Capitulo 3

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- Cecily? – Ainda pude ouvir chamar por mim.

Minha cabeça latejava e meu corpo não parecia responder a nenhum singelo estimulo enviado por meu sistema nervoso. Minhas pernas fraquejaram e bem de longe, se me esforçasse, poderia ouvir sons desconexos que não parecem ter algum significado, um alerta que vagarosamente associei a súbita perda de lucidez. Estava tudo escuro, e a solidão de meu subconsciente me torturava. Queria libertar meus medos através da voz, gritar rezando para que alguém ouça meu chamado e resgate esta insana garota de seu próprio interior o mais rápido possível, mas minha garganta parece fechada até mesmo para o ar que insiste em chegar em meus pulmões.

- Jonathan, por favor. – Alguém soprou baixinho, mas as palavras de alguma forma, eram mais claras do que qualquer urro que já tivesse ouvido. A voz novamente não pertencia a nenhuma daquelas pessoas com quem estava. Poderia afirmar que tudo não passa de um truque de minha imaginação, o mesmo timbre que a pouco havia me atormentado sussurrando insanidades, algum tipo de aviso. Neste momento, praticamente senti o peso das silabas ressoando em meu corpo, e desesperadamente desejei me apegar a elas como alguém teria feito com uma boia salva-vidas em meio a um naufrágio, guarda-las junto ao meu peito, sem ao menos um motivo para justificar minhas ações.

Jonathan.

Jonathan. Não apenas um mísero nome.

Jonathan. Uma palavra nunca antes havia soado tão certa.

Meus devaneios foram interrompidos por um quente formigar na palma de minha mão direita. De certeza, algum laço muito fino me prendia entre a realidade e a profundeza de minha mente, e o choque me tomou quando percebi que tal laço era ele. Tão rápida como veio, a tontura se dissipou, como se minha boia da inconsciência tivesse estourado em auto mar, mas em contrapartida, eu estivesse sendo resgatada de meu oceano de pensamentos pelo aperto de entre meus dedos. Posso jurar que graças ao entrelaçar forte da mão grande de Harry, que me segurava como se a própria vida dependesse disso, com a minha, até então imóvel, retomo lentamente minha percepção e consigo retribuir frouxamente o movimento, cada vez mais ciente de meus atos. O simples toque de sua pele com a minha foi o necessário para retomar o controle sobre mim mesma.

- Está tudo bem. – Pude sentir seu tom rouco soar perto de meu ouvido, perigosamente baixo. – Eu peguei você.

- Jonathan. – Sussurrei, como um lembrete para mim mesma que o nome se formaria perfeitamente em meus lábios. O som de cada vogal e consoante deixando minha boca em um trêmulo tilintar, cortando minha garganta em sua passagem.

- Me chamo Harry, na verdade. – Ele brincou, ao pé de meu ouvido, e me surpreendi com que tivesse escutado meu baixo chamado alucinado. Senti seu sorriso em meu pescoço, seus dentes arranhando levemente a pele sensível, e levando arrepios para cada parte de meu corpo, fazendo-me por um segundo, e apenas esse pequeno intervalo de tempo, esquecer de meus delírios de apenas alguns momentos antes. E enquanto o dia durar, poderia ter trocado de bom grado minha a vida miserável por aquele instante que juntos compartilhamos.

Lutando contra os mais profundos instintos que me dilaceravam por dentro, afastei-me de seu corpo quente, quando me dei conta de sua proximidade. O frio que tomou minha pele quando o fiz surpreendeu a mim mesma, a reação do meu corpo solitário implorando pelo dele uma última e misericordiosa vez. Justo ele que havia me segurado quando perdi o controle sobre mim mesma, tirando proveito da situação para sentir meu corpo no seu. Aquele ainda desconhecido cujas íris brilhavam em um verde pulsante, como um convite que não poderia recusar, mas deveria.

- Cacily? – Pude escutar a Sra. guinchar, atraindo parcialmente minha atenção. – O que está acontecendo com você? Está pálida como a neve!

 - Não se preocupe, provavelmente minha pressão está baixa. – Lancei-lhe um sorriso forçado, o máximo que poderia fazer no momento. Minha mente ainda voltada para os estranhos acontecimentos que circundaram minha noite.

Harry. Vozes. Jonathan.

Me parecia tão irreal, como se eu fosse apenas mais uma personagem em um filme de ficção cientifica. Justo eu, aquela que sempre se gaba por ser mentalmente saudável em um mundo de vários adolescentes fúteis que fazem o que podem para chamar a atenção dos pais, os rendendo na maioria das vezes, boas sessões de terapia devido a drogas e álcool. Talvez, seria melhor aceitar de uma vez que precisava de ajuda psicológica.

- Você deveria ir para casa, Cecily. Certamente nesse estado, um ambiente tão barulhento e cheio de pessoas não irá lhe fazer bem. Harry poderia leva-la.

Antes que tivesse a chance de responder, ouvi um estalar de língua. Voltei minha atenção para a acompanhante de Styles, que milagrosamente tinha se mantido quieta até então. Senti-me constrangida por ter feito aquela cena na frente de todas aquelas pessoas, mas silenciosamente satisfeita por ter irritado, ao menos um pouco, a ruiva que antes era segurada com tanta possessão pelo o possuidor de íris verdes.

Oh, aquelas íris. Tão vivas e brilhantes. Aqueles olhos que passavam a impressão de um vasto conhecimento, mesmo tão novos. E foram eles que para mim faiscaram, mesmo sem conceder-me a oportunidade de ler os sentimentos ocultos por trás de suas pupilas.

- Agradeço pela preocupação, Sra. Styles mas não será necessário. Sinto-me melhor, e além disso, seu sobrinho já fez muito por mim impedindo que eu acabasse por cair no chão dada a minha tonteira.

A atarracada senhora lançou a outra garota um olhar fulminante, e diante disso, me senti extremamente deslocada, como uma peça de xadrez fora do tabuleiro. Já havia sido descartada, era hora de deixar o jogo. Sendo assim, por minha visão periférica, observei uma última vez antes de seguir meu caminho para fora dali. Suas mãos apertadas em punho, como se desejasse que as próprias unhas fizessem cortes abertos por sua pele, machucados, tal qual os meus sangramentos de espírito, que não poderiam mais ser estancados, as feridas abertas em meu interior que por algum motivo jorravam o sangue, aquele quente pulsante que corria por minhas veias, sem nenhuma explicação prévia.

Foi nisso que pensava quando cheguei em casa, depois de uma corrida de taxi. Exatamente isso que mantinha em minha mente ao me sentar na calçada de minha rua, observando a lua cheia preencher meus sentidos. Seu brilho pulsava, ardia, assim como as lágrimas que como navalhas cortavam a fina pele de meu rosto. Não sabia porque chorava, só que assim devia ser. As lágrimas salgadas se portando como velhas conhecidas, nunca mantendo-se longe o suficiente longe para que me esquecesse de sua companhia. Ah, Jonathan, quem é você?

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⏰ Última atualização: Dec 22, 2014 ⏰

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