Estrada (Parte II)

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- A viagem será longa, não vai mesmo querer conversar? - Vulk empurra seu ombro no ombro de Sofia.
- Quem quer conversar com uma paciente de um hospício? Na verdade basta ser eu mesma para alguém desistir de um papo comigo.- Sofia diz olhando pela janela do carro.
- Você é um pouco dramática, não é Sofia?
- Com certeza não sabe nada sobre mim.
- Posso saber mais do que pensas. Mas eu conheci a sua mãe alguns anos atrás, e tu lembras muito ela. Até essa armadura de proteção que te impede de se abrir com qualquer outra pessoa, as vezes você mesma não se conhece.
- Como é seu nome mesmo?
- Anastasia Vulk.
- Nunca vi alguém com esse nome.
- E talvez não verá.

Sofia se sente enjoada da viagem de carro, já fazem algumas horas e ela está se segurando para não vomitar no carro caro e sofisticado daquela estranha que a estava levando para algum lugar que não fazia ideia de onde era e o que era. Mas não queria perguntar, não agora. A magia do pôr-do-sol não poderia ser quebrada por uma conversa tensa e fria. Algo grita dentro de Sofia, desta vez não é os seus desejos obscuros, mas algo parecido com instinto. Ouve como se fosse sua própia voz dentro de sua cabeça falando baixinho mas claramente : '' Isto será melhor para ti '', ela quer ouvir e atentar para essa voz, mas ela pode confiar em si mesma? Depois de tudo que sua mente lhe armou? Por um instante, ela duvida de tudo. Não apenas de sua '' sanidade'', mas de tudo aquilo que faz ou já fez parte da sua vida, os momentos, sentimentos, pessoas e expêriencias. Tudo se tornou consideravelmemte questionável e sua mente se enche de interrogações.

- Nossos pensamentos podem querer nos desviar do verdadeiro foco.- Vulk diz olhando para Sofia enquanto dirige.
- Perdão?
- Não entendeu o que eu disse?
- Entendi, mas por que disse isso?
- Você parece se refugiar dentro de sua mente, Sofia, eu já fui jovem e já questionei minha vida diversas vezes, o seu erro não te define. - Vulk diz - Quantos anos você tem mesmo? Ainda dá tempo de recuperar muita coisa, de melhorar e eu estarei aqui, por você.

- O que realmente é esse lugar? Um Hospício, internato ou ambos?
- É um lugar para garotas como você.
- Loucas?
- Garotas com potenciais altos para grandezas. Com capacidades incríveis.
- Eu sou uma delas?
- Ao contrário estaria neste carro?

Aquela conversa poderia ter mil significados, pensou Sofia. O sol já acenou o seu adeus e a lua já se estirava no céu. Seus olhos começam a pesar, o sono já havia de vencer. Por muito tempo, esse era um momento de alarme para Sofia, os seus sonhos eram indesejáveis por ela e precisava de algumas pílulas para conseguir descansar sem que sua mente a pertubasse. Sem pílulas e dentro de um carro estranho com uma mulher estranha, mas ela sentiu segurança, afinal,sentia que estava em boas mãos. Lentamente Sofia foi adormecendo e seus sentidos se apagaram.

Gritos distantes. Uma voz gritava alto e em pânico. Um calor subia por suas pernas e sente como sua cabeça estivesse sendo partida ao meio. Aos poucos seus olhos vão se abrindo e a voz mais alta grita. Sua visão está se recuperando aos poucos, mas mesmo embaçada ela consegue ver algo : parecia fogo. Volta em si mesmo e se depara de cabeça para baixo no carro capotado e em chamas. O cheiro da gasolina que corria pelos destroços e um fogo ainda pequeno mas que quando cruzasse o caminho daquele líquido, a queimaria viva se não saísse de lá a tempo. Olha ao seu redor e se depara com Vulk, seu pescoço estava quebrado e seu rosto tinha sido transpassado por partes do carro. Seu cinto está preso e suas pernas parecem não responder ao seu comando, ela grita o mais alto que pode por socorro mas parece não haver ninguém por perto. Aquele seria seu fim? Ela já havia experimentado esta sensação, mas conseguirá escapar desta vez? Tudo parecia levar para uma única conclusão : a explosão daquele mustang. Mas Sofia ouve passos do lado de fora, olha pela janela e vê como se fosse um homem. Seu pedido de socorro desesperado ali é atentido e ele a tira dos destroços, ela está fraca e abatida. 

Woge Hexen: HierarquiaOnde histórias criam vida. Descubra agora