Questões disputadas sobre o Apateísmo - Parte dois

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ARTIGO PRIMERO – CONTINUAÇÃO

1. Ele diz: "Perfeição, pelo que sei, no framework de Aristóteles, é aquilo que seria ato puro e não teria potência alguma, ou seja, algo que já estaria no seu estado "último" no sentido de que seria incapaz de ser movido ou de sofrer mudanças, algo que nunca mudaria".

Mas eu respondo: Sim. Mas também digo que perfeito é a coisa que é capaz de gerar algo semelhante a si, como diz o Filósofo nos Meteoros. Assim, o fogo, mesmo quente, dizemos ser imperfeito quando não pode esquentar, mesmo que em si mesma seja quente.

E o que eu digo concorda com o que você disse, pois o ato último de uma coisa é a geração de algo semelhante a si, como diz o mesmo Filósofo em seus tratados de biológica.

2. E ele continua: "Já temos um problema aí, pois quando falo de moral ou bondade não me refiro a isso. Moral defendo como agir conforme a forma que deve agir, e dever defino da seguinte forma: quando o indivíduo está numa situação ele tem uma série de mundos possíveis (contingentes) futuros que é capaz de imaginar e que diferem entre si por conta de sua ação, dizer que ele tem um dever é dizer que existe apenas um ou um conjunto desses mundos futuros possíveis que são logicamente aceitáveis por ele (com logicamente aceitável quero dizer que ele é capaz de aceitar seguir o curso de ação que acredita que leve àquele mundo com base em argumentos bons)."

Mas eu respondo: O que você diz, porém, implica no que eu digo. Pois a moral não pode em si mesma ser o "modo de agir", senão enquanto for por causa do bem, que é difuso de si mesmo. Ora, mostramos ser o bem tudo aquilo que se apetece a razão de toda a ação e operação. Assim, algo só vem agir se for para agir para um bem ou algo ou por meio de algo que seja aparentemente bem. Porém o bem é a causa final mais universal possível. Mas também mostramos que o particular que quer o universal não o quer senão na medida em que ordenado por uma causa proporcionalmente universal. Assim, a moral depende de Deus, pois sendo bem a causa final mais universal, é guiado as particulares para isto por causa de d'Ele. Assim, sendo os argumentos "bons" aquilo que leva pro bom, os "deveres logicamente aceitáveis" implicam em Deus. Pois de fato, a Ética não é nada sem o bem ou o mal, pois sendo a ética o curso para a felicidade e a boa ação, é posterior ao que é bem.

3. Você diz: "Não acredito que, nesse sentido, se tornar perfeito seria algo moral, pois um ser perfeito não é capaz de sofrer mudanças e nem de mudar, consequentemente não é capaz de fazer argumentos, pois não é capaz de passar pela mudança do estado de não estar fazendo o argumento X para o estado de estar fazendo; eu não posso defender em um argumento que eu tenha um dever de estar num estado no qual seria incapaz de argumenta (se este estado for constante), pois caio numa contradição. Portanto não acredito que tentar alcançar a perfeição (se é que tal coisa é possível) seja moral."

Mas eu respondo: É pelo argumento, ou pelo juízo, que se alcança uma verdade. Portanto, o intelecto que não está com a verdade é dito imperfeito. Ora, o que é imperfeito está em potência para o perfeito, assim como a matéria está para a forma. Portanto, o intelecto nesciente pode formular juízos e argumentos. Além disso, tudo que tem duas verdades, onde uma se diz da outra por composição ou divisão, é possível compô-las ou dividi-las. Ora, duas verdades dividas estão em potência para uma verdade, onde compor as duas verdades significa estar em ato com ela. Portanto, o intelecto, com dois juízos, ao formar o raciocínio e uma conclusão, torna-se perfeito. Logo, a conclusão não convém.

4. Ele diz: "Além disso você afirma que apenas algo mais universal é capaz de ser o motivo (pelo que entendi não num sentido causal, seria mais num sentido do argumento da causa não-contingente de Leibniz, que afirma que algo contingente dependeria da existência de algo não-contingente para existir) da existência de algo menos universal. Talvez seja verdade, porém já existem coisas que, sendo mais ou menos universais que outras, não dependem delas para existir, até mesmo se forem mais concretas que elas, pois já são necessárias. Com necessário quero dizer não-contingente, ou seja, que sempre existiria em qualquer mundo possível, e a moral segue esta linha..."

Mas eu respondo: Digo que o bem é o mais universal das causas, porque sua razão se estende a todos os tipos de causas finais particulares. Mas toda a causa final está fora da definição da outra, assim, a felicidade está fora da causa final da verdade, e o bem, porém, fora da definição da felicidade, porém queremos a verdade por causa da felicidade, e a felicidade por causa do bem. Mas o bem, sozinho, não precisa ser limitado a uma causa final particular para ser bom. Assim, todas as causas que lhe seguem lhe são como contingentes. Porém, pelo fato do bem ser difuso de si mesmo, ele é causa final em si mesma, não necessitando de outras causas finais para ser causa final. Assim, eu não disse que o mais universal é causa do menos universal, mesmo que seja verdade. Porém eu digo que o menos universal sempre necessita, para ser, uma causa mais universal. Porque é mais universal aquilo que se estende para mais seres. Ora, a causa intermédia necessita da causa primeira, eu é mais universal que a intermédia, pois a intermédia causa somente a última, enquanto a causa primeira causa tudo. Portanto, tudo que é causado, necessita de uma causa universal. De fato, pois o que é particular, é o que causa somente uma coisa. Mas o que é causa particular é a causa que só tem um efeito e que nada mais causa. Porém, se assim fosse, não poderia os seres que nos rondam apetecer a um fim, pois assim iria causar alguma coisa e, portanto, a sua causa não seria mais particular.

5. Ele diz: "A moral é necessária, sua existência não é contingente e ela não depende de nada para ser a verdade necessária. Explico: É impossível que não haja um mundo ou um conjunto de mundos futuros possíveis que seja o único logicamente aceitável, se não houvesse, a própria pessoa que nega isso não seria capaz de fazer a negação, pois ela estaria afirmando que o mundo possível que tornou real ao fazer a afirmação não teria sido logicamente aceitável por ela. Em qualquer situação na qual exista ao menos um ser racional existe uma moral, e mesmo num mundo possível no qual não existisse ser racional algum, entenderíamos que caso existisse haveria uma moral, e que apenas a possibilidade de existência de um já faz com que haja algo que ele deveria fazer caso existisse. Assim conclui-se que a moral é uma verdade necessária, que existe eternamente em qualquer mundo possível, sem depender da existência de Deus." Eu pergunto: É necessário que exista em todos os mundos possíveis um intelecto? E ele responde: "não, há sempre s possibilidade de eles existirem, mas podem não existir em algum mundo possível."

Mas em contrário, eu respondo: Parece que você cita somente superficialmente o que é. Digo isto, porque o "dever agir assim" é "visando o bem", pois como eu disse, "agir" implica em "querer o bem". Mas, como dissemos, somente a causa maximamente universal (primeira) pode ordenar as coisas ao bem, senão, o que é particular iria apetecer por si mesmo o universal, onde no primeiro artigo provamos ser impossível. Logo, por uma redução ao impossível, pelo fato de que a moral existe em todos os mundos, implica que há uma causa primeira para todos os mundos. Ora, o que ordena muitas coisas é inteligente, porque tem razão do universal, e somente o intelecto tem razão do universal. Assim, esta causa primeira é inteligente. Logo, em todos os mundos possíveis existe um ser intelectual.

6. Logo, se refuta todas as teses.

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