II.

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Passei a noite em claro pensando sobre tudo que vem acontecido e tomei uma decisão; pela manhã irei faltar a escola para ir à fábrica.

  Já eram cinco horas, e eu estava arrumando uma mochila com coisas que talvez precisasse quando escuto altas e fortes batidas na minha porta.

-- Abra a porta querida, vamos tomar café. – Conseguia perceber a mentira e calúnia em suas vozes. Como eles falaram aquilo ao mesmo tempo?

  Iria ter que sair pela janela, a casa era baixa então não teria muitos problemas. Peguei tudo que precisaria, fui a janela ainda escutando as batidas e vozes distorcidas de meus pais, tomei coragem, e pulei. Incrivelmente, caí em um perfeito salto; acho que os oito anos de ginástica realmente fizeram-se úteis.

  Ao cair já procurei por meu carro, e infelizmente ele não estava mais na garagem, teria que correr. Escutei passos dentro da casa pelas escadas e foi nesse momento que sabia que não teria outra oportunidade. Parti a correr, corria pelas ruas como o vento, mesmo com todas as minhas preocupações, ainda gostava dessa sensação, sou boa nisso, amo sentir o vento em meu rosto e tocar o chão tão rápido, aquele que nem conseguia sentir direito.

  Estava correndo e quando virei uma esquina, bati de frente com alguém., aparentemente alguém grande. Um homem, não pude deixar de notar seu corpo forte e seu rosto delicado.

-- Você consegue me ver? – Perguntou ele, me deixando completamente confusa, como não estaria enxergando-o?

-- Sim, por que não conseguiria? – Me pronunciei tentando não soar estúpida ou rude.

-- Bom, ande mais devagar, irá acabando por matar alguém. – Ele disse antes de ir embora, sem explicações.

  Não queria mais preocupações, então só segui meu caminho, resolvendo adotar sua indicação e ir mais devagar.

  Me mantive andando até uma hora da tarde, quando consegui avistar a fábrica. Logo, segui a seu encontro. Cheguei na porta e senti alguns calafrios, a mesma sensação de atração que havia sentido quando desmaiei no hospital. Abri o enorme portão e era exatamente como na minha visão. Rapidamente fui ao local que supostamente o livro se encontraria. Porém, nem tudo são flores. Sim, ele não estava ali. Comecei a ficar com medo, enxergar turvo e já não conseguia falar. Estava tendo um ataque de pânico, algo que sempre tenho quando estou muito nervosa e aflita.

  Me lembro da imensa dor de cabeça, e que acabei dormindo ou desmaiando, não tenho certeza. Só sei que agora estou acordada, não sei quanto tempo fiquei apagada, só sabia que já era de noite, o sol já havia ido embora. Com a pouca luz da lua, consegui enxergar algumas coisas, e uma delas foi uma sombra que me encarava em frente a porta da construção. Paralisei, não sabia o que fazer ou para onde correr, mas meus pensamentos foram interrompidos por uma voz familiar.

-- Você de novo? – Disse o homem que trombei mais cedo, saindo das sombras. – O que faz aqui, menina? É um lugar perigoso, não faz ideia das coisas que pode encontrar aqui.

-- O livro deve ser a única coisa que não consigo encontrar... – Sussurrei para mim mesma.

-- Um livro? Este livro? – E logo tirou o mesmo da mochila que carregava.

-- Como conseguiu isso? Isso é meu! – Disse indignada e indo a encontro dele para recuperar o livro que nunca foi meu.

-- Nossa, mas quanta grosseria Olívia. – Ele disse e meu rosto ficou um completo ponto de interrogação. Não sabia se podia confiar nele ou não, nunca havia dito meu nome. Algo estranho estava acontecendo.

-- Meu Deus, acalme-se, eu vi seu nome na sua carteira dentro da mochila. – E foi aí que percebi que minha mochila não estava comigo, mas estava com ele. E sim, ele havia tirado o livro de dentro da minha própria mochila. Fiquei mais confusa ainda!

-- Me devolva minhas coisas! Não te dei nenhum direito de mexer na minha mochila. – Falei com a intenção de ser grosseira. E ele finalmente me jogou minhas coisas. Olhei dentro da mochila, e o livro estava lá. Respirei fundo, estava totalmente aliviada. De alguma forma, sentia que precisava daquele livro, e precisava protege-lo.

-- Obrigada. – Falei sorrindo e caminhando para a porta, quando lembrei de algo. Não tinha lugar para dormir, e muito menos dinheiro para alugar um quarto em algum hotel. Fiquei estática, pois mais uma vez não sabia o que fazer.

-- Pode dormir na minha casa. – Ele disse. Como raios ele sabia que precisava de um lugar para dormir? Sem me dar tempo de responder, ele continuou falando – Pode confiar em mim, no momento sou a única pessoa em que pode confiar. Ao chegarmos na minha casa irei te explicar sobre o que vem acontecendo com você, pois acredite, já passei por isso. O livro irá te ajudar.

  Não entendi muito bem, mas me sentia completamente atraída por ele, e sabia que podia confiar. Além do mais, o que tinha a perder?

-- Tudo bem, mas antes me fale seu nome.

-- Sou Dylan, prazer em te conhecer. – E então ele veio na minha direção para me cumprimentar. Comecei a sentir calor, e quando apertei sua mão, ele deu um grito de dor.

-- Me desculpe! Ainda não consigo controlar isso. – Eu disse olhando sua mão toda queimada. De repente, sua mão começou a cicatrizar, em uma velocidade inumana. Olhei aquilo maravilhada, como isso era possível?

-- Irá aprender a se controlar, e a fazer isso também. Lidar com seus poderes e sua alta capacidade de cura vão ser problemas para depois, agora vamos sair daqui.

  Poderes? Capacidade de cura? Agora só falta ele me falar que dragões realmente existem, pensei.

-- Não, eles não existem, mas os principais monstros que devemos nos preocupar agora são os humanos. – Disse ele após de alguma forma ter lido minha mente.

  Teria que aprender a lidar com isso.

Veias brasantes Where stories live. Discover now