Capitulo 1

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Dias Atuais

O céu estava nublado, as nuvens cinzentas se movendo vagarosamente por entre a troposfera, dando a população de York mais uma noite típica. O pingente prata praticamente pulsava em meu colo, como um pressagio de mau agouro. O som de minhas botas pretas de cano alto ecoava em minha mente, criando o ambiente perfeito para a imaginação usar de todos os truques que despunha para assustar a si própria. Eu só precisava sair dali, era o que cada célula de meu corpo parecia gritar.

Às vezes, quando tudo parece desmoronar, e os mais profundos sentimentos de miséria e angustia dolorosa são fundidos aos nossos corpos, só nos resta chorar. Chorar pela vida que não tivemos, pelos amores que no passado poderiam ter sido vividos e por sorrisos e lágrimas desperdiçados. Mas lá no fundo tudo o que precisávamos de verdade, era de um motivo para ficar.

Me sentei em um banco de pedra fria contra a pele de minha perna descoberta, exalando um ar quente e carregado de meus pulmões, o alivio correndo em minhas veias por finalmente estar sozinha. A cidade brilhava ao ritmo da sinfonia da vida, as pessoas dançando a batida de cada nota que lhes era imposta. Qual a razão de viver em um mundo onde não me encontrava no estilo que a vida regia, sempre disposta a escapar daquilo que era esperado para mim?

A Lua, minha eterna companheira, brilhava. Cheia, envia ondas de energia para os cantos mais obscuros e em meio à escuridão era meu escudo. Imploro para que ela também ilumine minha alma. Com o canto dos olhos pude observar alguém sentando ao meu lado mas não me incomodei em virar meu corpo cansado. Imersa em pensamentos, me assustei com um par de dedos quentes roçando em minha coxa.

Meus olhos frios se encontraram com um par quente de íris verdes. Se não me encontrasse tão exposta, poderia admirar seu contraste com o tom dos meus acinzentados. O repeli instantaneamente, um pouco aturdida pela situação como um todo, e não podia negar, as feições fortes de seu rosto. O maxilar contraído em um paradoxo com o sorriso divertido com direito a dentes brancos e alinhados.

- Aonde você pensa que vai? – ele sussurrou em meu ouvido, prendendo minha mão com sua própria. Seu tom rouco seria bem-vindo se não estivesse acompanhado por um cheiro que indiscutivelmente era de álcool.

Seus caracóis rosaram na sensível pele de meu rosto e pude sentir um arrepio percorrer meu corpo, mas não posso afirmar com certeza que se tratava de medo. De algum modo absolutamente errado, aquilo dentro de minhas entranhas, parecia tão certo. O pequeno pingente de lua preso no cordão em meu pescoço parecia se movimentar ao ritmo de meu coração acelerado.

- Solte. – Minha voz fraca quase inaudível. – Você está bêbado.

Ele riu consigo mesmo diante de tal afirmação.

- Você é linda. – Forçou um beijo em minha boca, o qual não permiti que que aprofundasse.

Me levantei fugindo de seu aperto mas fui seguida por ele e logo meu braço estava entre seus dedos.

- Tenho certeza que ainda nós veremos por aí, J.

- J?

Ele roçou seu polegar pelo cordão prateado em meu colo, com um pequeno “J” gravado na lua crescente que sustentava. Me afastei quando sua mão desceu para a parte superior de meu decote.

- Meu nome é Cecily. – Falei baixinho, mas de forma segura o suficiente para garantir que ouvisse. – E você ainda irá ouvir falar muito de mim.

 Em casa, me dei ao trabalho de jogar meus sapatos pelo quarto e com a roupa do corpo me jogar na cama fria. Amanhã seria um dia longo e desagradável, tudo que precisava era de descanço para lidar com casualidade com o mesmo. Naquela noite sonhei com uma indígena e um imigrante e de alguma forma soube que queriam me passar uma mensagem. A última coisa que me lembro foram os olhos brilhantes do homem, que eram inconfundivelmente idênticos ao do estranho que conheci a noite. Engraçado como a mente prega peças.

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