Maldição da Verdade

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Março de 1931

—Niiiih!.— Arcturos resmungou com a voz infantil enquanto Niell pressionava sua bochecha gordinha contra a do irmão igualmente gordinha e agora rosada pela pressão da bochecha de Niell. — Tá doendo.— Completou envolvendo o irmão mais novo com os pequenos bracinhos, correspondendo. Ambos usavam roupas idênticas, um mini-terno azul muito parecido com a roupinha de marinheiro que Peter uma vez viu no mundo trouxa. Era bom ter irmãos, não se sentia excluído e rebaixado, não se sentia inferior apesar do medo constante de perder sua família, no final das contas um medroso sempre seria um medroso, ainda que fosse assim que Pettigrew se manteve vivo por tantos anos.

—'Odase'.— Respondeu com a voz abafada pela própria bochecha amassada, Niell E Arcturos eram idênticos, porém ele não conseguia se achar fofo enquanto achava 'Art' a coisa mais adorável do mundo, ainda que fosse o gêmeo mais novo a mentalidade de irmão mais velho já havia se estabelecido.

— Odase.— Repetiu a Burke mais nova que havia acabado de entrar, Calliope sustentava seus três anos e longas madeixas verdes naturais graças ao raro gene de metamorfomago com o qual ela havia nascido, algo mais raro ainda se devia a família Burke ter dois metamorfomagos na família, Niell ainda que exibisse seus olhos naturalmente onix como todos com o sangue Black nas veias ele havia apresentado a mudança de cor dos seus olhos para um dourado brilhante quando ficava especialmente feliz mesmo com a pouca idade já tivesse um grande controle das emoções graças ao longo tempo que ficou incapacitado como bebe, o que foi em sua opinião o inferno na terra, até mais que sua época como camundongo.— Art, Nii, viu o Sr. Nugles?— Perguntou errando o nome do próprio coelhinho de pelúcia que ela mesma havia nomeado.

— Quem?.— Arcturos Perguntou desviando os olhos Ônix para qualquer outro ponto que não fosse a irmã mais nova.

— Sr. Nugles!.— Calíope bateu o pé e desviou os olhos para Niell.— Nii, Você viu o Sr. Nugles?.—

'Não' Era o que Niell deveria falar, 'Não' era o que estava preso na ponta da sua língua.

— Nos escondemos ele debaixo da sua cama.— Seus olhos se arregalaram, ele não devia ter falado aquilo. Tapou a boca com as pequenas mãos, 'brincadeira' pensou em completar porém novamente não foi isso que escapou de seus lábios.— Junto com aquela urso feio de um olho só.

Agosto de 1932

Era uma preocupação constante dos dois Burke's mais velhos, e também da família Black já que Niell tinha sangue Black.

Arcturos havia tido sua primeira manifestação magica aos quatro anos, também primeira vez que tentaram separar ele do irmão mais novo, já que eles estavam absolutamente sempre juntos, e em um ataque de raiva ele fez três adultos voarem contra a parede.

Calíope nasceu com as madeixas verdes e nunca foi um problema sobre sua magia, já que ela até mesmo era sensível demais quanto a isso.

O problema era Niell, o filho do meio não tivera nenhuma manifestação mágica e mesmo seus olhos nunca mais mudam de cor desde que seus olhos haviam brilhado em um dourado por alguns poucos segundos, eram poucos os abortos que conseguiam manifestar algum traço de magia em situações de vida ou morte, mas ainda sim eles existiam, e a comunidade puro-sangue já estava começando a comentar sobre a possibilidade do pequeno Niell ser um aborto.

Herbert e Belvina não queriam abrir mão do filho, nunca os deixaram sem seus cuidados, porém por serem puro-sangue que tiveram uma criação estrita eles não sabiam como lidar com isso, mesmo que abandonar seu amado filho não fosse uma opção, claro que a pressão que os Blacks estavam fazendo sobre eles não ajudava, e isso só serviu para afastar ainda mais as famílias.

Um grito feminino ecoou por toda a mansão Burke chamando a atenção de todos seus residentes. As três crianças estavam brincando do lado de fora naquele horário e isso absolutamente não era bom sinal.

Calíope chorava assustada segurando o pequeno braço direito que estava banhado em sangue, uma enorme ave branca a havia machucado assim manchando as patas e garras de vermelho, o cabelo antes verde de Calíope agora tinha uma cor amarelada e fraca pelo medo que ela sentia.

Medo, Niell ou melhor Peter estava acostumado com esse sentimento, era tão natural para ele quanto respirar, porém não era por si mesmo mas sim por Calíope, sua adorável e irritante irmã mais nova que chorava de dor assustada pelo enorme pássaro, um Pássaro-Trovão, Niell poderia não ser o maior estudioso do mundo mas desde sua reencarnação havia adquirido um gosto especial por ler e lembrava sobre aquele animal, uma ave mágica nativa da América do Norte, elas podem sentir o perigo, e até criar tempestades enquanto voam e mais importante, tinha enormes garras comparado a uma Caliope de quatro anos que mal tinha o tamanho de sua pata direita a qual estava erguida para mais um ataque o que fez Niell sem pensar duas vezes se lançar na frente do corpo da irmã.

Como ele não tinha visto aquela enorme Ave? se perguntou quando sentiu as garras rasgarem sua carne, todo seu braço direito, do ombro até os dedos pequenos.

Peter Pettigrew nunca jogaria seu corpo como escudo de alguém, nunca... mas ele o havia feito, sem pensar duas vezes.

Ouviu os gritos de seus pais quando fixou seus olhos ônix nos olhos dourados da enorme ave enquanto via seu irmão gêmeo se aproximar sem pensar duas vezes, mas logo os dois corpos estavam voando contra os de seus pais, Arcturos e Calíope, Niell não se lembrava a última vez que havia usado magia... em sua outra vida talvez?. Ainda sem tirar os olhos da ave sentiu uma leve rajada de vento contra seu rosto quando ela pousou ambas as patas próximas a seu pequeno corpo, mais uma morte, talvez essa fosse mais digna já que ele não se arrependia de nada. Algo que chama sua atenção mais que sua possível e inevitável morte eram os olhos assustados do pássaro, ele apenas estava assustado...Niell não o culpava, pelo contrário, ele entendia.

Ele entendia como o medo poderia ser perigoso e doloroso.

1 de setembro de 1938

—CHEGOU!— O grito de Arcturos ecoou pela enorme sala, ele ainda usava seu pijama preto, em uma mão ele tinha duas cartas de Hogwarts e na outra ele segurava a mão de um Niell sonolento que coçava os pequenos olhinhos onix ainda atordoado por toda aquela movimentação.





Crucio: Peter PettigrewOnde histórias criam vida. Descubra agora