A primeira impressão é a que eu quero que fique

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Eu não sei o que vocês estão fazendo aqui. Eu não entendo vocês. Eu não entendo ninguém. Mas eu não vou cobrar nada de ninguém pois até hoje eu não cheguei a conclusão de quem eu sou. Mas vamos lá, talvez você queira saber mais da minha vida por mais medíocre que ela seja.

If we'd go again
All the way from the start
I would try to change
The things that killed our love
Your pride has built a wall, so strong
That I can't get through
Is there really no chance
To start once again?

"Se nós percorrêssemos novamente todo o caminho desde o início eu poderia tentar mudar"...

Talvez parte dessa música faça algum sentido pra mim. Principalmente a parte de tentar mudar. Mas a parte que fala de amor... essa não. Muita gente fala de amor. Dizem sentir amor. Fazem tudo por amor. Infelizmente ou felizmente eu não sei o significado disso.

Paro o som que está tocando aleatoriamente no meu aplicativo de músicas e vou até a janela do meu quarto. Olho no relógio. São nove e sete da manhã. Um pouco tarde para um estudante que prometeu para si mesmo acordar super cedo para rever as matérias com meu melhor amigo. Eu disse melhor? Que viagem. Mas sei lá. Tinha algo no George que me fazia não assassiná-lo. A convivência desde o primário, talvez.

Abro as cortinas e vejo o sol lindo que está lá fora. Se tem uma coisa que eu gosto é a natureza. Parece algo besta e contraditório, mas ninguém é obrigado a entender nada nessa droga. Eu sou daqueles que adora ver o nascer ou pôr-do-sol, as estrelas, o correr dos rios, os animais no campo. Isso me encanta. O que me irrita é tudo o que envolve as pessoas.

- Henry, meu querido. – Mamãe diz, do outro lado da porta.

- Henry sou eu. Pelo menos é o que consta na minha certidão de nascimento. – Respondi enquanto colocava uma camisa... É... E um shorts, digo... E uma cueca. Eu adoro dormir pelado. Sinto uma conexão com sabe se lá o que quando estou nu. Se querem detalhes, gosto de sentir o vento bater no meu escroto e o vejo encolher gradativamente. Um show de horrores.

- Seu amigo veio fazer o trabalho da faculdade com você meu amor.
– Mamãe falou e se afastou pelo que notei ao ouvir seus passos se distanciando.

Faltava apenas um semestre para a conclusão do meu curso de arquitetura. Mas nos últimos tempos eu vinha repensando em tanta coisa em relação a isso. Planejamos tantas coisas na vida mas as melhores acontecem sem estarem planejadas. Eu sou só um jovem rico que moro em uma cidade pequena porém muito famosa por ser point de muitos esportes radicais e turismo. Algo de interessante em mim? Não sei. Eu acho as pessoas totalmente desinteressantes. É sério, eu não sei como esses jovens sentem tanto prazer em demonstrar que está louco por alguém a ponto de se matar por eles, afinal, foi isso que a minha prima Scarllet fez. Ela se apaixonou por um garoto mais velho e foi traída. Que louca. Subiu no prédio mais alto que encontrou e se jogou para a morte. Coitada. Scarllet era feia e ficou ainda pior quando cortou a cara em mil pedaços ao se chocar com um teto de vidro setenta metros abaixo do seus pés. Única coisa que me deixou triste foi o fato de eu não ter contribuído em nada para a sua morte. Ela poderia ao menos ter esperado eu me formar na faculdade para que pudesse construir um prédio ainda mais alto para ela se jogar. Se quer saber, eu odiava aquela garota. Ela batia nos animais de rua ou em qualquer coisa viva que não lhe desse atenção. Uma garota fútil e carente de holofotes. Mas não estamos aqui para falar da minha falecida e não amada prima. Só a citei para dar um exemplo de uma pessoa que se esforçou tanto para ter um final tão trágico. Poderia ter aproveitado melhor essa droga de vida.

- Henry. – George falou, abrindo a porta do meu quarto.

Eu peguei uma faca que estava sobre a escrivaninha ao lado da cama e me aproximei dele, que expressou um medo terrível ao me ver indo em sua direção com aquele objeto infinitamente cortante.

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