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Dor.

Ela vinha de dentro, como se algo estivesse se esticando para se libertar, preso dentro de um pequeno e fino tecido, as garras afiadas afiavam e rasgavam.

Eu sentia sua agonia e fúria, o calor só deixava o clima mais perigoso, como uma dor no peito, revestida de instinto, - puro instinto animal-.

Como se uma fera estivesse prestes a sair, com seus dentes amostras, era possível ver uma pequena fresta de luz, as suas unhas começam a arranhar desesperadamente pela fuga da dor, como se fosse previsível, como uma rotina.

A pele se rasga, e com ela, a doce liberdade, o ar era mais puro e limpo, tão bom como sentir as gramas nas patas.

Patas?


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Salto da cama em desespero, o som da minha TV chegava a ser estridente para meus ouvidos sensíveis, desligo o aparelho e volto a deitar, eu realmente deveria parar de ver esses filmes de terror, cada vez estava piorando, mas patas? o que aquilo significava? Talvez fosse um aviso de colocar comida para Odin. O relógio marcava exatamente 13:00, desço as escadas prendendo meu cabelo, vejo minha mãe cantarolando animada enquanto cozinhava, o cheiro ativava minha barriga que se dobrava de fome, ao ouvir meus passos, ela se vira feliz.

"-Bom dia dorminhoca, já estava preocupada, pensei que estava em coma"

Dou-lhe um beijo na bochecha, procuro a ração de Odin, que ao perceber do que se tratava, fica atrás de mim animado, sua felicidade era tanta que nem ao menos me deixou terminar de encher o pote.

"-Fiquei em ligação com Jéssica por muito tempo e acabei dormindo tarde me "sento na mesa da cozinha a observando.

"-Está animada para sair?"

"-Um pouco"

Aos poucos a mesa vai se enchendo com pratos e comidas, estava mais animada para comer, parecia que não comia a semanas, e por deus, minha mãe havia feito meu prato preferido. Me sentia como um animal comento, o que arrancou olhares julgadores dela.

"-Sabe, se precisar me ligar por qualquer emergência, sabe meu número de cor, mas tente aproveitar o máximo possível, sair para uma fogueira vai ser uma ótima experiência, e fazer novos amigos-"

"-Mãe" a interrompo, "-Eu não vou desistir, eu vou hoje"

Um sorriso se abre em seus lábios, era bom saber que ela queria me ver feliz, e estava preocupada comigo, e estava tudo bem, estava confiante que seria um grande dia, nem o frio iria atrapalhar meu dia.

Mesmo com o sol brilhando, o vento congelava a ponta do meu nariz, causando calafrios e tremores no meu corpo.

Pego as chaves do carro, ao abrir a porta, o vento bate contra o casaco, quantos graus estava fazendo? Cruzo os braços na falha tentativa de me aquecer, corro até o carro fechando a porta, em meu bolso, estava com o papel do falso atestado.

Ligo o carro em direção ao centro, usava o falso atestado para comprar mais remédios para dormir, já que eles não podiam ser vendidos sem a receita do médico, eu mesma fiz o falso, sabia que meu pai não aceitava o fato de tomar esses comprimidos, todos os meus médicos e psicólogas diziam que não havia nenhum problema comigo, e que meus sonhos eram apenas coisas que eu criava.

E eu não acreditava nisso, sempre tentei fazer que as pessoas entendessem, era como se eu vivesse em outro corpo, as dores e os sentimentos eram reais demais, mas quando eu me tomava o comprimido, tudo sumia como magica, as vezes eles não faziam tanto efeito, me fazendo ter os sonhos novamente.

F A L LOnde histórias criam vida. Descubra agora