Ela e a rival

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Há alguns dias que ela andava pela casa, inquieta mais nervosa que de costume. Os filhos perceberam isso, mas não sabiam identificar de onde viria a aflição.

Ela não falava, mas era percebido de longe que estava mais agitada.

O marido que chegava mais tarde em casa nos últimos meses, notava mas não perguntava. Apenas aproveitava para sair sob o pretexto de não ter paz em casa.

O motivo:

Há alguns meses que ela lavava roupas do esposo com marcas de batom, por vezes deixadas de propósito; um perfume diferente do seu, mas sempre o mesmo.

Não seria a primeira vez, mas dessa vez, era diferente. O marido estaria cada vez mais distante, sempre reforçava os defeitos da esposa, ela não conseguia mais ver em si nenhum valor, a não ser o de ser mãe.

A rotina:

Ela trabalhava em casa, fazia pequenos ajuste em roupas, cuidava dos três filhos e da casa. Amava o marido, mas não se deixava "passar por baixo".

Nos primeiros dias em que entendeu que essa mulher era diferente, passou a cuidar de si. Procurar de novo seu espaço, contudo estava mais difícil de recuperar o casamento que imaginara. O marido não saia de casa para assumir a amante, mas não a deixava.

O plano:

Após algumas brigas, tentativas de reatar, tentativas de tentar fazê-lo escolher entre as duas. Ela passou a seguir o marido. Mapeou cada passo. Conhecia a casa da outra, os lugares para onde ele e levava. Até que um dia ela o viu beijando a barriga da outra, com ternura.

Não dava para notar ainda, mas ela entendeu que ali havia uma gravidez. Pronto! Era realmente tudo diferente. Não era só mais um caso, era outra família.

A briga:

O casal estava conversando, uma rua antes da casa dela (a esposa), o que a fez tremer de raiva ainda mais, além de toda a situação, ela disse para si: Não consigo aguentar essa humilhação, na 'porta de casa'!

Desceu do táxi de onde observava tudo, surpreendeu o casal com fúria.

Olhou ele nos olhos e disse:

Escolha, ela ou eu?

Ele responde:

Vá para casa, agora! Hoje eu escolho ela.

A outra sorri sutilmente. como se houvera vencido a disputa.

Ela num ato repentino e certeiro, sem que ninguém percebesse ou sequer reagisse, deu três facadas em sua rival, que cai ali mesmo, junto com ela vai-se embora a vida que estava sendo gerada; a vida do marido e da esposa. Nada seria igual.

Ele foge, a amante morre, ela é presa.

Na cadeia ela fica todo o tempo da pena, quatro anos.

A família cuidou dos filhos por esse período.

Saindo da cadeia, poucos planos, mas a ideia era recomeçar. Foi embora da cidade, só, sem os filhos, sem dinheiro, sem destino.

Antes de ir disse para sua irmã:

Vou embora, mas volto para pegar meus filhos, preciso me reconstruir. Nada do que eu faça vai mudar o crime que cometi, mas não vou parar por isso, meus filhos já sofreram demais. Parecia que ia cair uma lágrima, mas ela não deixou.

Em outro estado retoma a vida, leva os filhos para perto dela novamente, os faz crescer, estudar. Apesar do passado, se esforça para fazê-los homens de bem.

Cinquenta e cinco anos após, ela que vivera em função dos filhos e nunca mais amou alguém. Senta em uma cadeira de balanços em sua varanda, olha para o céu e pela primeira vez pede perdão por tudo que fez, chorou contrita, silenciosa, com a alma. Foi talvez a segunda ou terceira oração de sua vida. A certeza é que foi a última. A neta que a encontrou morta, disse que seu semblante era leve, como nunca houvera visto.

Despediu-se ali da vida. 

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⏰ Última atualização: Jun 29, 2020 ⏰

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