou com alívio a sensação de tê-lo descendo por sua garganta. Estava calculando quantos minutos ainda conseguiria ficar naquela festa, não queria ser rude ao sair em pouco tempo, mas deveria ser sincera consigo mesma e confessar que tudo o que queria era ir para casa e passar o resto de seu dia em frente à TV, comendo toneladas de lanches que fariam sua mãe surtar enquanto assistia a uma comédia romântica duvidosa, mas cheia de clichês.

Suas unhas batiam no tampo da mesa ao ritmo da música que começara a tocar, olhou ao redor constatando que boa parte dos convidados já estava bêbada, os noivos também se encontravam em um estado parecido, era a sua chance. Doug, o padrinho prepotente, ainda tagarelava sem notar seu óbvio desinteresse, ela tinha que acabar com aquilo.

- Doug. - o chamou, não obtendo resultado. - Doug. -tentou um tom mais alto e irritado que o fez se calar a contra gosto. - Detesto te deixar aqui sozinho, mas tenho algo urgente para fazer.

Desculpa cheia de furos, mas pelo menos era uma desculpa. Não podia irritar logo o irmão da noiva, se continuasse sendo melhor amiga do noivo, o que queria, deveria se dar bem com a nova familia dele ou os encontros seriam desastrosos. Levantou-se da mesa e começou a caminhar em direção à saída mais próxima, olhava para os lados se permitindo respirar aliviada quando nenhum conhecido parecia ter notado sua discreta saída. Empurrou as portas do salão e saiu para o corredor que dava na entrada do hotel, era um lugar ricamente decorado e claramente caro. Não gostava de toda aquela ostentação, mas não iria abrir a boca e dizer que seu amigo nunca escolheria um lugar como aquele, teve que guardar inúmeras opiniões e críticas para si durante longos e arrastados meses.

Assim que chegou ao saguão quase correu para sair do prédio, apertava a clutch preta na mão direita e com a esquerda segurava a barra do vestido laranja que foi escolhido para ela. Se não detestava a noiva antes, depois de ela ter escolhido aquele laranja abóbora horroroso como a cor do vestido das damas de honra, tinha a certeza de que faria de tudo para não estar sozinha no mesmo ambiente que ela ou haveria um assassinato, e Charlotte realmente não queria passar o resto dos seus dias na cadeia.

Quando enfim chamou a calçada do hotel quase riu de alegria, tudo o que precisava era encontrar um táxi ou pedir um carro pelo aplicativo e finalmente estaria em casa, longe de Jack Swagger e sua noiva irritantemente perfeita. Começou a caminhar para mais perto do meio fio, com o celular em mãos esperava que o aplicativo carregasse. Estava distraída, deveria realmente estar para não ver a bicicleta que subiu para a calçada e seguia rápida em sua direção. Um grito alto e estridente a fez virar no instante em que sentiu seu corpo ser jogado para trás e cair de costas no chão de concreto, sentiu sua cabeça bater forte em algo. A última imagem que registrou foi de uma roda girando antes de se entregar a escuridão.

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