Enchantée

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— Não sabia que você ia estudar a anatomia humana. — Nesse momento já tinham feito uma rodinha ao redor da gente e eu precisava falar um pouco mais alto.

— Para de fazer cena, você não é assim. — Não conseguia entender se ele estava ficando irritado ou envergonhado.

— Eu não sou assim? — Arqueei a sobrancelha — Eu sempre fui assim. É uma pena eu ter mudado quem realmente sou por alguém tão falso que nem você. — Ele revirou os olhos logo após ouvir o que eu disse.

Subi na bancada que tinha perto da churrasqueira e olhei para o público que nos assistia naquele instante. Zoe encarava Becky com uma cara de "Filha da puta, olha o que você fez"

Bom, não fora ela mas ela me deu mais coragem ainda.

Tentei pegar um pouco mais de força pra falar, eu já conseguia ver o mundo rodando como o kamikaze do parque de diversões.

— Vocês estão vendo esse cara? — Apontei, tentando não perder o equilíbrio — O nome dele é Nicholas, meu namorado. Ele disse pra mim que não poderia me mandar mensagem pois hoje estaria estudando. — Ri. — Repito, es tu dan do. Bom, não é bem o que parece. Mas não tem problema.

Nesse momento as pessoas me olhavam se questionando o porquê de não ter problema.

O motivo das pessoas usarem md é porque essa substância aflora suas emoções, você fica elétrico, sociável, com prazer. Eu não sentia tristeza, eu sentia raiva, meu desejo era vingança. Eu gostava da euforia que essa droga era capaz de proporcionar e nesse momento estava sendo perfeito. Meu maior defeito é querer fazer a pessoa sentir muito mais do que eu senti, se a pessoa me machuca, eu vou querer triplicar a dor dela. Não gosto disso, mas faz parte de mim.

De todas as pessoas que nos olhavámos, escolhi uma aleatoriamente. Desci da bancada e fui até ela.

— Você namora? — Ele balançou a cabeça, negando porém confuso — Perfeito.

Trouxe ele para o meio da roda e sem pensar duas vezes o puxei para um beijo. No início, por susto — acredito eu — ele tentou parar mas depois cedeu. Pude sentir olhares rodeando a gente e pessoas sussurrando "Ela é louca" "Desnecessária" "Homem de sorte, escolhido por Deus". Eu não me importei.

Meu corpo e meus lábios estavam dormentes, por conta do efeito do álcool — a droga aprimoraria a sensação — eu não estava sentindo nada.

Parei o beijo e me virei para o Nic. Ele estava catatônico, coitado. "Coitado? Não, Saturne, ele mereceu." pensei, dando esporro a mim mesma.

— Parabéns, o que você ganhou com isso? Você é podre. Sempre soube que era uma piranha.

— Então quer dizer que não posso agir da mesma forma que você que eu me transformo em uma piranha? — Ri de indignação. — Então prazer, maior piranha de Nova York.

— Você acha que é bonito ser reconhecida dessa forma? — A expressão dele era irreconhecível, eu já não estava falando com o Nic e sim com outra pessoa — Você não passa de uma vadiazinha que só pensa no próprio rabo.

E do nada eu me encontrei com a minha mão ardendo pelo tapa que dei no rosto dele. Eu não tive nem tempo de raciocinar a minha atitude, Nicholas revidou com um soco.

Virou um filme nós dois éramos os personagens principais.

Minha visão ficou preta, meu corpo mole, meu nariz e minha boca não paravam de sangra, eu me encontrava no chão feito uma boneca de pano. Eu só podia ouvir as pessoas conversando entre si e a voz de dois garotos gritando.

— Seu desgraçado! — Sua voz estava repleta de raiva — Você iria gostar que fizessem isso com sua mãe, seu drogado de merda?

Drogado?

Call it Fate, Call it KarmaOnde histórias criam vida. Descubra agora