~Stay Away~

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~"80%"~

Desmaiei feliz por toda essa confusão ter acabado; mesmo com meu braço quebrado, dei de cara no chão contente pelo fim de toda aquela briga. Não sei bem descrever o que aconteceu depois, mas eu acordei, sonhei em seguida que estava em um lugar diferente, outra dimensão eu acho.

Sem minhas roupas, como se apenas fosse minha alma caindo como uma pluma ali, fui me desfazendo em grãos de poeira, até sobrar só o meu formato, então notei uma mudança brusca ao meu redor, mas por estar em um estado de fraqueza gigantesco, apenas continuei de olhos abertos, e me deixei ser levada.

Tudo ao meu redor era digital, inclusive eu. Nesse sonho, no qual tive que garimpar com toda a força para me recordar até nos mínimos detalhes para contar para você leitor, eu voava em uma espécie de rede virtual, em um buraco negro de códigos. Nadava em meio a eles, mesmo não os entendendo.

Olhei para mim mesma e notei os códigos que me formavam; códigos que definiam minha personalidade, cor de pele, códigos que formavam meu modo de pensar, códigos que definiam minha altura, peso, proporções corporais num total, cor dos olhos, cor do cabelo...

Eu sou real ou sou só esses códigos?

O que é ser real?

~"80,9%"~

O que é a realidade?

<-A realidade é apenas um lugar onde um ser consciente habita. Se não há seres conscientes, não há realidade >

A única coisa que me lembro após isso, foi que fui transferida para dentro de uma pasta digital, e que um download de 975 Petabytes, estava perto de ser totalmente baixado em mim.

-Ela está acordando -disse uma voz masculina.

Só sabia que estava deitada em uma cama macia, coberta com um lençol e com a cabeça em um travesseiro fofinho.

Quando abri os olhos lentamente, me dei de cara com Ray, ao lado de um doutor segurando uma prancheta. Quando olhei ao lado e notei um pendurador de soro, e vi uma agulha na minha veia, cheguei a conclusão de que estava no hospital.

-Acordou -disse Ray em um suspiro- Está bem?

-Ah... meu deus -disse me sentando, usando os meus braços para me apoiar- Ghh!!!

Havia me esquecido de que quebrei o braço esquerdo, e não consegui me apoiar direito para ficar sentada.

-Ei, calma, você fraturou o antebraço esquerdo -disse o doutor- Foi uma fratura diafisária média. Teve sorte pois o Rádio e a Ulna apenas se partiram. Como você quebrou ele?

Notei que meu braço já estava engessado, e com a ajuda de Ray para me sentar, apoiei com as costas na parede. Estava apenas com a camisa do colégio, com meu colete e meus sapatos em cima de uma mesa. Meus óculos estavam no meu colo. Quando os coloquei notei a lente esquerda rachada.

-Eu não lembro direito.

-Deve ter sido no acidente na quadra. Dizem que a estrutura cedeu e você e uma menina caíram -disse Ray- Eu estava passando ali perto e chamei os coordenadores. Achamos você e uma outra menina de cabelo azul.

-Menina de cabelo azul...? A Yuki!?

-Esse é o nome dela? -perguntou o doutor olhando para a porta do quarto.

Quando ele e Ray olharam para a porta, segui meu olhar junto e notei Yuki nela, espiando. Estava com as roupas do hospital, com uma haste de rodinhas carregando um soro, e bebendo um suquinho de caixinha.

Lullaby: DarkOnde histórias criam vida. Descubra agora