Nascida em novembro, exuberante como toda sagitariana, ela mesma fazia questão de se anunciar dessa forma, "boa sagitariana", apresentava-se decidida, forte, livre. Tatuagem no braço e marcas na alma. Já vivera tantas coisas nem cabiam nos seus 23 anos. Um enorme coração que contia de tudo um pouco, amores, alegrias, compaixão (em excesso às vezes), algumas mágoas, algumas dores.
Falando em amores, temos dois que se destacam de longe.
Amor e devoção ao pai, por vezes era injusta consigo, pois as prioridades dela, eram as dele. Ela se cobrava por não poder fazer além do que já fazia, e ela fazia demais. O pai por sua vez, via mas não enxergava, de fato, tamanha dedicação, e deixava passar as oportunidades de ser grato, não em palavras, mas em gestos. A doação era tão rotineira que parecia obrigação. Ele acabava nem percebendo o quanto sacrificava a filha na busca de sua própria realização, talvez no íntimo ele justificasse pra si mesmo que o que buscava era para o bem de todos, enquanto isso, a pequena moça não queria tanto, só queria a paz do próprio pai, e quem sabe, ser notada como merecia. Mas permanecia firme sempre, incondicional, pois a esperança de retomada dos negócios da família lhe dava perspectivas que tudo acalmando seria enfim reconhecida.
Mas houve um amor que lhe fez mulher. Em meio aos negócios percebeu olhares, olhares que convidaram a fugir das reuniões, dos termos técnicos, dos números... Alguns olhares depois, lá estava ela, entregue, e esse amor preencheu brechas, foi amor que lhe deu colo quando preciso, adrenalina e aventura, ombro para o choro inesperado depois de um dia cansativo no trabalho. Sentimento mesclado de ternura e paixão de arder até os ossos, de pureza com uma pitada de ousadia.
Era um turbilhão de emoções, após algum tempo de namoro, veio o pedido de noivado, que foi aceito, seu pai não proibiu, mas teve medo pela primeira vez de perder sua pequena, tremeu na possibilidade de vê-la longe, contudo não negou sua benção, mas deixou claro as responsabilidades que viriam com o casamento, e passou a olhar de longe, sem interferências.
A certeza que era pra sempre apareceu e se firmou, até que de forma inesperada tudo dissipou. Por que partir tão repentinamente? Pensou ela! Mas ao perceber que ele nunca foi seu totalmente, na verdade ele não era de ninguém, nem dono da própria vida, ele não a trocou por nenhuma outra mulher, ele simplesmente se perdeu no seu próprio caminho, o jovem rapaz havia escolhido para si um caminho difícil de trilhar, e por amor, decidiu partir. Já havia tentado, sem sucesso, formas de voltar à sua vida "normal", mas lhe faltavam forças, sem conseguir veio a depressão, as tentativas de suicídio, o medo. Ela permanecia ao seu lado, antes de mais nada como melhor amiga, dividiu com ele de forma enternecida todo auxílio e carinho para que ele pudesse reagir. Ele não conseguiu.
Ele teve que partir! Primeiro ela pediu para ele ficar, depois o mandou ir.
Ela preferiu deixá-lo ir, mesmo que isso ainda lhe custe a capacidade de se entregar novamente. Hoje tem certeza que jamais amará da mesma forma, ao mesmo tempo que busca em outros o sorriso dele, mas a cada dia que passa ela está mais forte, a ponto de entender que o primeiro sorriso a ser buscado é o seu.
Como boa sagitariana, mesmo tendo motivos pra chorar, ela prefere sorrir, por vezes, de si mesma. Tem dias que vira o copo, tem dias que ora firme e forte, tem dias que compra coisas, tem dias que limpa caixas de lembranças. Mas todos os dias ela olha um pouco mais para o que precisa para ser grande, mocinha.
Já faz planos que antes não fazia, sequer se permitia. Hoje ela quer viajar por conta própria, com seu dinheiro e sua rota, com amigos ou não, ela quer ter o que contar. Já planeja a próxima tatuagem, a próxima faculdade. Está guardando dinheiro para construir o seu cantinho, e já mora sozinha. Planeja o seu futuro, trabalha para os seus projetos, retomou a antiga faculdade, tem uma fé enorme que tudo vai dar certo.
Ficaram somente as marcas das feridas, ela entendeu que as marcas que possui a torna diferente, especial, ela viveu e venceu. Ela é uma mescla de deixa a vida me levar com estou plantando pra colher.
E ela vai colher tudo de bom que a vida tem pra oferecer, é só questão de tempo.
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Elas por Ela
Non-FictionHistórias reais de mulheres anônimas. Uma a cada capitulo, um novo a cada semana. Você vai se surpreender com o que mulheres comuns são capazes de fazer!