1 - Tropeçando nos meus própios pés

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2010

               E lá estava eu chamando um táxi enquanto minha mãe lutava para não ter o bebê na sala de estar, era 15:30 da tarde quando o carro  amarelo buzinou em frente a nossa casa, peguei nossas bolsas e corri colocando elas dentro do carro, então voltei com pressa para ajudar minha mãe, pelos gemidos e alguns berros as contrações estavam fortes. Tranquei a porta da frente assim que saí e passamos pelo gramado de casa rapidamente até chegarmos no táxi, no banco de trás ela apertava minha mão com força. 

- ACELERA, PARA O HOSPITAL O MAIS RÁPIDO POR FAVOR!!! - gritei apressada e quase ficando desesperada

- Ok senhorita, se acalme - disse o motorista enquanto ele deu a partida

- NÃO ME MANDE EU ME ACALMAR NÃO É VOCÊ QUE VAI TER UM NENÉM. NUNCA MANDE UMA MULHER SE ACALMAR PORQUE ELA FAZ TOTALMENTE AO CONTRÁRIO

- AAHHH - minha mãe gritou enquanto segurava minha mão com força

- Mãe fica calma, já vamos chegar. Seja forte - a última frase também servia para mim mesma - respire comigo tá bom?

- Tudo bem filha... aaaahh! Pelo visto seu irmão é um apressadinho.

               E assim foi todo o trajeto de quinze minutos, eu tentando manter a tranquilidade e segurança para minha mãe que estava muito nervosa e ansiosa. Assim que saímos do carro duas enfermeiras vieram nos ajudar. enquanto eles colocavam minha mãe numa cadeira de rodas, eu pegava nossas coisas e pagava o taxista. Passei  pela porta principal do hospital cambaleando com quatro bolsas nos braços e segui minha mãe que já estava sendo levada para o centro cirúrgico, passamos pela recepção e entramos num corredor com uma porta escrita "Entrada somente autorizada" mas não estava nem ai 

- Uou uou uou minha princesa, aonde você pensa que vai? Essa parte é só para os  adultos, além do mais você tem que dar algumas informações básicas na recepção - Disse uma das enfermeiras que estava conduzinho minha mãe, eu olhei preocupada para minha mãe que se distanciava no fim do corredor - Meu bem não se preocupe, ela vai ficar muito bem. Venha comigo você realmente precisa ir na recepção.

               Ao chegar na recepção vi que havia uma fila se formando, entrei na fila e aguardei pacietimente até que chegou a minha vez. Dei todas as informações necessárias da minha mãe e esperei por muito tempo. Depois de uma horas totalmente entediada e cansada de ir na balconista da recepção ir perguntar sobre minha mãe e nada mudar na frase "Ela está na cirurgia, não se preocupe minha queridinha". Um mal pressentimento era o que eu sentia. Mais cinco minutos se passaram  e um médico apareceu no fim do corredor e logo senti um aperto no coração. 

- Você é Athena Peletier? O nome de sua mãe é Emma Peletier? - perguntou o médico com uma expressão nada boa

- Sim, aconteceu alguma coisa? Minha mãe está bem? O bebê está bem? O que está acontecendo? Por favor me fale - disparei tudo muito rápido, enquanto ele me lançava um olhar de pena - Doutor por favor...

- Houve uma série de complicações no parto de sua mãe - confirmei o nome da minha mãe com a cabeça enquanto sentia meu coração parar e acelerar ao mesmo tempo - Infelizmente o cordão umbilical estava enrolado no pescoço de seu irmão, quando conseguimos desenrolar ele teve uma parada cardíaca e não resistiu, sua mãe perdeu muito sangue e não sei se você tem visto os noticiários mas estamos em uma crise, não temos no banco de sangue o mesmo tipo que sua mãe corresponde e ela veio a óbito, pensamos que você poderia fazer uma doação de emergência mas vimos na ficha que vocês não tem o mesmo tipo sanguíneo...   - enquanto o médico continuava a falar coisas de como ele e sua equipe fizeram o possível para isso não acontecer, as lágrimas começaram a descer, e rapidamente eu já estava em estado de choque total. Minha visão ficou turva e apaguei.

****

               Minha mãe sempre dizia que eu era durona. Quando meu pai morreu muitos anos atrás eu tive que ser firme por minha mãe, ela entrou numa fase de negação total e só saiu depois de muita luta. Aguentei bullying na escola e entrei em muitas brigas... tudo por raiva de mim mesma por não ter derramado nenhuma lágrima se quer na morte do meu pai, sentia como se nada importasse. Anos depois da morte do meu pai minha mãe estava finamente bem e sóbria,  fizemos um almoço juntas e foi o melhor dia da minha vida em anos. Minha mãe se reergueu das cinzas e estava feliz de novo, namorando um cara super bacana que conheceu no corredor dos enlatados no all smart, policial e muito gentil, seu nome era Shane.
            Shane era um cara engraçado, adorava fazer piadas o tempo todo, brincava comigo de polícia e ladrão, me ajudava no dever de casa e eu gostava muito de ter uma figura paterna depois de tanto tempo, ele nunca seria meu pai disso eu sabia mas aquele último fio de esperança em ter uma família completa fazia meu coração bater mais forte. O relacionamento dele com minha mãe já estava no sétimo mês quando numa certa manhã se sentiu enjoada da carne que estava preparando para o nosso almoço e foi na farmácia comprar remédios e voltou com uma sacolinha a mais que não quis me mostrar, entrou no banheiro e saiu de lá com um rosto que eu não conseguia decifrar, era uma mistura de choque com felicidade (eu acho), e então ela soltou a frase que mudaria nossas vidas para sempre "estou grávida!".
            Shane se mostrou um temendo filha da puta, assim que minha mãe contou para ele num jantar super romântico e organizado por minha pessoa ele soltou um "Emma vou ser sincero com você, eu não quero filhos agora e gostaria que você abortasse", depois disso entraram numa discursão muito feia e Shane mostrou suas garras, quem diria que o cara bacana e legal poderia falar tanta merda, tudo terminou com minha mãe deu um tapa nele e eu nunca mais vi a cara do desgraçado - para a sorte dele - se eu o visse provavelmente desceria o cacete nele.
            E agora estou aqui sendo amparada por enfermeiras no setor de atendimentos não urgentes, em estado de choque e pensando como minha mãe mesmo depois das palavras tão cruéis daquele imbecil, juntou forças e teve a coragem de ter esse filho, meu irmãozinho que eu nunca conheci, e nem vou. Agora minha mãe está morta, meu irmão está morto e eu desejo estar morta também, mas não estou. Provavelmente irei morar com minha tia e o esposo nojento dela, mas em compensação tem minha querida prima Sophia... Fui tirada dos meus devaneiros com gritos de desespero e agoniantes, barulhos de tiro e gente correndo para todo lugar e de relance no final do corredor, eu juro, vi Shane colocar uma maca na frente de um quarto. Um soldado armado até os dentes do nada aparece na minha frente e me puxa pelo braço

- O que tá acontecendo?

- Vamos garotinha aqui não é mais seguro, corra... CORRA!

Reencounter Of Love || Carl GrimesOnde histórias criam vida. Descubra agora