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Lá estava ele outra vez naquele lugar tão conhecido, aquela plataforma sempre cheia agora estava totalmente vazia em um silêncio mórbido. Aquele velho trem com seu vermelho característico, que havia trazido tanta paz e conforto para o jovem de olhos verdes, agora simplesmente lhe trazia lembranças indesejadas e uma sensação de vazio.

Harry estava estático, os poucos alunos que passavam o encaravam mas não se atreviam a lhe dirigir a palavra, seus olhos estavam frios e distantes, como se ele fosse uma casca, morto por dentro. Depois de um tempo em transe, o apito do expresso soou trazendo-o de volta a realidade, Harry arrastou seus pés o mais rápido que pôde para dentro do trem, ele não queria encarar Ronald ou Hermione.

Entrou em uma das últimas cabines tentando não ser notado, largou seu malão no chão ao lado de suas pernas e encarou o canto onde deveria estar sua amada Edwiges, seu coração se apertou e ele logo desviou os olhos para a janela soltando um suspiro cansado. Os meses pós-guerra foram os piores, tudo que o garoto ignorou durante a guerra veio à tona, toda a dor e angústia que precisou ser esquecido para a batalha e o peso de carregar o título de "Salvador do Mundo Bruxo".

O mundo precisou do Garoto-Que-Sobreviveu mas não de Harry Potter, ninguém se importava com o pobre garoto que levou em suas pequenas costas todas as expectativas e esperanças de todos os bruxos e bruxas, ninguém se lembrou que ele não passava de uma criança e nunca o trataram como tal, apenas o amavam pelo fato de ele ter feito seu trabalho como o Garoto de Ouro mas não por simplesmente ser Harry. A guerra o mudou muito e o fez repensar coisas que nunca havia notado.

Dumbledore era um hipócrita manipulador. Harry chegou a conclusão de que sempre fora enganado mas não podia jogar toda a culpa no velho diretor já falecido, ele se deixou seduzir pela ideia de ser amado. Dumbledore queria apenas uma arma, e para convencê-lo a lutar pelo "Lado Certo" jogou com seus sentimentos, ele lhe deu pessoas importantes, lhe deu vilões para odiar e ídolos para cultuar.

Era cômico o fato de Dumbledore se intitular como o guerreiro que lutaria pela igualdade de todos, mas sempre ter sido um velho preconceituoso. Repudiava tudo que fosse contra seus ideais e faria qualquer coisa para destruir quem o contrariasse, simplesmente um Voldemort protegido por sua pose de "Bom Velhinho". Apesar de tudo, Harry nunca o odiaria, não conseguia, apesar de todo seu ressentimento ainda nutria um certo carinho pelo ancião.

Harry virou sua cabeça a tempo de ver uma cabeleira ruiva passar pela porta e não pôde deixar de pensar em Gina, afinal, era a garota que ele pensava que seria a mãe de seus filhos até poucos meses. Sim, pensava que teriam uma vida digna de contos de fadas e seriam felizes para sempre, mas, novamente ele se viu tentando agradar a todos e viver uma vida que não era dele. Ele não amava Gina e ela claramente amava o Garoto-Que-Sobreviveu, Gina não era uma pessoa ruim e não tinha culpa de ser seduzida pelo herói que todos conheciam, mas Harry não era essa pessoa e não querendo mais levar essa farsa adiante ele simplesmente colocou as cartas na mesa e Gina apesar de não ter reagido bem teve que aceitar, Harry não estava para discussões.

Divagando novamente, o garoto se deixou levar ao dia em que ele realmente teve que admitir que não sabia de nada: o julgamento dos Malfoy.

Harry havia sido convocado a comparecer aos julgamentos dos Comensais da Morte e apesar da falta de vontade, se obrigou a ir. Os julgamentos correram normalmente e todos os Comensais sem exceção foram condenados, o que para Harry não lhe interessava nem um pouco e em sua opinião era mais que merecido.

O último julgamento começou e Potter nem se deu ao trabalho de ouvir os nomes dos réus começando a divagar sobre a falta que sentia de sua cama. Até que, pelos cantos dos olhos observou uma cabeleira platinada inconfundível adentrando a sala. Draco Malfoy, antes conhecido por sua impecável postura e beleza exuberante que fazia jus ao DNA Malfoy, agora não passava de uma sombra de seu antigo eu.

O Garoto Que RenasceuOnde histórias criam vida. Descubra agora