Mais uma discussão e eu seria levada a insanidade, a exaustão toma conta diariamente.
Passar outra noite naquela casa seria sentenciar minha saúde mental. Precisava de um lugar para me abrigar até arranjar um apartamento. Para minha alegria, sabia que podia contar com meu irmão mais novo em situações como essa.
Nesse momento, eu me encontrava em frente a uma ponte, encostada no guarda-corpo, com um cigarro aceso entre os dedos que queimava lentamente, sem sequer encostar em meus lábios. Infelizmente eu havia me rendido àquele hábito, que não sabia nem quando tinha começado.
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A visão do rio que cortava a cidade era um tanto tranquilizador. Apesar da agitação das avenidas e da vida urbana, nada se comparava aos momentos que aturava em minha própria casa.
Gostaria de continuar ali por algum tempo mais, porém logo as ruas estariam cobertas pelo frio e escuridão.
Antes que o cigarro se apagasse, o traguei, absorvendo aquela fumaça quase que por completo. Inicio meu trajeto, cruzando diversos casais que atravessavam a ponte aparentemente muito felizes apenas na presença de um companheiro. Em meio a tantos pares distraidos, um cachorro passeava com um andar até convencido, parando assim que esbarrou em minhas pernas, se sentando.
Me abaixei diante do cão, relativamente grande, e tinha uma pelagem de coloração clara, quase branca. Passando a mão pela sua cabeça e deslizando até onde seria seu pescoço, encontrei uma coleira.
— Fugiu do seu dono foi? — me deparei sorrindo para um cachorro perdido no meio da rua. — Ele deve estar preocupado.
Procurei algo que indicasse quem era seu dono e, com sucesso, suas informações estavam em sua coleira.
— Então seu nome é Shen? — o cachorro se aproveitava do carinho que fazia atrás de suas orelhas.
Na dúvida de como eu o levaria para seu proprietário, me veio a memória que a bolsa que eu carregava, havia uma alça removível, que consegui facilmente prender a sua coleira.
O cigarro que antes estava em minha mão, agora estava no chão sendo amassado pelo meu próprio pé. Mas antes que pudesse me levantar e começar a caminhar, um garoto alto se aproximou, ofegante, estava claramente correndo.
— SHEN! — ele se apoiou em seus próprios joelhos, cansado, parecendo nem notar minha presença.
— Ah, me desculpe, ia levá-lo até seu dono — seguro a corrente que o prendia com força, já que ele tentava se soltar para fugir de seu dono outra vez — Mas parece que já achei. — eu estendo a mão para o garoto, na intenção de entregar seu animalzinho.
— Muito obrigado, estava com medo de perdê-lo — ele o segura, se agachando.
Atrás, era possível ver uma mulher se aproximando com os braços cruzados e um olhar furioso no rosto em direção ao menino.
— HYUNJIN! O QUE DEU EM VOCÊ PRA CORRER DO NADA? — ela estava extremamente irritada, seu rosto estava claramente vermelho, fervendo de raiva.
— Preferia que eu deixasse Shen sumir? Por sorte essa mulher o encontrou! — eu, assustada com a reação da mulher a minha frente, decidi me curvar a ela, para evitar confusões.
— Tenham uma boa noite — me retirei, desaparecendo da visão do casal dentre da multidão.
Ignorando completamente a situação que havia se passado, caminhei até a casa de meu irmão. Batendo na porta, o garoto a abriu com um sorriso no rosto, como sempre.
— Yuna! Já estava te esperando — ele se afastou da porta, liberando a passagem — O pai ligou, avisou que você tinha saído.
— Vai ter que me aceitar aqui até eu achar um lugar pra ficar — me joguei em seu sofá, derrubando a mochila que carregava no chão.
— Tava demorando — ele suspirou, e se sentou ao meu lado — Tudo bem, mas não pode ficar mais do que três meses.
— Jeongin, você viveu comigo por dezenove anos, vai mesmo me expulsar com três meses? — soltei uma risada nasal, que o fez sorrir também.
— Você sabe que não é por mim — ele dá dois tapinhas em meu ombro — Ainda vou ouvir esporro do Chan por esses três meses.
— Achei que ele gostasse de mim — da cozinha, Jeongin elevava seu tom de voz para se comunicar comigo — Além disso, ele mal fica em casa.
— Ele gosta, mas não é como se quisesse morar com você.
Da cozinha, o menor voltava com dificuldade carregando dois lamens feitos. Me levantei e peguei um deles para ajudá-lo.
— Não irei incomodar. Também passarei a maior parte do tempo fora — com os hashis que foram entregues a mim, misturava o macarrão — Preciso arranjar um emprego.
— Emprego? — ele tosse como resultado de um susto — Foi demitida? — ele aumenta o tom de voz.
— Meu chefe não gostava quando eu fumava dentro de sua sala — deixei uma risada escapar.
— Yuna! — ele pareceu decepcionado.
— Era só uma brincadeira, Innie — o cutuquei com meu cotovelo — Meu contrato havia vencido e acharam alguém melhor que eu — dei de ombros, terminando meu lamen até mais rápido do que devia.
Depois daquele dia cansativo, Jeongin, sem dizer mais nada, foi para seu quarto, aproveitar o resto de domingo que tinha, enquanto eu adormecia ali no sofá mesmo.
Meus pais entrariam em choque quando percebessem que eu não retornaria para casa, mas com meus vinte e dois anos, eu não estava lá me importando.