Nudez

nudez da alma, camadas e lutas

Suspirei pela centésima vez em apenas uma hora. Durante esse tempo todo, estive sentada diante do meu notebook, tentando escrever um anúncio que tornasse menos suja possível a proposta de pessoas ficarem nuas na minha frente. Pensei em colocar, abre aspas: É tudo pela arte!, fecha aspas. Porém, desisti meio minuto depois, quando Taehyun passou por trás da minha escrivaninha indo em direção ao banheiro do quarto que dividiamos no dormitório e cantarolou um "Parece algo que um assediador diria, apague isso".

- Você cursa Literatura, é muito boa com palavras... - Quando minha melhor amiga saiu do banho, tentei fazer minha expressão de derrota para derreter o coração dela, decidindo usar também minha cartada final: - Por favor, Taetae.

Taehyun rolou os olhos, vindo até minha escrivaninha e empurrando minha cadeira para o lado, se curvando levemente para checar o que eu havia escrito. Ela apagou algumas palavras e as substituiu, corrigiu outras e depois voltou a sua postura reta, me olhando com divertimento.

- Você só tem que falar sobre o objetivo do seu projeto, que não é só sobre... ficar sem roupa na sua frente. Foi uma experiência muito importante para mim, quando você me pediu isso. - Tae colocou uma mecha de meu cabelo revolto atrás de minha orelha e me olhou com carinho. - Escreva sobre isso e vai ficar tudo bem. Depois vou dar outra checada antes de começar meu artigo. Relaxe.

- Okay, obrigada, eu te amo.

Taehyun riu e foi novamente para o banheiro, uma escova na mão para pentear seus longos cabelos, como fazia terapeuticamente sempre que tomava banho.

Fiz o que Taehyun me aconselhou e me abri sobre o objetivo do meu projeto, o sentido de porque, dentre tantas coisas, decidi desenhar e pintar pessoas nuas para o projeto final daquele ano. Eu estava em meu segundo ano no curso de Artes Plásticas e realmente havia me encontrado naquilo, depois de anos de indecisão e ansiedade no ensino médio. Depois de escrever mais um pouco e de Taehyun corrigir mais algumas coisas, postei como anúncio no jornal online do campus, com meu nome e número de contato bem no topo:

"Nudez da Alma.

Sou do segundo ano do curso de Artes Plásticas e como projeto final desse ano, decidi pintar a nudez. Não pretendo retratar somente a nudez corporal, mas sim, através dela, revelar a nudez interior. Todos os medos, angústias e belezas ainda não descobertas por si mesmo. Não pretendo revelar esses pequenos e grandes segredos ao mundo, mas sim fazer com que possam se autodescobrir através dessa experiência. E claro, com sua permissão, expor meu projeto e pinturas em classe."

- Estou orgulhosa de você, querida. - Quando Taehyun vem checar, me dá tapinhas suaves na cabeça e também me mostra seu polegar para cima. - Isso está ótimo.

- Finalmente! - Respirei fundo e cliquei em "postar".

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O anúncio deu bons resultados. Claro que aparecia algum engraçadinho aqui e ali, fazendo piadinhas e jogando cantadas baratas para o meu número de celular, um idiota pervertido até mesmo me enviou uma foto - nada artística - seminu, o que gerou em meu celular sendo atirado na cama de Taehyun, atingindo os livros da garota que estudava pacificamente.

Mas valeu a pena, pois algumas pessoas seriamente aceitaram me contatar para perguntar mais sobre o projeto, como seriam as pinturas... Era incrível ter alguém interessado em minha arte, não sendo meus pais, professores ou Taehyun, mas um público. Um público realmente interessado simplesmente pela ideia. Comecei a limpar minha agenda a cada semana para cada uma das pessoas que aceitaram participar, então eu não teria qualquer horário livre das sessões de pintura, apenas a noite e quando estivesse em aula.

Pintar alguém nu era um processo gradual, intenso e reconfortante: pintar não apenas a nudez do corpo, mas também a nudez de suas próprias camadas emocionais. Ouvir a pessoa falar sobre suas inseguranças como se estivesse tirando peça por peça de roupa, ou até mesmo demonstrá-las em alguma posição, algum gesto ou expressão, esse era o propósito.