Acordei com meu alarme tocando. Já havia adiado pela sexta vez, não queria sair da cama, não depois do que aconteceu nesta madrugada. Me sentia infeliz, não conseguia achar motivos para sair da cama.
"Im Yong, acorde já! Você vai se atrasar para o seu emprego e eu não vou te manter embaixo deste teto para ficar dormindo o dia inteiro." Meu pai falou e bateu na porta.
Mesmo sem querer, me levantei da cama e comecei a me arrumar para ir trabalhar. Fazem dois anos e meio que trabalho em uma cafeteria que ficava a dez minutos da minha casa. Quando terminei a escola, não quis ir para a faculdade imediatamente e tiraria um ano para descobrir o que eu realmente queria fazer para o resto da minha vida.
Porém os anos foram passando, minha mãe faleceu e com isso meus sonhos foram se tornando mais e mais distante. KangDae, meu pai, começou a exigir que fizesse algo da minha vida. E foi isso que eu fiz, depois de tanto procurar algum tipo de trabalho. Depois de tanto procurar consegui este trabalho. Não é o melhor de todos e nem o que eu queria, porém eu precisava de dinheiro e de uma ocupação. Não sinto vergonha de trabalhar em um lugar assim, afinal é um trabalho honesto.
Honestidade.Essa palavra me atingiu como um soco na boca do estômago. Depois de ontem, será que eu continuaria trabalhando honestamente? O que eu tinha na cabeça de aceitar a ajuda de um completo estranho? Devia ter fugido daquele beco e continuar correndo até não aguentar mais. Isso seria pior ou melhor? Estou tão confusa.
Depois de me arrumar, desci as escadas e me deparei com a mesa do café já posta. Não estava com nenhum apetite. Peguei uma fruta e fui em direção a porta.
"Yong, precisamos conversar." Meu pai disse.
"Não tenho tempo para isso, já estou atrasada." Coloquei meus tênis e sai.
Estava frio em Seul. As árvores já estavam sem folhas e as nuvens permaneciam cinzas durante o dia todo. Precisava esfriar a cabeça. Coloquei meu fones e caminhei em direção ao trabalho. Não importa o quanto eu tentava me distrair, ainda me sentia doente. Não doente mentalmente, mas doente fisicamente. Sempre dizem que quando não estamos bem com nossos próprios pensamentos, nosso corpo começa a adoecer. Era isso que sentia naquele momento.
*****
Estava na metade do meu expediente. Fora a fruta de café da manhã e um capuccino no almoço, não havia comido mais nada. Não sentia fome. A cafeteria não estava tão cheia. Esses dias cinzentos e frios afastam os consumidores. Isso era bom, para mim, claro. Não estava no clima para sorrir e conversar com outras pessoas. Queria poder silenciar meus próprios pensamentos, mas isso é algo que não posso fazer, infelizmente.
Estava perdida nos meus pensamentos, mas algo, ou melhor, alguém passou na frente do estabelecimento e me deixou intrigada. Pela sua estatura, parecia um homem. Ele estava vestido com roupas pretas e uma máscara cirúrgica no rosto. Quase não consegui ver seus olhos por causa do cabelo caído. Essa era a terceira vez neste dia que a mesma pessoa passa na frente da cafeteria.
Ele encarava a parte de dentro do estabelecimento. Durante a manhã ele ficou alguns minutos parado na frente da porta de vidro que dava acesso a cafeteria, mas deu as costas e foi embora. Já estava ficando com medo. Seria ele um dos meninos que conhecemos ontem? Jimin realmente disse que ficariam de olho na gente, mas este cara era estranho demais. Fui tirada dos meus pensamentos com o sino da loja indicando que havia chegado alguém. Procurei focar no meu trabalho e não na minha vida que começou a ir ladeira a baixo.
Quando faltavam menos de vinte minutos para o fechamento da cafeteria, outro cliente chegou. Olhei em direção a porta e vi V entrar. Meu coração começou a acelerar. O que ele está fazendo aqui e como ele sabe que eu trabalho aqui? Será que era ele que havia passado aqui na frente mais cedo? Ele caminhou até o caixa, parecia distraído. Parecia um jovem comum, não um criminoso. Caminhei em sua direção e fiquei parada na sua frente apenas o encarando. Não conseguia dizer uma palavra. Não esperava reencontrar com algum deles tão cedo assim.