CAPÍTULO 03:

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- Você vai assim? - Christian questiona minha vestimenta torcendo o nariz com nojo. Estava com a mesma blusa manchada de torta de morango.

- Por quê deveria trocar de roupa? Vamos em um desfile por acaso? - esse garoto já estava me irritando com todas suas críticas.

- Não, mais isso é nogento. Parece que levou um tiro - ele diz olhando mais de perto .

- É só torta de morango, idiota.

- E você coloca as tortas nos peitos e come abaixando a cabeça? Por que se não for isso, ao julgar por essa mancha, está muito próximo de ser - ele ancara ainda mais a região dos meus peitos. Algo me dizia que ele estava fazendo de proposito só para ter desculpa para olhar para eles. Nunca fiquei tão constrangida.

- Não seu porco - digo cruzando os braços - Ontem no trabalho, um idiota pediu bolo de morango, eu levei torta por engano. Então ele jogou em mim.

- Que idiota! - Christian estava furioso por alguém me tratar mal? Progresso - Qualquer imbecil sabe que torta de morango e bolo são quase a mesma coisa - logo minha felicidade vai pro ralo. Reviro os olhos.

- Vamos logo. E não, não irei trocar de blusa.

- Não se importa com o que vão achar de você? Olha seu cabelo - ele diz puchando um fio para cima, que permanece assim mesmo quando ele tira a mão. No fim Christian tinha razão, meu cabelo estava um horror.

- Não, não me importo - Christian parece surpreso - Vamos logo. Quanto mais rápido formos mais rápido voltamos - digo enquanto Christian abre a porta da garagem.

Quando entro vejo algo que me faz rir. Sem ofensas senhora Godervine. Mais aquilo era uma lata velha.

- Não acredito - Christian diz frustrado

- Desse jeito não chegaremos nem ao mercado da esquina - dou gargalhada

- Acha isso engraçado?

- Pra falar a verdade acho sim - digo enquanto sentia minha barriga doer de tanto rir.

- Isso só pode ser brincadeira - ele chuta o penel do carro. Jurava que ele desmontaria naquele momento, mais o carro continua de pé, ou de quatro, rará. Dou mais um risinho com esse meu trocadilho.

- Não fala assim, vai magoar ele - digo tamapando um dos retrovisores simulando as orelhas do carro, ainda rindo da frustração de Christian. Ele me encara sério - Tá bom, tá bom. Podemos usar o carro da minha mãe- o rosto do garoto se ilumina.

- Ela não vai se importar? - aquela pergunta de Christian me surpreende. Ao julgar suas atitudes nos trinta minutos em que nos conhecemos, se importar com os outros não parecia muito com ele.

- Vem logo garoto - digo seguindo para minha casa, ele vem logo atrás. Sinto sua empolgação mesmo estando de costas - Me espere aqui - falo entrando e fechando a porta logo atrás de mim. Pego as chaves, faço carinho em Alfred e saio logo em seguida.

- Não trocou de roupa?

- Pra quê? Já disse que não importo com o que os outros pensam de mim. Além do mais, não quero impressionar ninguém - Christian ri. A verdade era que eu queria sim, mais não era Christian.

- Então quer dizer que estar ao lado de um cara super atraente como eu, em uma viagem de três horas, não faz você querer impressiona-lo nenhum pouquinho? - ele arqueia uma sobrancelha. Ele era atraente, mais não, não queria nenhum pouquinho impressiona-lo.

- Nenhum pouquinho - digo com um sorriso cético. Ele desfaz sua cara de galantiador. Retiro a capa que cobria um belo e em perfeito estado mustang 1969 vermelho. Na verdade ele era de meu pai, mais acabou dando a minha mãe quando... quando...Bem, um dia ele acabou sendo da minha mãe.

- Ual... olha o que temos aqui - Christian diz correndo para analiza-lo melhor. Entro no carro e bato a porta, Christian ainda observava cada centímetro do carro. Buzino e ele se assusta.

- Vai ficar olhando ou vai entrar? - ele entra sem fazer perguntas sobre o carro, e eu prefiro assim. Meu dever era levar aquele idiota a City Hiil, receber minha grana e voltar, não estava interessada em nada além disso.

Não falamos muito desde então, estava um completo silêncio havia trinta minutos. E para falar a verdade eu preferia assim, não sei bem o que era, mais algo em Christian me irritava.

- Posso colocar uma música? - ele pergunta quebrando o silêncio.

- Bem, depende do seu gosto músical- digo focada na pista. Ele pega seu celular e pareia com o som de meu carro, quer dizer, da minha mãe. Bem, não sabia mais de quem era aquele carro, apenas sei que minha mãe o largara para trás, assim como a mim.

A música Smells Like Teen spirit começa a tocar. Arqueio a sobrancela.

- Olha só, quem diria que o Don Jon teria um bom gosto pra música?- minha voz soa mais irônica do que eu queria.

- Me acha mesmo um sedutor de jovens espanholas de famílias nobres? - engasgo, não esperava por isso.

- Não. Só me adimira você saber exatamente quem é Don Juan - digo rindo.

- Tá bom, agora passei de um garoto sem estilo músical para um garoto sem estilo músical E ignorante?

- Não é isso - era exatamente isso -Você só não tem bem o perfil de um cara com conhecimentos em literatura - aquilo parece ofende-lo. Algo me diz que eu acabara de enfiar o dedo em uma de suas feridas.

- Nem todo mundo com meu rosto angelical é burro Eva. Você assiste a filmes de mais - este foi um comentário um tanto quanto convencido, mais não falo nada a respeito.

- Como assim? - não entendo sua aplicação.

- Sabe, aqueles caras grandalhões e sem cérebro dos filmes, que só sabem quebrar coisas e ferir pessoas e mesmo assim todo mundo os ama. Você me acha parecido com eles - seu tom de voz era sério. Aquelas palavras me atingem como um soco no estômago. Odiava tanto aqueles clichês repletos de esteriotipos que faz você ter tanto preconceito com os personagens que acaba sabendo o fim de um filme muito antes que ele acabe; que nem percebi que eu fazia exatamente isso, só que com pessoas de verdade.

Havia duas formas em que aquela conversa poderia acabar. Com um clima tenso e um silêncio contrangedor ou comigo contornando a situação. Opto pela segunda opção.

- Não, Não acho você um grandalhão sem cérebro. Na verdade acho que você tem que malhar mais para chegar lá - digo em tom de brincadeira . Christian ri. Fico feliz pela paz que ainda paira naquele carro.

- Our little group has always been - Christian canta, me surpreendendo novamente com sua voz mediana -And always will until the end - ele simula tocar uma guitarra, eu acho graça de tudo aquilo.

- Hello, hello, hello, how low - entro na brincadeira. Depois me arrisco a fazer a segunda voz. Christian agora balança a cabeça como um verdadeiro roqueiro. Nunca ri tanto como naquela hora, tive de me esforçar para prestar atenção no trânsito.

Ódeio adimitir isso, mais estava começando a gostar da companhia daquele idiota.

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