O dia havia sido cheio. Já fazia um tempo que eu não me sentia tão cansada. Talvez fosse porque desde que Kathy fora até a ala das sereias e me mostrara aquela placa dizendo que no dia seguinte substituiria uma das meninas na apresentação com os golfinhos, havia matutado isso sem parar.
Pensei em todas as possibilidades de dar errado e em todas as possibilidades de dar certo, que foram bem poucas. Mas também pensei em todas as possibilidades de fingir estar doente e não ir.
Estava com medo, é isso!
Estava bem aérea em meus pensamentos por causa daquilo, mas não havia me passado despercebido um outro acontecimento daquela tarde. Aquele casal realmente chamou a atenção de todo mundo, e ao mesmo tempo não chamou. Fiquei surpresa por em uma hora aquele salão estar cheio e na outra vazio como se o dia já estivesse no fim. Se bem que nem no final do dia ficava tão vazio como estava naquela hora.
O casal estava tendo uma briga feia, claro. Não escutei nada porque não dava, mas minha curiosidade não me permitiu sair dali, a não ser para buscar ar na superfície. O homem parecia triste com o que sua esposa dizia, tão triste que refletia em seu olhar perdido no tanque em que eu estava. Aquele olhar me deixou com um aperto no coração. Lembrou-me papai quando tinha uma briga com a minha mãe.
Creio que ele não se deu conta no momento, mas rodava sem parar sua aliança de casamento no dedo enquanto ouvia o que sua esposa dizia com tanta ferocidade. A cada palavra dita, seu olhar perdia o brilho.
Senti na necessidade de apoiar aquele homem, mesmo não o conhecendo. Não de forma romântica ou coisa do gênero. Só que o olhar entristecido dele realmente me fez ficar agoniada, me fez lembrar das brigas que presenciava em casa.
— Pirainha da minha vida, como foi o dia? – ouvi a voz de minha amiga assim que pisei fora do ônibus.
— O que está fazendo aqui? – olhei para Akira que estava sentada no ponto de ônibus.
— Estava te esperando – deu de ombros e levantou do seu assento. — Hoje vamos beber. – Enrolou seu braço em meu pescoço e caminhou comigo pela calçada.
— Não, não, amanhã eu trabalho. Só folgo na segunda-feira, então amanhã a noite nós iremos beber. – Retirei seu braço de meu pescoço assim que termino de falar.
— Certo, você não vai beber hoje, mas vai me acompanhar. Eu quero encher a cara e não posso fazer isso sozinha – minha amiga me encarou com um olhar triste e um sorriso amargo.
— O que aconteceu minha fada? – a encarei preocupada. Ela suspirou e acelerou o passo, corri para a alcançar e segurei seu braço. — Akira…
— Eu tive um… – se interrompeu no momento em que sua voz começou a ficar falha. Seus olhos se encheram de lágrimas não derramadas e minha amiga me encarou com desespero.
Sem saber o que fazer apenas a abracei e afaguei seus cabelos. Minha amiga tremia enquanto chorava com o rosto no meu ombro. Seus soluços estavam fortes, seus braços me apertavam mais que o necessário. Joguei minha bolsa no chão e fiz Akira se sentar sobre ela. A garota ainda soluçava quando o fez.
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Paixão Submersa | Duologia Submersos - Livro 01
RomansaEllijah e Aveline Murdock são casados a quatro anos, mas ele não está mais contente com a união; em meio a uma de suas tentativas de reatar a relação desgastada, Ellijah convida Aveline para ir ao Georgia Aquarium, na esperança de finalmente reconqu...