Eiji amanhecera novamente em meio à melancolia, seus olhos inchados e a olheira profunda abaixo deles eram reflexos das noites mal dormidas desde que voltara ao Japão — ainda não havia se reacostumado ao fuso horário do país.
Desde que retornou seus dias estavam cheios, se manteve ocupado o bastante para tentar esquecer um pouco das aventuras de quase-morte que vivenciou na América, esforçando-se para retornar à sua boa e velha vida pacata e sem graça como assistente de fotógrafo outra vez. Tentara ver pelo lado positivo da coisa toda: ao menos era mais seguro.
O problema era que, estando ao lado de Ash Lynx, Eiji não via o menor problema em correr perigo.
A adrenalina que sentiu no decorrer dos acontecimentos ao lado de Ash desencadearam uma parte sua que sempre fora desconhecida até por si próprio. Uma parte que aprecia toda a impetuosidade e fervor com que aquele garoto de apenas dezoito anos lida com a vida.
Atualmente Eiji trabalhava no escritório de Ibe como seu assistente, como já acontecia antes mesmo da viagem, a diferença é que agora, após a recente reforma, ele tinha sua própria mesa — seu cantinho reservado e particular. Revirou os olhos em desgosto após sua constatação; não acreditara que tentava se convencer de que aquilo era ótimo e que estava tudo bem.
Como um vulto, Eiji pegou suas coisas e desceu as escadas de casa apressadamente, já estava atrasado para o trabalho. Cumprimentou seus pais apenas com um "bom dia, amo vocês", roubou um dos sanduíches de cima da mesa da cozinha e correu até o escritório.
Desde que retornara, Eiji procurava ao máximo não falar sobre suas aventuras pelas ruas, becos e esgotos de Nova York, temia que seus pais nunca mais o deixassem pôr os pés para fora de casa se soubessem da verdade. Quer dizer, como explicaria para eles que fora alvo de tiros, tentativa de assassinato, sequestro, perseguições, gangues perigosas, políticos pedófilos, drogas malucas capazes de induzir pessoas a matarem suas próprias famílias e que, para fechar com chave de ouro, se apaixonou pelo líder da mais poderosa gangue de rua de Nova York? Totalmente fora de questão revelar mais do que um por cento de todas as loucuras que vivenciou por lá.
Eiji adentrou o escritório com o mesmo desinteresse e desânimo que atualmente o acompanhavam para onde quer que fosse, se deparando com Ibe sentado atrás de sua mesa teclando assiduamente, provavelmente ocupado com alguma entrevista ainda não revisada. Na mesa desorganizada encontravam-se fotos imprimidas e pilhas e pilhas de papeladas. O cansaço que emanava de Ibe era quase palpável. Eiji conseguia enxergar uma aura pavorosa ao redor do corpo do homem. Esfregou os olhos, só poderia estar delirando.
— Não sei como consegue se concentrar depois de tudo que aconteceu.
— Não consigo, mas é preciso, temos trabalho a fazer e a vida continua – respondeu simplista, sabia que Eiji queria conversar sobre Ash e os outros, afinal era a única pessoa com quem poderia falar abertamente sobre a viagem.
— Eu queria voltar – revelou Eiji, cabisbaixo, enquanto depositava sua bolsa à tiracolo sobre a mesa ao seu lado.
Ibe fez uma expressão zangada diante da confissão, retirou seus óculos e suspirou profundamente, apoiando os cotovelos sobre a mesa e virando-se para encarar Eiji.
— Nem se atreva a pensar sobre isso, é perigoso. Não sabemos o que aconteceu depois que viemos embora, ninguém de lá entrou em contato ainda.
— E as mensagens que enviou, não te responderam também? – questionou Eiji, arqueando uma sobrancelha.
— Não, nenhuma.
— Estou ficando louco ao ponto de querer comprar uma passagem só de ida pra Nova York. Eu preciso ver o Ash – enfatizou, com a voz trêmula. — Não aguento mais ter que ficar sentado sem fazer nada esperando alguma notícia. E se eles decidirem não falar nada?
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The End
FanfictionAsh corre ao aeroporto após a leitura da carta na esperança de uma vida nova com Eiji no Japão, entretanto ele não chega a tempo e se vê num dilema entre insistir no que sente ou mantê-lo seguro e longe da América. Paralelamente, Eiji retorna a Nova...