Capítulo Único

218 26 10
                                    

O som de gotas acordou o garoto de tinta, que se surpreendeu ao ver-se num lugar nunca visto antes, um lugar semelhante ao vazio em que seu tio, Geno, estava preso; porém sem a tela de salvar. Um local completamente escuro e vazio, com uma aura pesada que lhe trazia sentimento de solidão, machucando sua alma. O pequeno olhou em volta, porém não achou nenhuma fonte de água que pudesse causar o som das gotas que lhe acordaram, e que continuavam a pingar.

Diferente de tudo que havia conhecido e experimentado em sua vida, aquele local era totalmente negro, morto, mas que de alguma forma lhe dava a sensação de não estar sozinho, o que lhe assombrava. Com uma lentidão incômoda, seu desespero surgiu, causando um frio na espinha.

Enquanto se levantava, olhou em volta procurando por alguma outra cor, apenas avistou preto. Começou com passos curtos, até que se transformaram lentamente numa corrida, seu desespero o fazia procurar por qualquer coisa, mas tudo que via era a cor negra. Chamou por diversos nomes, desde os de seus pais até seus inimigos, se sentia desesperado a ponto de aceitar ajuda de qualquer um; qualquer coisa era melhor do que isso, esse sentimento de agonia e solidão. Agora compreendia o porquê de seu pai odiar tanto o vazio e a solidão; não importa para onde corra, não importa para onde olhe, nada nem ninguém estará lá para salvá-lo, estará completamente sozinho.

O som de gotas continuou a ressoar pelo local.

Temendo ficar preso naquela imensidão eternamente e duvidando da possibilidade de estar completamente sozinho, gritou por socorro, implorou por piedade daquilo que estava o torturando.

Não aguentando mais, após muito tempo gritando, correndo e olhando ao redor, suas forças se esvaíram completamente, lhe impedindo de falar, correr ou andar. Exausto, caiu no chão, com sua respiração acelerada e garganta seca.

Seu desespero e ansiedade já não preenchiam sua alma, foram substituídos por ondas de tristeza e solidão; tais sentimentos lhe consumiam cada vez mais a cada segundo, fortificando seu desejo de ir embora daquele local. A escuridão estava sugando sua energia vital; se sentia cansado.

Seus olhos lentamente começam a se fechar, não obedecendo aos comandos do garoto de permanecerem abertos. Com medo da morte lhe alcançar, usou as últimas forças para tentar pensar em algo que lhe salvasse, surpreendentemente se lembrando de um nome que ainda não havia chamado. Ignorando a culpa por não ter se lembrado de chamá-lo antes, usou suas últimas forças para falar:

— Fresh, me ajude...

Seus olhos se fecharam. O som das gotas se intensificou, e logo começou a sentir o líquido que antes pingava tocando sua pele, se espalhando pelo local com uma velocidade acelerada. Não conseguindo levantar, seu corpo rapidamente foi afundando no líquido; sua boca entreaberta permitiu que identificasse o que lhe afogaria até a morte, tinta.

A tinta continuou a subir, fazendo com que seu corpo submergisse rapidamente. Seu ar havia acabado, aumentando seu desespero. Suas forças, ao contrário do oxigênio, foram restauradas, lhe dando a oportunidade de tentar nadar para a superfície; porém, não havia mais nada além de um mar negro de tinta, que aos poucos lhe afogava. Seus pulmões se encheram de tinta, lhe deixando inconsciente, e fazendo seu corpo afundar, mas nunca chegar ao fundo.

Num pulo, acordou com o corpo suado e respiração acelerada. Olhou em volta enquanto tentava acalmar sua respiração; suas coisas estavam em seus devidos lugares, e devidamente coloridas. Estava em seu quarto, repleto de objetos seus e de seu amado.

Aparentemente, havia apenas sido um desagradável pesadelo. Aliviado, suspirou, limpando um pouco de suor que escorria por sua testa.

Ouviu a porta lentamente ser aberta, e então olhou em sua direção, tendo a visão do homem de roupas extravagantes e óculos com a palavra yolo estampada. A figura se aproximou, perguntando se estava bem. Paperjam sorriu antes de lhe responder.

— Sim, obrigado. Estou melhor agora.

Sentiu seu coração palpitar mais rápido ao ver um sorriso se formar no rosto de Fresh, que logo deu um beijo suave em sua testa, e sussurrou com uma voz acolhedora:

— Bom dia.

Bom dia.Onde histórias criam vida. Descubra agora