Em outro ponto do bosque.
Entra Titânia, Rainha das Fadas e dos Duendes, com seu Séquito.
Titânia – Vamos lá, agora uma dança de roda e uma canção de fadas; depois, na última terceira parte de um minuto, todos embora daqui. Alguns, para matar lagartas nas rosas em botão; outros vão guerrear com os morcegos por suas asas feitas de couro, para delas fazer os meus casaquinhos de elfos; e outros ainda devem manter afastada a coruja gritalhona, que toda noite pia, admirada com nossos espíritos tão delicados, tão deliciosos. Cantem agora, para que eu possa adormecer. Depois, ao trabalho, e deixem-me repousar.
As Fadas e os Duendes cantam.
Primeira Fada –
Cobras de couro manchado, língua bifurcada,
E também você, porco-espinho, não façam nada.
Salamandras, cobras-de-vidro: bem comportadas!
Ninguém chegue perto de nossa rainha das fadas.
Coro –
Filomel, rouxinol a cantar,
Pura melodia vais entoar:
Uma doce canção de ninar.
Nina, nina, ninar; nina, nina, ninar.
Nenhum mal, nem feitiço ou encanto
Chegue perto desta dama por enquanto.
A ela nós estamos ninando;
Boa noite; nós a estamos ninando.
Primeira Fada –
Aranhas tecelãs, não venham cá;
Fiandeiras de longas pernas, fiquem por lá!
Negros besouros, nem cheguem perto;
Minhocas, lesmas, ficar longe é o certo.
Coro –
Filomel, rouxinol a cantar etc.
[Titânia adormece.]
Segunda Fada – Xô, embora daqui! Agora está tudo bem. Um de vocês fica de sentinela, à distância.
[Saem as Fadas e os Duendes.]
[Entra Oberon (e espreme o sumo nas pálpebras de Titânia).]
Oberon – O que tu vires quando acordares, toma por teu verdadeiro amor. Ama-o e, por ele, fica lânguida. Seja ele um lince, um gato ou mesmo um urso. Leopardo ou javali de pelo eriçado que te apareça ante os olhos quando tu acordares, este será o teu querido. Acorda-te quando aproximar-se uma coisa assim repulsiva.
[Sai.]
Entram Lisandro e Hérmia.
Lisandro – Lindo amor meu, você está abatida com este passeio no bosque, e, para falar a verdade, esqueci o caminho de volta. Vamos descansar, Hérmia, se você achar boa ideia, e esperaremos pelo conforto do clarear do dia.
Hérmia – Que assim seja, Lisandro. Procure por uma cama, pois eu, sobre este montinho, repousarei a cabeça.
Lisandro – Um morrinho de grama poderá servir de travesseiro para nós dois. Um sentimento, uma cama, dois corações e uma promessa de casamento.
Hérmia – Não, meu bom Lisandro. Faça isto por mim, meu querido: deite-se por enquanto mais longe; não venha deitar-se tão perto.
Lisandro – Ah, veja o real sentido, minha querida, de minha inocência! O amor só tem significado na conversação amorosa. Eu quero dizer que meu sentimento está costurado ao seu, tanto que o nosso é um sentimento só; dois corações acorrentados por um juramento, de tal maneira que são dois corações e uma só promessa de casamento. Então, não me recuse um lugar na cama ao seu lado. Quero dormir, e não mentir, Hérmia.
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Sonho de uma Noite de Verão (1605)
General FictionObra do inglês William Shakespeare.