Hearts full of Stars - Draco Malfoy

Epílogo.

A Floresta Negra ficou silenciosa. Só os passos e a respiração acelerada de Astrid faziam eco por toda a extensão do terreno. A capa preta garantia que estaria camuflada, parecia quase um vulto serpenteando entre as árvores e cada vez mais se aprofundando na escuridão. Acima de sua cabeça, no topo das árvores podia sentir a presença de algo sobrevoando. Comensais. Não tardaria para eles avistarem a sombra que percorria ali, logo embaixo dos seus narizes. A punição seria terrível, ela sabia, mas precisava ver aquilo com os próprios olhos. Precisava ter a certeza. Lidaria com os castigos depois mas antes, tinha que aliviar a mente.

Ele não pode estar morto, certo?

Astrid correu com toda a força que restou no seu corpo depois do combate. Estava com uma aparência irreconhecível, se comparada com semanas atrás. A pele pálida ficou coberta em cicatrizes, arranhões e sangue. Sangue que não era só seu. Se antes tinha os lábios vermelhos, escarlates, agora estavam num tom roxo e gelados. Os olhos verdes hipnotizantes continuavam ali, mais vazios e macabros do que nunca com a única diferença que haviam escurecido. A única coisa que permanecia intocável era os fios longos e ruivos, e mesmo assim estavam todos bagunçados contra o rosto dela. Mesmo assim continuava impecável, com a expressão mais ácida do que alguma vez esteve e mais tomada pelo poder que antes.

Quando chegou no limite da floresta, caminhou até um ponto íngreme que parecia tão comprido a ponto de não conseguir enxergar o final. Não conseguia ver mais nada além dali, apenas escuro e por momentos hesitou descer. A queda seria dolorosa provavelmente e não conseguia raciocinar algum feitiço útil no momento, deu um passo para trás. Então ele apareceu, de novo.

Por breves segundos encarando o escuro e correndo contra o tempo, Astrid fechou os olhos se desconectando do mundo externo. Seus sentidos pararam de trabalhar e sentiu um clique na mente, seguido por um flash. Pela primeira vez em semanas um pequeno sorriso tomou os lábios pálidos dela e mesmo com a sensação térmica dali, seu corpo aqueceu. Ele estava lá, ferido e esgotado mas ainda assim estava ali em seu colo com o típico sorriso torto que costumava dar. Quase como se algo pressionasse seu peito ela abriu os olhos e puxou algum ar, sentia a respiração ali ficar rarefeita com o passar dos minutos. Sem sequer olhar para trás e considerar voltar, Astrid deu alguns passos a frente e escorregou para as trevas.

Seu corpo foi abraçado por elas, como se tivesse recebido as boas vindas e um arrepio doloroso tomou sua espinha. Foi assim durante toda a queda, até finalmente rolar e cair de barriga no chão. O estrondo do tombo foi a única coisa que ela escutou. As duas vezes que tentou levantar foram inúteis, visto que tinha um enorme corte e sangramento na perna esquerda desde a cintura até o joelho e doía como o inferno, mas não era prioridade agora. Respirou fundo e mordeu a língua quando forçou o corpo para cima, sentindo que rasgaria ao meio com esse simples ato.

O silêncio do lugar era agonizante, não havia nada por ali num raio de 2km e ela não sabia se ficava aliviada ou preocupada. Tinha a certeza que os comensais que sobrevoavam a floresta não a veriam, afinal as copas das árvores cobriam aquela parte por completo e nem sequer um raio de sol aquecia ou iluminava aquele lado. Era apenas uma escuridão palpável e o frio cortante. Só.

Ela abraçou o próprio corpo junto com a capa, tentando acalmar os tremores, e começou a andar em direção ao nada. Tentou olhar em volta, estreitou os olhos e até esticou a mão para tocar algo que a ajudasse. Nada. Suspirou pesado com a sensação de ter os pulmões esmagados e continuou andando em frente, seguindo seu instinto, cada vez mais se aventurando nas profundezas da Floresta Negra. Quando começou a sentir que estava andando em círculos decidiu recorrer a única solução que não queria utilizar, não agora.

— Lumos. - Num estalar de dedos, uma luzinha dançou entre seus dedos e com um movimento de mão ela tomou liderança e saiu na frente, abrindo o caminho.