What changed your mind?

Pausa

- Beth. – ele se aconchegou no algodão fresco, e limpo, do lençol do caixão. Era muito para se pedir num mundo apocalíptico.

- O quê?

- Canta alguma coisa? – disse, não deixando de observá-la desde o momento que a escutara antes mesmo de entrar no quarto. Ela parou de tocar melodias aleatórias no piano. Virou para ele, que olhava-a.

-  Achei que minha voz te irritasse.

- Não tem nenhuma caixa de som por aqui. – afirmou, com o olhar preso a ela.

- Tudo bem. – consentiu, ainda encarando-o. Daryl sempre havia sido um homem com o qual ela nunca achou que teria uma troca de olhar sequer. Mas parecia que ele não a via mais como uma garota morta. Calculando as teclas que iria tocar, observava-as com muita cautela antes de começar a sua música. Sabia que dessa vez, alguém estaria a escutando.

Now I've got friendships to mend
I'm selfishly dispossessed
You don't wanna be my boyfriend
And that's probably for the best
Because that, that gets messy
And you will hurt me
Or I'll disappear
So we will drink beer all day
And our guards will give way
And we'll be good 

Daryl dormiu antes mesmo que percebesse, e sua noite de sono durou por mais de horas. Algo que não acontecia em, talvez, anos. Durante a noite, Beth estava bem abaixo dele, no chão, acima de um colchão que deve ter pego noutro quarto, onde poderia muito bem ter dormido com mais conforto. A luz da manhã finalmente chegou, e percorreu pelo rosto ríspido de Daryl, que se escondia do sol fechando os olhos, apertando-os com seus dedos, depois deslizando suas mãos pelo rosto, massageando-o. Não sabendo o que havia o atingido, sentou-se, e simplesmente pensou que precisava buscar por alimentos, e que precisava melhorar a segurança da casa, e que... Olhou para baixo, no momento que decidiu começar o dia e levantar-se, e lembrou-se, ao ver aquele colchão bagunçado e vazio. Beth. E lembrou-se de sua voz, que trouxe a ele sonhos novamente durante a noite. O que eu precisava... É... Ah, sim. Comida. Indo em direção a sua besta, gritou:

-       Beth? – descendo os degraus da escada, continuava chamando por ela.

-       Beth... – na cozinha, ela estava organizando toda a comida que tinha na casa, e, surpreendentemente, parecia ter de monte.

-       Olha. Eu encontrei toda a comida daqui! E até mesmo peguei mais comida lá fora. – a garota parecia contente e orgulhosa. – E eu deixei sua besta no mesmo lugar que você deixou ontem.

-       Você usou a besta? – Daryl, ainda acordando, parecia ter se inflamado num tanto, não porquê ela não poderia mexer na sua arma, mas porquê ele não deu todas as instruções necessárias para ela usá-la com segurança. – Eu não disse que você podia usá-la...

-       Daryl, olha só tudo o que eu trouxe. – interrompeu Beth, que pareceu ignorar o sermão sonolento dele, ainda sorrindo. – Eu encontrei amoras. Sabe quanto tempo faz desde que eu não como amoras? – Beth olhou para ele, que parecia um tanto perplexo com a situação. - Por que você não se senta?

-       Você fez isso tudo mesmo. – encarou o banquete à sua frente. Torradas velhas com manteiga quase expirando a validade, uma tigela com amoras, e até mesmo café. – Que café-da-manhã. – falou consigo mesmo.

-       E para mais tarde, tem esquilo frito. – ajeitou-se na mesa, e pegou sua tigela de amoras, deliciando-se. – Como está?

-       A torrada nem está tão velha assim. – comentou Daryl, encarando a mesa, pensativo. – Devíamos pensar em melhorar a defesa dessa casa, agora que você já caçou a comida.

-       Você está pensando em ficar? – Beth surpreendeu-se.

-       Por ora, é bom tomarmos cuidado para que nenhuma horda de errantes entre tão facilmente aqui. – virou seu olhar a ela - Mas... por que não? – e ela, corou com a resposta. Oh. – e comeu mais uma amora.

-       Amoras são mesmo boas. – afirmou Daryl, com um leve sorriso que se formava no canto de sua boca. Beth respondeu com um sorriso nítido.