Questões disputadas sobre o Apateísmo

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LUCAS QUEIROZ

QUESTÕES DISPUTADAS SOBRE O APATEÍSMO

ARTIGO PRIMEIRO

Contra Renan

1. Primeiramente, ele diz: "A forma como devo agir na vida, as verdades sobre quem sou e como interajo com o mundo, continuam todas as mesmas com ou sem Deus, portanto não vejo como a existência dele poderia ser tão essencial;" E continua, justificando "por exemplo, se sei que determinada ação é ética por motivos lógicos, irei segui-la com ou sem a aprovação de um Deus, pois o certo é seguir a moral apenas por ser o certo, e não para agradar algum ser ou ter alguma recompensa em um possível pós-morte".

No entanto, eu contrario a tese. Provarei, contudo, que Deus é o princípio essencial e necessário da moral e da ética. Depois, irei refutar a tese que diz "para agradar a um ser ou ter alguma recompensa..." à luz do catolicismo.

1. – Pois dizemos que um homem é imoral, ou antiético, quando perfaz uma ação que vai contra as virtudes morais, ou contra a lei da ética. Sabendo disso, podemos seguir nosso raciocínio. Dizemos que algo é bom quando, em suas ações, produz uma coisa que é conveniente a si, já que produz uma perfeição. Assim, é bom pro fogo produzir o calor. Isso porque, o que produz algo inconveniente a si, causa um mal em si. Pois se o fogo produzisse a água, a água apagaria o fogo e, portanto, não haveria mais fogo, sendo inconveniente a ele. Por isso, dizemos que então o mal é a imperfeição de algo que deveria ter tal coisa perfeita. – Podemos conhecer a perfeição de uma coisa quando encontramos uma inclinação natural dela, uma vez que uma coisa é dita perfeita quando é capaz de produzir algo semelhante a si, pois em comparação a si, seria uma união e, portanto, uma comparação que implica perfeição. E mais perfeito que uma coisa que é capaz de produzir algo semelhante a si, é aquela onde a perfeição é o produzir algo semelhante a si. Assim, o fogo é perfeito enquanto esquenta, pois se esfriasse, lhe seria imperfeição. Ora, é um mal pro fogo esquentar, como dissemos. Logo, o que a coisa quer, é um bem, pois o que é operação, é um fim em si mesmo, assim, o fim da visão é o ato de ver, que é uma operação. Ora, o ato do intelecto é a intelecção. Mas além disso, é dito perfeito o intelecto que além de ser capaz de produzir o inteligível, o produz por necessidade, uma vez que tudo que faz por necessidade, o faz por essência, e toda essência de algo é semelhante a este algo de algum modo. Ora, não pode ser alguma coisa violenta, nem inconveniente, pois nada é contra sua própria. Portanto, o é pela natureza. Mas vemos, porém, no nosso intelecto, que ele abstrai e julga tudo aquilo que está em sua frente, pois tem faculdades cognoscitivas, onde, se não o fizesse sempre, seria como o olho que nem tudo vê, mesmo sendo todas as coisas a este olho, visíveis. Ora, a isto damos o nome de "impotência", mas pelo fato de haver impotência, há mal, e pelo fato de "nem sempre inteligir" ser um mal, então a perfeição natural do intelecto é "sempre que puder, inteligir".

Ora, se é bom que o intelecto sempre que possa, conheça, então o conhecimento é um bem, pois é sua perfeição, e é boa a pessoa que busca conhecer. De fato, pois dizemos que o ignorante é um homem mal. Assim, todas as suas ações que visem o atingir a verdade, então todas as ações seriam boas. E se todas as ações que fizesse não fosse para atingir a verdade, mas o prazer carnal, por exemplo, dizemos ser más as ações. De fato, o adultério é uma coisa má.

Alguém poderia dizer que um assassino pode matar para querer conhecimento, se assim o fizesse por um sacrifício. Assim, incorreríamos num absurdo ao dizer que esta ação foi boa, uma vez que buscou a verdade por meio do assassínio. Mas respondemos esta pergunta dizendo que tudo onde há frio, não há calor, e se esquentasse o corpo onde houvesse o frio, "empurraria" a friagem para longe para então residir o calor. O mesmo aconteceria com o frio em relação a calidez. Mas vemos que todas as pessoas que matam, agem pela ira. Porém a ira é contra a verdade, pois toda a ira é injusta, enquanto que a verdade não se aplica a nada que é injusto, portanto, não se aplicaria a ira. Porém, toda a causa existe em seu efeito, assim como o calor do fogo existe na coisa que ele esquentou. Então não poderia haver ira na busca contra a verdade, senão seria uma verdade que se alcança por causa da ira, o que é absurdo, porque na verdade não há ira. Portanto, todas as ações que hajam por alguns dos sete pecados capitais, que citamos aqui não por via religiosa, mas como todos os gêneros dos princípios dos males, não pode alcançar a verdade. Assim, se pela ira busca alcançar a verdade, dizemos ser alguma ação má. Assim, pelo fato do bem ser apetecível, e a verdade ser apetecível pelo intelecto em função do bem, que é difuso de si, podemos explicar, portanto, que toda a ação que vise o bem (onde todos os seres o fazem por necessidade) por meio de algo que não é bom, dizemos ser mal. Assim, a adúltera quer o prazer, que é bom, mas por meio do prazer sexual, que é mal, mesmo sendo bom aparentemente, seu recheio é o mal.

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