É justo que depois das minhas férias na Europa eu tenha que lidar com meu pai e um evento que organizou com os seus sócios. Enquanto ainda vivo debaixo do seu teto, tenho que respeitar suas regras.
Estaria menos irritada se o vestido coubesse, mas os quilos que ganhei recentemente não facilitam. O vestido está todo colado em meu corpo, o que não é bom. Tenho um corpo muito chamativo, não posso aparecer com ele porque seria atentado ao pudor. Queria usar um pijama confortável nesse momento ou ficar no quarto a dormir, mas não tive essa sorte.
Procuro um vestido melhor porque realmente quero estar bonita. Não quero que o filho de Anthony Perri pense que sou desleixada. Nenhuma mulher gosta de parecer desleixada quando está na frente de um homem, mesmo que não o conheça. Também não importa o que ele vai pensar sobre isso, só quero estar apresentável.
Meu pai é sócio de Anthony Perri e juntos criaram uma grande empresa de telecomunicações chamada Yellow. Nunca conheci o senhor Perri ou seu filho pessoalmente, apenas vi em algumas revistas e sempre dei desculpas para não conhecer aqueles homens. Dessa vez, não consegui escapar.
Uso o vestido preto justo, mas esse eu não tenho problemas em usá-lo porque fica-me muito bem e combina com os meus saltos altos vermelhos. Envolvo meus cabelos em um coque alto e uso batom, mas não me sinto muito à vontade para esse evento, mesmo que ao olhar para o espelho eu veja uma deusa.
Saio do quarto, onde dois homens esperam por mim impacientemente. Eu nem dei o melhor de mim, não demorei quase nada, mas eles sempre insistem em exagerar. Só espero que não estejam sempre no meu pé quando um homem vier até mim. Meu pai faz isso ao usar o olhar, mas o meu irmão Isaac, bem, ele é super protetor, mas ele é assim porque quer que eu esteja bem.
Isaac é meu irmão gémeo e desde pequenos que discutiamos, lutavamos, não dávamos paz aos nossos pais. Isaac sempre tentava ofuscar o meu brilho. Tudo o que fazia, estudar para ter as melhores notas, treinar para ser melhor bailarino, tudo isso era simplesmente para ser melhor do que eu. Mas o tempo passou e ele passou a ser um homem responsável e mais maduro. Dizem que homem só atinge a maturidade aos trinta, mas ele conseguiu muito antes. Isaac é o melhor homem que eu conheço. E ele só tem vinte e três anos.
Vivemos os três na nossa casa. Minha mãe vive na Inglaterra com o meu padrasto, mas vem quando pode. Ela estava cansada do amargurado do meu pai e decidiu casar com um inglês deveras interessante. Meu pai não tem um relacionamento com ninguém desde então. Ele tem pensamentos e princípios antiquados. Muitas vezes, até tenho medo das nossas conversas.
— Pronta? — Pergunta meu pai, olhando para o relógio impaciente. Foi ele que me obrigou a ir nesse evento.
— Estou pronta.
Isaac levanta do sofá em um movimento rápido. — Finalmente! Vamos embora.
— Sim, mas para deixar claro, essa noite, não quero ninguém atrás de mim. Eu sou adulta!
Isaac ri. — Eu sou o mais velho porque nasci primeiro.
Nosso pai sorri. — É verdade. Ele nasceu uma hora antes.
— Mas o alarde do seu filho não precisava saber disso. — Reviro os olhos.
— Podemos ir?
— Sim. — Dissemos em uníssono.
Saímos de casa e encontramos o motorista que nos aguarda. Morial trabalha para o meu pai há dez anos, o que significava que já me apeguei a ele. Também tenho um carinho muito especial pela nossa empregada doméstica, Karina.
Morial abre a porta para nós e sorri para mim e para Isaac antes de entrarmos. Claro que o sorriso é devolvido. Isaac senta ao meu lado e mostra um vídeo de gatinhos para mim porque sabe que adoro vídeo de gatinhos. Ele é o melhor irmão do mundo, pode acreditar.
Vemos vários vídeos juntos até que o carro finalmente pára. Estaria na minha cama nesse momento, mas o que eu posso fazer? Meu pai queria muito a minha presença.
Isaac trabalha com o meu pai na Yellow, por isso está aqui porque tem essa obrigação. Todas as pessoas que eu conheço trabalham na Yellow, quer dizer, as que mais têm convivência comigo, exceto Israel, meu amigo que trabalha comigo.
Desçemos todos do carro e encaramos a noite fria. Quando entramos num grande salão, o que chama a minha atenção é a decoração em prateado e a palavra YELLOW por cima de um pequeno palco, e por trás dele, um grande ecrã com a mesma palavra. Há muitas pessoas que não conheço vestidas a rigor, a música é suave, os garçons parecem profissionais, tudo aqui deixa o clima sumptuoso. O engraçado é que eu preferia mesmo estar numa cama nesse momento.
Também não é difícil encontrar os sócios do meu pai, porque pessoas como eles não podem ser simplesmente ignoradas. Derek Fitzgerald é um homem com quarenta e muitos anos, mas é muito sexy, tem um olhar sedutor, um corpo bem cuidado, cabelos brancos que o deixam ainda mais irresistível, porém não é homem para mim. Não me atraio por homens mais velhos. Há também o Anthony Perri que é mais velho, talvez cinquenta e alguma coisa, mas não parece um amargurado. Na verdade, nenhum deles parece, infelizmente do meu pai não posso dizer o mesmo.
Mas eles não são os únicos que chamam atenção aqui. Fico totalmente eriçada quando noto aquele homem alto, atraente e com um sorriso encantador. Sem dúvida nenhuma que essa figura sublime seja o filho de Anthony Perri.
Não percebo quando meu pai me guia até eles, apenas deixo que meus pés continuem, mesmo que minha mente esteja a digerir todas as novas informações que acabo de receber. Isaac é o primeiro a chegar e aperta a mão daqueles homens interessantes e muito famosos. Meu pai é o próximo, quando chega a minha vez, todos olham para mim.
Não posso mentir que não gosto quando os três olham para mim, com os olhos viajando por todo o meu corpo e voltando para o meu rosto. Fitzgerald e Perri sorriem, mas o mais jovem permanece sério e encara-me como se podesse ler a minha mente.
— Essa é a minha filha, Victoria! — As palavras do meu pai tiram-me do transe.
— Muito prazer, Victoria! — Fitzgerald é o primeiro a apertar a minha mão, depois Perri. Por fim, o homem mais jovem exita por um instante, mas termina por apertar a minha mão muito rápido, como se eu o estivesse a queimar.
Não sei porquê, mas isso faz-me sentir péssima. Nem devia importar, mas importa. Seus olhos negros não desviam dos meus, deixando-me um tanto desconfortável, por isso desvio os olhos e finjo procurar por alguém. Para a minha sorte, vejo Morgan e Patrícia numa mesa e vejo a minha oportunidade para escapar daqui.
— Foi um prazer conhecê-los. Mas infelizmente agora tenho que resolver algumas coisas. — Olho para o Perri filho. Ele deixa-me nervosa e isso nem devia acontecer porque não nos conhecemos. — Com licença!
Afasto-me, desejando profundamente que não estejam a olhar para o meu traseiro, mas não consigo me conter e olho por cima do ombro para me certificar disso. Apenas o homem mais jovem olha para mim e nem tenta disfarçar. Volto a minha atenção para as minhas amigas que sorriem quando me vêem chegar.
— Oi! — Sorrio, ainda nervosa por saber que um homem não pára de me observar.
— Que linda, Victoria! — Morgan levanta para me abraçar.
— Posso dizer o mesmo de você. — Olho para ela.
Morgan é alta e tem um corpo incrível. O seu vestido vermelho faz jus às suas curvas e tenho a certeza que deve ter deixado vários homens com o queixo caído. Patrícia também está muito bonita com o vestido comprido cinza e seu penteado de princesa.
Ambas trabalham na Yellow, assim como meu irmão Isaac, que tem uma paixão secreta por Patrícia. Patrícia é secretária do meu pai e ela é noiva, mas é a mulher mais insegura e com pouca autoestima que conheço. Acho que seu noivo se aproveita disso, o que só de pensar me deixa completamente irritada. Morgan é secretária do Anthony Perri e é também é um pouco delicada, mas ela gosta que todos a vejam como uma mulher forte. Morgan também tem um noivo, mas ele não parece o homem certo para ela.
Sento-me na mesa com elas e bebo o champanhe de Patrícia. Ainda preferia estar na minha cama, mas com minhas amigas aqui eu posso suportar qualquer coisa.
— Acabei de conhecer os sócios do meu pai. Quer dizer, eu já os conhecia, mas não pessoalmente.
Patrícia ri. — E o que achou deles?
— Eu não sei.
Morgan olha para eles por alguns instantes. — Eu posso dizer que um deles achou você interessante.
Eu sei a quem se refere porque o Perri filho ainda olha para mim. Não para Morgan ou Patrícia que são também belas mulheres, mas para mim. Eu, Victoria!
— O filho de Anthony Perri? — Nem devia perguntar o óbvio.
— O nome dele também é Anthony Perri. — Morgan responde.
— O quê?
— Anthony Perri Júnior. — Completa Patrícia.
— Ele é...
— Atraente? Lindo? Sexy? — Morgan Pergunta.
Olho para a taça em minhas mãos. — Eu ia dizer estranho.
— Ele não é estranho.
— Isso é porque não o conhece. Eu convivo com ele e com o pai dele todos os dias.
— Não seria você se não soubesse nada sobre ele. — Patrícia pára um dos garçons e tira outra taça de champanhe.
— Infelizmente, eu acho que ele tem namorada. — Morgan desvia seus olhos verdes para ele.
— Claro que tem. Eu sou a única pessoa desse mundo que está solteira.
Minhas amigas riem. — Não exagera. — Patrícia diz. — Isaac também está.
Isso é porque ele está apaixonado por você!
— Somos os irmãos gémeos solteiros então. Mas Isaac está solteiro por escolha. Eu não encontro ninguém.
Morgan toca o meu rosto. — Porque você não pára de pensar nisso. Quando cansar de procurar um namorado, ele vai aparecer.
— É difícil não pensar nessas coisas. Por vezes, eu estou sozinha e quero muito um abraço, entende? Sinto falta do calor masculino. — Olho para o Perri filho.
— Mas com certeza que não é de um homem comprometido. Além disso, ele é doze anos mais velho que você. — Morgan dá mais uma notícia ruim.
Ela sabe que não gosto de homens muito mais velhos de mim. Por enquanto, eu prefiro homens abaixo dos trinta porque tenho vinte e três. Mas Morgan sempre diz que não faz bem escolher muito, só que é praticamente impossível para mim.
Volto a olhar na direção dos famosos homens de negócios, mas o Perri filho desapareceu. Estranhamente, meu irmão também. Contudo, nem devia me importar com tudo isso. Quem olha para mim agora é o Perri pai, deixando-me tão desconfortável que tudo o que eu faço é desviar o olhar para minhas mãos. Talvez seja impressão minha. Ele sabe que tenho idade para ser sua filha.
— Vocês têm planos para amanhã? — Pergunto.
— Infelizmente, eu tenho. Vou sair com o meu noivo. — Patrícia sorri.
— Idem. — Morgan morde o lábio inferior. — Você vai encontrar alguma coisa para fazer.
Foi por isso que fui para França sozinha na semana passada. Dificilmente vejo minhas amigas e fico sozinha quase todos os finais de semana. Isaac também fica ocupado, então eu fico com os meus pensamentos e leio alguns livros.
— Eu sei que acabei de chegar, mas já quero ir embora.
Patrícia ri. — Isso nós sabemos. Você tem a fama de desaparecer das festas. E nunca nos avisa.
— Sabe que isso é horrível, não é? — Morgan olha para o telefone.
Oiço passos atrás de mim e sinto o cheiro de um perfume familiar que eu amo. — Então? Ninguém vai dançar? — Isaac está atrás de mim.
Tenho medo de virar e encontrar Perri com ele. Minha amigas riem e olham para mim. Levanto-me e viro para Isaac, que para a minha sorte está sozinho.
— Vou retocar a maquiagem. — Digo. Ele revira os olhos e ocupa o meu lugar.
— Então, ainda tenho uma hora.
É a minha vez de revirar os olhos e procuro pelos corredores que dão para uma outra saída. Na realidade, não quero retocar a maquiagem, eu só quero sair daqui sem que meu pai perceba. Sem que ninguém perceba. Patrícia estava certa quando disse que fujo em todas as festas. Isso é porque não sou uma pessoa normal.
Queria desaparecer sem deixar rastro ou ser vista, mas não tenho essa sorte quando Perri filho aparece na minha frente no corredor escuro. Parece que estava à espera de alguém, como os bandidos dos filmes, com as costas na parede, as mãos nos bolsos e seus olhos negros em mim.
Arrepios percorrem todo o meu corpo e tento passar por ele como se não o tivesse visto, mas o que acontece? Ele segura o meu braço e vira meu corpo para si.
Quero poder fugir daqui, mas ele não permite. Perri Júnior tem um metro e oitenta de puro charme e beleza, olhos penetrantes, cabelos escuros e muito sedosos, um cheiro divinal e parece homem de atitude. Admito que uma parte de mim também não permite que eu fuja.
— Aonde vai, Victoria?
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Improvável - Corações em conflitos - Livro 1 [COMPLETO NA AMAZON]
RomansaLivro um Victoria Eu não me importava. Até que meu pai disse que nunca deveria me aproximar dele. Não era porque Tony Perri era um homem ruim ou porque iria brincar com os meus sentimentos. Era porque era "diferente" de mim. Então, aquele...